Em depoimento na CPI dos Bingos nesta terça-feira, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares voltou a dizer que é só dele a responsabilidade dos empréstimos de mais de R$ 55 milhões feitos pelo partido, reafirmou que a direção do partido não sabia dos empréstimos e negou mais uma vez que houvesse caixa 2 na campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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Delúbio já havia assumido sozinho a responsabilidade pelos empréstimos em depoimento nas CPIs dos Correios e do Mensalão. Delúbio não tem proteção de hábeas-corpus e negou-se a assinar um termo de compromisso com a verdade no início da sessão.

Em resposta ao senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), o ex-tesoureiro confirmou que Paulo Okamotto pagou dívidasdo presidente Lua com o partido. Delúbio explicou que Lula havia nomeado Okamotto como procurador para resolver suas questões financeiras com o PT. Delúbio disse também que Lula era funcionário do PT desde 1990 e, quando foi eleito presidente da República, Okamotto foi encarregado de tratar de sua demissão, tendo também saldado suas dívidas.

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- O PT apresentou algumas dívidas não saldadas. Okamotto pagou a dívida. Cobrei de Okamotto e ele pagou - afirmou Delúbio.

Delúbio também negou que o PT tenha recebido dólares de Cuba. Negou ainda ter qualquer relação com o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz, acusado de achacar o bicheiro Carlos Cachoeira. Aos senadores da CPI dos Bingos, Delúbio disse que Waldomiro não participou da campanha presidencial de 2002. Delúbio negou conhecer também o empresário Roberto Carlos Kurzweil, acusado de arrecadar dinheiro de bingueiros angolanos para a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Sobre os empréstimos ao PT, o ex-tesoureiro afirmou que a Executiva Nacional delegou a ele a busca de uma solução para as dificuldades financeiras do partido. Negou todo o tempo que o ex-presidente do PT José Genoíno tenha autorizado expressamente a operação.

Negou também que o empresário Marcos Valério tenha participado da campanha de 2002, ao contrário do que disse o ex-secretário-geral do partido, Silvio Pereira, em entrevista ao jornal "O Globo". Delúbio afirmou que foi apresentado ao empresário mineiro em outubro de 2002, depois das eleições. Acrescentou que foi ele Valério a pedir os empréstimos, "numa relação de confiança":

- Eu tinha, por ser dirigente do PT, a credibilidade interna do partido para fazer isso, então a responsabilidade é minha - alegou.

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O presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB), questionou o excesso de confiança entre Valério e Delúbio. O presidente da CPI lembrou que se passaram cinco meses (de outubro de 2002, quando Delúbio e Valério teriam se conhecido, a fevereiro de 2003, quando os empréstimos foram feitos) para que Marcos Valério "abrisse o cofre de suas empresas sem nenhum aval". O ex-dirigente insistiu no que chamou de "relação de confiança".

Os advogados de Delúbio haviam pedido ao Supremo Tribunal Federal (STF) um hábeas-corpus para que o ex-tesoureiro não comparecesse à reunião da CPI dos Bingos e nem fosse obrigado a responder a questões que pudessem incriminá-lo. O pedido foi negado pelo ministro Marco Aurélio Mello. O ministro sustentou que os cidadãos devem colaborar com as autoridades nas investigações e por isso não poderia assegurar a Delúbio o direito de não ir à CPI. Delúbio já prestou depoimento na CPI dos Correios e na CPI do Mensalão, já encerradas.

Delúbio é um dos principais personagens da crise política, está entre os 40 denunciados pelo Ministério Público Federal por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, evasão ilegal de divisas, corrupção ativa e passiva e peculato (desvio de dinheiro público). Segundo o procurador-geral da República, o objetivo do grupo era a formar um complexo esquema para "negociar apoio político, pagar dívidas pretéritas do Partido dos Trabalhadores (PT) e também custear gastos de campanha e outras despesas do PT e dos seus aliados".

O ex-tesoureiro foi um dos fundadores do PT, dirigente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Goiás (Sintego), na década de 80. Foi ainda o coordenador das campanhas presidenciais de Luiz Inácio Lula da Silva em 1989 e 1998. Em 2000, assumiu o cargo de tesoureiro do PT.

Daniel Dantas

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Também nesta terça-feira, por seis votos a cinco, o requerimento para ouvir o banqueiro Daniel Dantas na CPI foi rejeitado. Para o senador Heráclito Fortes (PFL-PI), esse é um "grande equívoco do governo". A bancada governista argumenta que Dantas deve ser ouvido em outra instância da Casa, não na CPI dos Bingos:

- Ele pode vir à Corregedoria; o corregedor é o senador Romeu Tuma - argumentou o senador Tião Viana (PT-AC).

Tuma foi citado como titular de contas no exterior em matéria da revista "Veja", que teria sido escrita a partir de informações prestadas pelo próprio Daniel Dantas.