A CPI dos Correios quer informações sobre o depósito de R$ 1 milhão em dinheiro feito pelo PT em maio deste ano numa das contas da Coteminas, empresa têxtil do vice-presidente da República e ministro da Defesa José Alencar. O sub-relator de movimentações financeiras da comissão, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), disse que vai enviar ofício ao Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf) e ao Bradesco, banco onde a Coteminas tem a conta, pedindo detalhes do depósito. A comissão pretende também identificar a mulher que fez o depósito. A CPI suspeita que a mulher seja secretária do então tesoureiro do partido, Delúbio Soares.
Fruet confirmou que o repasse não consta da contabilidade do PT, como foi divulgado ontem pelo jornal "Folha de S.Paulo". Com a quebra de sigilo, as 16 contas bancárias do PT foram analisadas pela CPI dos Correios e o depósito não aparece. Mesmo assim, Fruet foi cauteloso e disse que é cedo para afirmar que o dinheiro entregue a Alencar é proveniente de caixa dois do PT.
- É preciso primeiro confirmar o repasse. Mas se o depósito existiu e não está registrado nas contas do PT, isto provaria que Delúbio (Soares, ex-tesoureiro do PT) não contou à CPI tudo o que sabia - afirmou Fruet.
Em São Paulo, no fim de semana, Delúbio confirmou, por intermédio do advogado Arnaldo Malheiros, ter feito vários depósitos na conta da Coteminas para cobrir gastos de campanhas eleitorais do partido. Delúbio, que em maio deste ano, período em que foi feito o depósito, era responsável pela diretoria de finanças do partido, afirmou, entretanto, não lembrar de quando ou quanto em dinheiro foi repassado pelo partido à empresa. Ele também não detalhou de que forma foram feitos os depósitos, se na conta da empresa ou em dinheiro vivo entregue diretamente nas mãos de dirigentes.
- Delúbio me assegurou que fez vários pagamentos a Coteminas para bancar despesas com campanhas do PT em vários estados. Mas ele não lembra quanto, quando ou em quantas vezes esse dinheiro foi pago - disse o advogado Arnaldo Malheiros.
Malheiros informou ainda que a dívida do PT com a Coteminas é referente à confecção de camisetas para uso em campanhas eleitorais. O PT tem uma dívida com a Coteminas de R$ 12 milhões, pelo fornecimento de 2,75 milhões de camisetas usadas na campanha de 2004.
Neste domingo, Josué Gomes da Silva, filho de José Alencar e presidente da Coteminas, confirmou ter recebido o dinheiro, em espécie, de uma funcionária do partido. A quantia, segundo ele, referia-se a parte da dívida de R$ 12 milhões do PT com a empresa. Josué disse que não suspeita que o dinheiro tenha vindo do caixa dois.
- Não tenho porque levantar suspeita. Para mim, esse dinheiro é do PT - disse ele, que espera receber o restante em breve. - O partido tem nos dito que vai nos pagar. Eles até fizeram uma proposta de parcelar em 48 vezes, mas não aceitamos.
O empresário contou que recebeu neste domingo uma ligação de seu pai, que queria saber detalhes da operação financeira. O vice-presidente José Alencar, segundo ele, demonstrou ter ficado chateado com a divulgação da denúncia.
- Embora a notícia não ponha em dúvida a conduta da empresa, é claro que tudo isso chateia - afirmou Josué, negando, assim como assessores do Palácio do Planalto, que Alencar tenha levado o caso ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva:
- O presidente não tem nada a ver com isso.
O Palácio do Planalto disse que cabe ao PT e à empresa Coteminas responder às denúncias. Apesar da irritação de Alencar com o episódio, assessores do presidente procuraram neste domingo minimizar o fato, afirmando que nada vai abalar o relacionamento entre Lula e Alencar.
Em São Paulo, enquanto Delúbio Soares confirmou ter feito o depósito, o novo tesoureiro do partido, Paulo Ferreira, negou qualquer repasse a Coteminas. Segundo ele, não há registro de pagamentos a empresa de José Alencar na contabilidade da legenda em 2005. O tesoureiro disse que ainda negocia o pagamento de R$ 11 milhões com a Coteminas.
- Na contabilidade que o PT apresentou ao Tribunal Superior Eleitoral referente ao exercício de 2005 não há qualquer registro de pagamento feito a Coteminas. Se houve alguma utilização do CNPJ (número do partido na Receita), foi indevida - disse Ferreira, que acrescentou:
- O PT não tem dinheiro, não está pagando ninguém. Mas estamos negociando - disse ele.
Parlamentares das CPIs em andamento disseram acreditar que o dinheiro tenha vindo do valerioduto, mas acreditam que é necessário investigar mais a operação.
- É o carimbo do caixa dois nas campanhas do PT. A CPI dos Correios tem obrigação de investigar - disse o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN).
- Isto só consolida o que tínhamos percebido, que o esquema de corrupção do PT e de Marcos Valério é mais amplo que os R$ 55 milhões declarados por Delúbio como produto de empréstimos - afirmou o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ).
- É importante saber a origem desse dinheiro. Evidentemente não saiu do fundo partidário nem da contabilidade do PT - afirmou o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), que defendeu o aprofundamento das investigações.
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