O relatório da CPI dos Correios que relata perdas de até R$ 780 milhões nos últimos cinco anos em operações feitas por 14 fundos de pensão na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) e com títulos públicos revela que quatro das 11 corretoras, responsáveis por operações que deram prejuízos acima de R$ 1 milhão, já estavam sendo investigadas pela comissão. Entre essas empresas estão a Bônus-Banval e a Planner, duas corretoras suspeitas de terem participado de esquema de lavagem de dinheiro e da distribuição de recursos organizada pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e pelo empresário Marcos Valério de Souza.

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O total de perdas diz respeito ao período de 2000 a 2005. Ou seja, inclui os últimos três anos do governo Fernando Henrique e os dois primeiros do governo Lula. As operações com a Bônus-Banval provocaram perdas de R$ 2,6 milhões até o fim de 2002. Número que ultrapassa R$ 12 milhões na gestão petista. As informações constam do detalhado relatório sobre o assunto apresentado ontem pelo deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), sub-relator da CPI dos fundos de pensão, em sessão reservada da comissão.

O documento identifica também José Carlos Batista - sócio da Guaranhuns, empresa que recebeu dinheiro de Valério que seria destinado a políticos da base - como titular de operações que lhe renderam um ganho de R$ 15,4 milhões. Na outra ponta, com o prejuízo, estariam os fundos investigados pela CPI. Antes de chegar ao personagem, já conhecido da CPI, o dinheiro teria passado por corretoras de valores e pessoas suspeitas de participar de um esquema de lavagem de dinheiro investigado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

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- É fato que algumas corretoras e pessoas que se destacaram na investigação do valerioduto também estão envolvidas com operações que deram prejuízo aos fundos. Mas não podemos dizer ainda se saiu dinheiro dos fundos para o valerioduto. Isso é uma coisa que só saberemos depois de investigarmos - afirmou o pefelista.

A CPI também pretende investigar as 50 pessoas e empresas que mais lucraram com as operações que deram prejuízos aos fundos. Além delas, os deputados querem convocar os dirigentes dos fundos de pensão e das corretoras para que expliquem as operações.

- O que há de fato são perdas expressivas para os fundos de pensão. Vamos tentar entender quem se beneficiou - disse Antonio Carlos Magalhães Neto.

A CPI pretende investigar também 42 contratos de prestação de serviços feitos pelos fundos. Entre eles, estão três com a Trevisan e outros seis com a Globalprev, que já pertenceu ao ex-ministro Luiz Gushiken. A maior parte do prejuízo para os fundos foi encontrada em operações no mercado futuro da BM&F. Além destes R$ 730 milhões, outros R$ 50 milhões estão citados no relatório como prejuízo provocado por negócios com títulos públicos.

O fundo de pensão da Cedae foi o que amargou o maior prejuízo nas operações no mercado futuro: R$ 309 milhões. O segundo colocado, o Sistel, que atende aos funcionários do antigo sistema Telebras, registrou perdas de R$ 153 milhões. Em terceiro lugar aparece a Petros, fundo de previdência dos funcionários da Petrobras, com R$ 64,8 milhões de prejuízo.

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Segundo o pefelista baiano, trata-se de um relatório preliminar e que, por isso, deveria ser encarado apenas como ponto de partida para investigações.

- Queremos identificar quem pode ter dado prejuízo considerável aos fundos de pensão. Vamos mostrar essas perdas, como se operou de ano a ano e quem ficou lucrou com as perdas dos fundos.