A criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a divulgação de pesquisas eleitorais e o reflexo nas urnas depende, agora, do aval do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
A consultoria técnica da Câmara conferiu as assinaturas de apoio ao pedido de investigação apresentado pelo deputado Ricardo Barros (PP-PR). Ao todo, 171 deputados apoiaram a instalação da comissão - número mínimo exigido pelas regras da Casa.
Não há mais prazo para a retirada de assinaturas. A CPI só pode ser esvaziada se 86 deputados retirarem o apoio em bloco.
Cunha pode analisar nesta quarta-feira (4) o ato de criação da CPI. Com isso, fica a cargo dos líderes partidários indicarem os componentes. Isso só deve ocorrer depois do feriado do Carnaval.
Além das assinaturas, a Secretaria Geral da Câmara avaliou que o pedido também cumpre outras exigências, como fato determinado para justificar a apuração.Barros pede que sejam avaliados cenários desde 2000 para examinar contradições, distorções, erros e falhas.
Segundo o deputado, a CPI deverá aprofundar investigações sobre a qualidade e confiabilidade da amostragem, da coleta dos dados e da avaliação dos resultados.
"Também se deverá investigar se há vínculo entre os institutos e os veículos de comunicação, e entre estes, individualmente, com candidatos, partidos ou coligações, que produzam resultados díspares em relação às urnas, favorecendo ou prejudicando candidatos", afirmou.
Barros citou problemas em levantamentos divulgados em Estados como Bahia e Rio Grande do Sul em 2014.
Para o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, é um equívoco frequente comparar pesquisas feitas dias antes com o resultado das urnas. "O processo eleitoral está cada vez mais dinâmico. A última eleição presidencial foi um exemplo disso", afirma. Para a diretora do Ibope, Márcia Cavallari, há uma incompreensão sobre o papel das pesquisas, que é monitorar tendências, e não "acertar resultados na vírgula".O questionamento ao trabalho dos institutos não é inédito. Em 2012, um senador propôs proibir a veiculação de levantamentos a 15 dias das eleições. Para Paulino, há uma tentativa de constranger as empresas. "Os políticos entendem muito de pesquisas. Alguns contratam mais de um instituto para trabalhar. Gostam tanto, que querem as pesquisas só para eles", diz.