A CPI da Crise Aérea terá reunião fechada nesta semana para avaliar os dados das duas caixas-pretas do Airbus A320 da TAM que se chocou contra prédios em frente ao Aeroporto de Congonhas deixando quase 200 vítimas.
Pela expectativa da comissão da Câmara, o material deve ser entregue na terça-feira pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), comandado pelo brigadeiro Jorge Kersul Filho, em cumprimento a requerimento aprovado pela CPI da Câmara dos Deputados na semana passada.
"Vamos realizar uma audiência secreta com a presença de Kersul", disse à Reuters o relator da CPI, deputado Marco Maia (PT-RS).
Após o acidente ocorrido há 13 dias, as caixas de dados e de voz foram enviadas para análise na agência norte-americana National Transportation Safety Board, em Washington, e retornaram na sexta-feira.
Na reunião, os deputados vão receber os dados e discuti-los com o brigadeiro, que, no depoimento à CPI na quinta-feira, tinha se disposto a entregar as informações. Em ocasião anterior, Kersul chegou a afirmar que era contra a divulgação do conteúdo das investigações. Ele também garantiu que as caixas-pretas preservaram os últimos 30 minutos de diálogos dos pilotos da aeronave.
Apesar de as informações serem protegidas por acordos internacionais de sigilo, dos quais o Brasil é signatário, existe a possibilidade de vazamento, o que tem sido comum em CPIs recentes. Pesa nesta possibilidade o grande número de deputados que compõe a CPI, um total de 24.
A expectativa do Cenipa é de divulgar o relatório final das investigações apenas em dez meses. Kersul já admitiu, no entanto, que a combinação de dois fatores ligados ao Airbus pode ter contribuído para a tragédia: reverso direito bloqueado (equipamento que auxilia na frenagem) e utilização inapropriada do manete (um dos instrumentos que controla a velocidade do avião).
No dia seguinte ao acidente, a TAM reconheceu a existência de um defeito no reverso. A companhia informou que, pelo manual da fabricante Airbus, mesmo apresentando o problema técnico, o avião poderia ser liberado para voar por até dez dias.
Uma semana depois do acidente, a Airbus enviou a companhias aéreas uma nota em que orienta os pilotos sobre os procedimentos corretos para pousar o modelo A320. Segundo a companhia, o envio da nota é "prática comum" e "não tem nenhuma relação com dados obtidos nas chamadas caixas-pretas".
Cruzamento de dados
Kersul está desde sexta-feira trabalhando, com uma comissão militar, no cruzamento das informações da caixa de voz com os dados de vôo para ter um quadro da sequência de eventos que provocou o acidente com o avião da TAM, informou uma fonte próxima às investigações.
Um grupo de técnicos da Airbus está participando também dessa fase, ficando "de plantão" para dar explicações técnicas sempre que solicitadas.
"Eles são obrigados a ficar à disposição para passar todas as explicações para a comissão", explicou a fonte. A hipótese de falha humana ainda não pode ser confirmada, segundo a fonte, que é contra a divulgação dos dados para a CPI.
"O próprio presidente da CPI disse que não pode se responsabilizar (pelo vazamento de informações)", disse a fonte, afirmando que a decisão de entregar os dados será de Kersul. Até a Airbus já trabalha com a possibilidade de divulgação antecipada dos dados.
Nesta semana, a CPI agendou depoimentos de representantes da TAM, Airbus, Infraero e Aeronáutica.
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