Brasília (AE) A um mês e meio do fim, a CPI dos Correios transformou-se numa fogueira de vaidades. O relator da comissão, Osmar Serraglio (PMDB-PR), não esconde seu ciúme dos sub-relatores Gustavo Fruet (PSDB-PR) e José Eduardo Cardozo, ambos escalados pelo presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), para aprofundar as investigações sobre o caixa 2 montado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza e sobre os contratos fechados pelos Correios com empresas privadas.
A integrantes da comissão, Serraglio confidenciou que tem se sentido alijado do trabalho feito pelos sub-relatores. Reclamou que ninguém lhe conta nada e que só tem conhecimento tardio da maior parte das novidades e descobertas feitas pelos sub-relatores, principalmente quando se trata de revelações de grande repercussão. "A CPI não pode divulgar coisas enquanto não houver convicção do que está se falando até para não frustrar a população. É melhor ser comedido e levar a informação correta", lamenta Serraglio.
Os sub-relatores Fruet e Cardozo já perceberam que Serraglio está descontente com o comportamento deles. "Resolvi submergir. Notoriedade é bom, mas pode ser um tiro no pé. Até porque se não fizer uma coisa bem feita acabo desmoralizado", observa Fruet que, assim como o relator, é do Paraná e também disputa em 2006 a reeleição para a Câmara. O tucano confirma que Serraglio já deixou clara sua insatisfação com o vazamento, antes de seu conhecimento, de informações sobre as movimentações milionárias das contas de Marcos Valério.
Serraglio também não gostou do anúncio feito por Fruet, há cerca de um mês, de que a CPI teria elementos suficientes para propor no relatório final, que deverá ser apresentado até 15 de dezembro, o indiciamento de envolvidos no esquema de caixa 2 operado por Marcos Valério. "Fiquei sabendo do indiciamento pelos jornais", queixou-se o relator, durante uma reunião reservada da comissão. Segundo integrantes da CPI, o próprio Delcídio estaria preocupado com a profusão de dados e documentos que vêm sendo divulgada sem checagem prévia.
Em conversas reservadas, Serraglio também revelou ter se sentido desprestigiado ao não ser incluído na comitiva que vai embarcar na terça-feira para os Estados Unidos. Delcídio, Fruet e a senadora Ideli Salvati (PT-SC) vão a Washington e Nova Iorque para tentar obter autorização do Departamento de Justiça norte-americano para que a CPI dos Correios tenha acesso aos dados bancários e fiscais da conta Dusseldorf, do publicitário Duda Mendonça. Na quinta-feira (27), Serraglio foi incluído às pressas na comitiva. "Mas não sei se vou. Estou pensando", disse o relator.
Para tentar acabar com a guerra de vaidades, Delcídio escalou o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) para ser uma espécie de "gerentão" da CPI. Desde o início da semana, Paes faz reuniões entre o relator e os sub-relatores para avaliar os avanços dos trabalhos da comissão. A idéia é organizar todas as informações e fazer um fluxograma com todos os detalhes do escândalo, das apurações e quais são as penas aplicáveis a cada um dos envolvidos. Só depois disso é que serão liberados, aos poucos, os relatórios parciais de cada área. O primeiro deles deverá ser divulgado no próximo dia 8, com um resumo das movimentações financeiras de Marcos Valério. "Ocorreram algumas falhas que advinham da falta de organização, mas agora está tudo resolvido" afirma Paes.
Serraglio pretende apresentar o relatório final da CPI com as conclusões sobre movimentação financeira e os contratos dos Correios até 15 de dezembro, data prevista para o término dos trabalhos da comissão. A expectativa é de que a CPI seja prorrogada até março ou abril do ano que vem, quando será apresentado o relatório sobre as transações dos fundos de pensão e eventuais irregularidades no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB).
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