Passada a disputa eleitoral, que alimentou os embates no Congresso Nacional nos últimos meses, a CPI dos Sanguessugas voltou a servir de palco para um debate acalorado entre governistas e oposição durante o depoimento de Barjas Negri, ex-ministro da Saúde do governo Fernando Henrique Cardoso.

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Convidado pelos parlamentares para prestar esclarecimentos, Negri, que atualmente é prefeito de Piracicaba, em São Paulo, negou nesta terça-feira ter participado de irregularidades com recursos da saúde para a compra de ambulâncias durante sua administração na pasta.

``Não havia relacionamento do ministério com nenhuma empresa que fornecia ambulâncias para prefeituras'', afirmou Barjas Negri, deixando insatisfeitos representantes da bancada governista.

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``Seu depoimento não contribuiu com o andamento da apuração'', disse a jornalistas a deputada Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), que substituiu o relator da comissão, senador Amir Lando (PMDB-RO).

O ex-ministro deu explicações sobre procedimentos adotados pela pasta para a liberação de verbas no pagamento de emendas de parlamentares ao Orçamento da União --que teriam alimentado os desvios de recursos-- durante sua administração e refutou qualquer tentativa de relacioná-lo ao escândalo.

``Não dá para colocar isso nas costas do Ministério da Saúde na nossa gestão'', disse.

O ex-ministro admitiu conhecer o empresário Abel Pereira que foi acusado pelo dono da Planam, Luiz Antônio Vedoin --suposto chefe da máfia das ambulâncias-- de receber propinas para facilitar a ação da empresa no ministério no governo FHC. Barjas Negri também afirmou ter recebido recursos de uma empresa ligada a Abel para sua campanha à Prefeitura de Piracicaba.

``Uma empresa do Abel Pereira contribuiu para minha campanha, mas isso não é crime. Está na minha prestação de contas (eleitoral) e eu não cometi caixa dois'', disse.

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REQUERIMENTOS

Diante da afirmação do ex-ministro, interpretada pelos governistas como uma referência ao chamado escândalo do mensalão, o deputado Eduardo Valverde (PT-RO) propôs a realização de uma acareação entre Negri, Vedoin e Pereira.

``Eles têm muito o que explicar aqui nesta comissão'', disse o petista.

Inconformado com a proposição, o deputado Júlio Redecker (PSDB-RS) apresentou requerimento solicitando que a CPI convide o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) para prestarem esclarecimentos sobre a tentativa de negociação de um dossiê com informações contra candidatos do PSDB.

``Não é uma convocação. Espero que eles venham aqui dar seus esclarecimentos'', justificou o tucano.

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O deputado Luiz Carlos Hauly (PR), vice-líder do PSDB na Câmara, foi mais contundente.

``Temos de convocar o Lula porque é ele quem libera emendas. Ele é o maior sanguessuga do país'', afirmou

Segundo o parlamentar, a ``tropa de choque'' do presidente Lula teria entrado em ação na CPI para atrapalhar as investigações. ``Os pitbulls avançaram demais e provocaram o embate'', disse Hauly após a sessão.

A disputa deverá se repetir na quarta-feira durante depoimento de Humberto Costa e do deputado Saraiva Felipe (PMDB-MG), ex-ministros da Saúde na gestão Lula. Ambos deverão comparecer como convidados, a exemplo de Barjas Negri. O ex-ministro José Serra --recém eleito para o governo de São Paulo-- também foi convidado a prestar depoimento nesta terça-feira, mas não compareceu ao Congresso por estar em viagem, segundo o deputado Hauly.