Senador suspeito
Parlamentares quebram os sigilos bancário, fiscal e telefônico de Demóstenes
Das agências
Os deputados e senadores da CPMI do Cachoeira aprovaram ontem, por unanimidade, um pedido para a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). A decisão foi tomada um dia depois de Demóstenes depor ao Conselho de Ética do Senado, no processo a que responde por quebra de decoro parlamentar, por suspeita de envolvimento no esquema do contraventor Carlinhos Cachoeira.
Ao aprovar o requerimento do deputado Dr. Rosinha (PT-RS), a comissão vai receber dados da quebra de sigilo do senador goiano desde janeiro de 2002. O colegiado também aprovou um requerimento, do líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR), para pedir ao Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf) que analise e envie à CPMI as movimentações financeiras consideradas atípicas feitas por Demóstenes em suas contas bancárias nos últimos dez anos.
Silêncio
A CPMI teve ontem mais um dia de depoimentos em que os convocados se recusaram a falar, invocando o direito de permanecer calados. Apontado pela Polícia Federal como contador de Carlinhos Cachoeira, Lenine Araújo de Souza se limitou ontem em dizer aos integrantes da comissão que não se considera "braço direito" do bicheiro e que não é sócio dele em nenhuma empresa. Ele ainda reclamou do tratamento a que foi submetido ao ser preso. Mas se recusou a prestar outras informações sobre seu trabalho na organização de Cachoeira. Prometeu, porém, que irá colaborar com a CPMI após seu depoimento à Justiça de Goiás, marcado para hoje.
Procuradoria-Geral
PSol pede investigação sobre conduta do ministro Gilmar Mendes
O PSol pediu ontem que a Procuradoria-Geral da República (PGR) invetigue a conduta do ministro do STF Gilmar Mendes em relação às suas acusações ao ex-presidente Lula. O ministro afirma que o ex-presidente propôs blindá-lo na CPMI do Cachoeira em troca do adiamento do julgamento do mensalão, argumentando de que havia a suspeita que o bicheiro Carlinhos Cachoeira teria pago uma viagem de Mendes a Berlim (Alemanha). O ministro já apresentou documentos mostrando que o STF pagou a viagem.
Para a bancada do PSol no Congresso, a conduta do ministro é bastante questionável. O documento pede a investigação dos fatos e, caso haja comprovação de conduta indevida, a bancada pede que sejam adotadas as medidas cabíveis, no âmbito administrativo, civil ou penal pela Procuradoria. O PSol diz que é preciso investigar o motivo que levou o ministro a anunciar a reunião com Lula um mês após ela ocorrer. "Sua reação de permanecer em silêncio, inclusive diante da assertiva de que tal constrangimento seria estendido aos demais membros do STF, deve ser apurada", destaca a representação do partido.
A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira aprovou ontem a convocação dos governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT). O governador do Rio de Janeiro, o peemedebista Sérgio Cabral, foi poupado e não terá de se explicar ao Congresso. Os três são suspeitos de terem ligações com pessoas e empresas ligadas ao esquema criminoso e de corrupção do bicheiro Carlinhos Cachoeira.
O pedido de convocação de Cabral foi recusado por 17 votos contra 11. A rejeição ocorreu apenas um dia depois de que a CPMI aprovar a quebra dos sigilos bancário, telefônico e fiscal da empreiteira Delta, ligada a Cachoeira e cujo ex-sócio Fernando Cavendish é amigo de Cabral. A construtora fechou negócios de R$ 1,49 bilhão com o governo fluminense durante a gestão do peemedebista.
O PMDB era contra a abertura das contas da Delta, mas o PT votou a favor. Os peemedebistas então ameaçaram retaliar os petistas na comissão. Nos bastidores, especula-se que a rejeição à convocação de Cabral tenha sido uma tentativa do PT de acalmar os ânimos do partido aliado.
Dança do guardanapo
A oposição reclamou do privilégio concedido a Cabral. "Nós não queremos participar de farsa que ponha debaixo do tapete os problemas dos outros governadores", afirmou o líder do PSDB na Câmara, Bruno Araújo (PE). "Nós temos que convocar de maneira isonômica os três governadores que têm suspeitas que se avolumam", disse o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS).
O senador Humberto Costa (PT-PE), porém, disse que a situação dos três governadores não é a mesma. "Nós vamos chamar o governador do Rio de Janeiro porque ele botou um guardanapo na cabeça e ficou dançando? É isso?", questionou Costa. Ele se referia ao episódio em que Cabral aparece em fotos com Fernando Cavendish em um jantar festivo em Paris (França). Os dois amigos ainda foram fotogrados se confraternizando na Riviera Francesa.
A viagem à França era uma missão oficial do governo do Rio. O que não se sabe até hoje é se os jantares, em estabelecimentos luxuosos, foram ou não pagos com dinheiro da Delta construtota suspeita de ter Carlinhos Cachoeira como sócio oculto.
Antes de ter se livrado de comparecer ao Congresso, Sérgio Cabral disse a jornalista, irritado, que "não teme" a quebra dos sigilos da Delta. "Por que eu temeria? Acho até um desrespeito da sua parte me perguntar isso", disse ele. "Uma coisa é a relação pessoal que eu tenho com empresários ou não empresários. Outra coisa é a impessoalidade da decisão administrativa. Essas ilações [de que estaria favorecendo a Delta] são de uma irresponsabilidade completa, um desrespeito completo com a minha pessoa." Foi a primeira vez que Cabral falou sobre o assunto desde 27 de abril, quando vieram à tona fotos dele em festas na França.
Perillo e Agnelo
A convocação do governador de Goiás, Marconi Perillo, foi aprovada por unanimidade pela CPMI, com o apoio em peso da oposição, um dia depois dele ter feito uma visita de surpresa à comissão colocando-se à disposição para depor. Já o pedido para o governador Agnelo Queiroz (DF) depor recebeu 16 votos favoráveis e 12 contrários.
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