Alvaro Dias quer cargo de comando para a oposição; Rubens Bueno teme interferência do Planalto e Francischini deverá ser indicado pelo PSDB| Foto: Fotos: Geraldo Magela/Ag. Senado, Leonardo Prado/Ag. Câmara e Leonardo Prado/Ag. Câmara

Retomada

Demóstenes vai ao plenário e evita falar sobre suspeitas

Folhapress

Pela primeira vez desde o início das denúncias que o ligam ao bicheiro Carlinhos Cachoeira, o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) participou ontem de parte da sessão do plenário do Senado. Abatido, o senador cumprimentou colegas, circulou pelo plenário e reiterou que só vai se manifestar sobre as denúncias no Conselho de Ética do Senado – que abriu processo para investigar se ele quebrou o decoro parlamentar e deve perder o mandato.

"Vou falar primeiro no conselho, depois eu falo com vocês", disse a jornalistas. Demóstenes afirmou que foi "bem tratado" pelos senadores e decidiu retomar sua rotina no Senado. "A recepção foi boa, estou retomando os trabalhos."

Mais magro, o senador passou cerca de meia hora no plenário do Senado. Sempre acompanhado de assessores, retornou ao seu gabinete em seguida. Nos últimos dias, Demóstenes tem comparecido ao Senado, mas ficado trancado em seu gabinete.

Hoje, o Conselho de Ética se reúne para discutir o plano de trabalhos no processo que investiga o parlamentar. O relator, senador Humberto Costa (PT-PE), disse que o colegiado vai aprovar requerimento com novo pedido para o Supremo Tribunal Federal (STF) encaminhar à Casa a íntegra do inquérito da Operação Monte Carlo – que desmontou esquema de contravenção que teria Cachoeira em seu comando.

O STF já negou um pedido anterior para encaminhar o inquérito por argumentar que as informações são sigilosas. Mas os senadores decidiram encaminhar um novo pedido com maior fundamentação – na expectativa que, desta vez, o Supremo autorize o envio.

Delta

Reportagem do jornal Folha de S. Paulo de ontem afirma que Demóstenes usou o cargo para negociar um projeto de R$ 8 milhões em favor da Delta Construções, uma das empreiteiras envolvidas com negócios ilegais de Cachoeira. A denúncia foi feita com base em gravações telefônicas e relatório do Ministério Público Federal.

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Senador teria usado o cargo para negociar um contrato de R$ 8 milhões para a Delta

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investigará as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com o poder público e empreiteiras – que deve ser criada hoje – contará com pelo menos três representantes do Paraná. O senador Alvaro Dias (PSDB) e os deputados federais Rubens Bueno (PPS) e Fernando Francischini (PSDB) serão indicados oficialmente hoje para compor a comissão. Essa lista pode crescer, já que nem todos os nomes foram indicados até o momento. A CPMI deve ter início com a leitura do requerimento, às 10h30.

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O pedido de criação da comissão foi protocolado na Mesa do Congresso na noite de terça-feira, com as assinaturas de 67 senadores e 340 deputados. O mínimo necessário era 27 e 171, respectivamente.

A partir da instalação, os partidos têm até a próxima terça-feira para apresentar seus indicados para a composição. Ao todo, serão 15 senadores e 15 deputados federais na CPMI. Cada um tem direito a um suplente. Dessas 30 vagas, apenas seis serão da oposição. O tucano Alvaro Dias afirma que tem conversado com lideranças do PT e do PMDB para tentar garantir uma divisão no comando da comissão – um dos lados ficaria com a presidência, o outro com a relatoria, o que o senador considera uma forma de dar mais credibilidade ao processo. Entretanto, ele reconhece que as chances disso acontecer são remotas.

Segundo as investigações da Polícia Federal, o esquema de Cachoeira envolvia políticos ligados ao governo, como o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), e à oposição, como o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). Além disso há empresas que prestam serviços para ambos os lados, como a Delta, que recebeu R$ 4 bilhões do governo federal desde 2007. Logo, ambos os lados têm seus interesses e receios em relação às investigações.

Para Bueno, a oposição deve exigir que todos os fatos sejam apurados, mesmo aqueles que envolvem a oposição. "Na CPI, não há bancada de oposição e de situação. O Parlamento tem o dever de investigar todas as denúncias", afirma. O deputado diz temer que o governo dificulte as investigações.

Além dos três paranaenses da oposição, alguns outros nomes já foram anunciados por seus partidos. No Senado, veteranos como Renan Calheiros (PMDB-AL) e o ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL) estão entre os indicados. Pedro Taques (PDT-MT) e Randolfe Rodrigues (PSol-AP), que compunham com Demóstenes o grupo apelidado de "os três mosqueteiros", pela postura crítica ao governo federal, também devem ser indicados – respectivamente, em vagas cedidas pelo PT e pela oposição. Do Senado deve sair o provável presidente da CPMI: Vital do Rêgo (PMDB-PB).

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Na Câmara, a oposição vai contar também com Carlos Sampaio (PSDB-SP). No lado governista, alguns nomes são especulados: o ex-líder do governo na Casa, Cândido Vacarezza (PT-SP) e Luiz Sérgio (PT-RJ) estão entre os cotados.

Mensalão

Na semana passada, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, mencionou que a CPI poderia ajudar a "desbaratar a farsa do mensalão". Alvaro diz acreditar no contrário: que a CPI sirva de estímulo para o Supremo Tribunal Federal (STF) prosseguir com o julgamento do caso. "Farsa é afirmar que o mensalão não existiu", afirma.