CNJ tem meta para julgamentos neste ano
O índice de detentos que cumprem pena no Brasil por crime contra administração pública deve aumentar este ano. Preocupado com a lentidão do julgamento das ações contra a gestão pública, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) fixou, em novembro de 2012, a Meta 18, cujo objetivo é julgar, até o fim de 2013, todos os processos contra a administração pública e de improbidade administrativa propostos até 31 de dezembro de 2011.
Levantamento do próprio Conselho, finalizado na semana passada, mostra que restam 77.081 processos a serem julgados até o fim do ano. Desses, 29.053 são ações de improbidade administrativa e 48.028 são de crimes contra a administração pública. Desde a fixação da Meta 18, foram julgados pelos tribunais estaduais, federais e pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) 39.409 processos dessa natureza. O número representa 33,83% da meta prevista para o ano, desempenho abaixo da expectativa para o mês de abril, que era cumprir 66,67% da meta.
O Tribunal de Justiça do Paraná é o que teve o melhor desempenho em todo o país, com 98,77% da meta, seguido pelo de Sergipe (91,91%). O TJ do Piauí foi o menos eficiente, cumpriu apenas 4,96% da meta. No Paraná, restam 62 processos que aguardam julgamento sendo 37 ações de improbidade administrativa e 25 de crimes contra a administração pública. Os desembargadores paranaenses julgaram 4.991 processos, 22 neste ano de 2013. A Meta 18 não incluiu os processos que tramitam no juízo de 1.º grau.
Bola de neve
Só neste ano, o Ministério Público do Paraná propôs 124 ações de improbidade administrativa. Ao longo de 2012, foram 480 ações ajuizadas na Justiça. Com relação a denúncias criminais envolvendo a administração pública, o MP paranaense apresentou 653 de janeiro a abril. Em 2012, de março a dezembro, foram 1.019 denúncias por crime contra a gestão pública.
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O número de presos condenados por crime contra a administração pública aumentou 71% em quatro anos no Paraná. Ainda assim, eles são menos de 0,25% da população carcerária paranaense. Ou seja, a cada 400 detentos, apenas um cumpre pena por crime contra a gestão pública.
VÍDEO: Assista à entrevista com Custódio da Silva
INFOGRÁFICO: Confira o número de pessoas que cumprem pena contra a administração pública
No Brasil, o aumento foi de 52% no número de presos do crime dessa natureza, entre 2008 e 2012. Os dados são do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), órgão do Ministério da Justiça, e levam em conta apenas condenações, e não as prisões temporárias. São crimes contra a administração pública peculato (desvio de dinheiro público), concussão (o ato de exigir para si ou para outrem, dinheiro ou vantagem em razão da função) e corrupção ativa e passiva. Os julgamentos de ações de improbidade administrativa não são considerados na pesquisa, por serem de natureza cível.
O levantamento mostra que, em dezembro de 2012, o sistema penitenciário do Paraná abrigava 31,3 mil detentos. Desses, apenas 78 cumpriam pena por crime contra a administração pública. Quatro anos antes, a população carcerária era de 36,4 mil e apenas 54 estavam presos por crime dessa natureza (0,14%).
O Paraná figura na 11.ª posição no ranking do país. Em 2012, o Ceará era o estado que tinha mais presos por crimes contra gestão pública. Rio Grande do Norte tinha apenas três. Em todo o Brasil, o número de detentos ultrapassava 548 mil deles, 2.129 cumpriam pena por crime contra administração pública.
Com o fortalecimento das instituições de controle e fiscalização, o crime do colarinho branco tem sido mais exposto e denunciado. Conforme os dados do Ministério da Justiça, as ações da Polícia Federal, Controladoria Geral da União (CGU), Ministérios Públicos Estaduais e Federais resultam na proposição de denúncias à Justiça. Poucas, porém, são convertidas em condenações por crimes contra gestão pública.
Para Eduardo Cambi, promotor de Justiça e coordenador estadual do movimento Paraná sem Corrupção, há falhas na legislação e o próprio sistema penal beneficia os criminosos pela morosidade no julgamento. "Crime contra a administração pública tinha que ser hediondo, com início da pena em regime fechado", diz, citando que o Brasil ocupa a 69.ª colocação no ranking da transparência internacional no índice de percepção da corrupção. "Setenta por cento dos presos do país cometeram crime contra o patrimônio privado, geralmente por quantias muito inferiores as do crime do colarinho branco, que desvia valores muito mais vultosos. Recursos que fazem falta para a saúde, educação e segurança", diz.
Para tentar acelerar o trâmite das ações e evitar a morosidade citada por Cambi, o deputado federal Fábio Trad (PMDB- MS) apresentou projeto de lei que dá prioridade absoluta de tramitação aos processos penais de crimes contra a gestão pública. A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal já aprovou a proposta que agora aguarda manifestação da Mesa Diretora da Casa para ir à votação. O texto aprovado dá um prazo de 90 dias para que os tribunais de Justiça se adaptem à exigência de priorizar o andamento de processos dessa natureza.
Colaborou Igor Iuan, especial para a Gazeta do Povo.
Exceção, ex-vereador Custódio está preso por desvio de verba
"Ficamos sem mandato, mas não vendemos nossa consciência." A frase foi dita em 2001 pelo então deputado estadual Aparecido Custódio da Silva, quando a Assembleia Legislativa votava a venda da Copel. Essa votação, diz ele, mudou a sua vida para sempre. Doze anos depois, Custódio está preso. Ele é um dos 1,4 mil detentos que cumprem pena na Colônia Penal Agrícola, em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba.
Ex-deputado estadual e vereador da capital por quatro mandatos, Custódio foi detido em 2011 depois de condenado a 13 anos de prisão em regime fechado por desvio de dinheiro público. Segundo a sentença, ele se apropriava de parte da remuneração de servidores do seu gabinete, entre 1993 e 2000. A estimativa de desvio é de R$ 1,5 milhão.
"Eu não cometi esses crimes. Fui perseguido por causa da venda da Copel. Não aceitei as maracutaias, os benefícios milionários e por isso me acusaram de crime contra administração pública", reage. "Estou preso porque meu advogado perdeu prazo e fui condenado à revelia", completa.
Custódio é uma exceção dentro do sistema penitenciário do Paraná. Em dezembro de 2012, apenas ele e outros 13 estavam na cadeia cumprindo pena por crime contra gestão pública. O próprio Custódio reconhece que político e prisão é uma combinação improvável no Brasil. "O mensalão é a prova que político não vai para a cadeia."
O ex-vereador ficou detido por três anos em regime fechado, na Penitenciária Estadual de Piraquara II. Foi transferido no ano passado para a Colônia Penal Agrícola, em regime semiaberto. Uma vez por mês, Custódio deixa a carceragem e vai visitar a família. Na Colônia, ele trabalha no Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos (Ceebja). Faz serviços gerais faxinas e limpeza de banheiros e cuida da horta. A cada três dias trabalhados, Custódio reduz um da pena, o que lhe deve garantir a liberdade em 2015. O bom comportamento é um dos critérios para a progressão da pena. "O Custódio é um preso tranquilo, que não reclama", afirmam Álvaro Biss, chefe da segurança, e Blacito Sampaio, vice-diretor da Colônia.
Vida Pública | 7:29
Num relato emocionado, o ex-vereador de Curitiba e ex-deputado estadual Aparecido Custódio da Silva, um dos poucos políticos presos no Paraná por crime contra a administração pública, conta como é a vida na cadeia.
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