São Paulo (AE) A empresária Renata Randi vai ter filhos. Um marido também. Uma família completa, por sinal. Tratam-se de objetivos concretos, como ela diz. Só que os planos não são para já. Aliás, Renata não tem idéia de quando pretende pôr as metas em prática. Aos 36 anos, trabalha no mínimo dez horas por dia e sabe, como muitas mulheres na sua situação, que não pode desviar o foco da profissão agora, no ponto mais alto da carreira.
Pois no início do ano Renata tentou derrubar ou pelo menos adiar os obstáculos, congelando seus óvulos. A técnica, usada com eficiência há apenas dois anos, tem sido procurada por um número de mulheres cada vez maior. "Para mim, o congelamento de óvulos é como um seguro diferente", explica, pragmática, como boa executiva. "Nem sei se vou ter problemas para engravidar, mas estou certa de que quero filhos. Por que não tentar uma garantia com isso?"
O que faz as mulheres congelarem seus óvulos é a preservação da fertilidade. O tratamento quimioterápico está entre os maiores inimigos da reprodução já que pode deixar a pessoa infértil e também entre os motivos mais aceitos pelos médicos como justificativa para o congelamento. No entanto, a maioria das mulheres que recorre ao congelamento de óvulos é absolutamente saudável, como a empresária Renata. No Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia, clínica especializada em reprodução humana, em São Paulo, por exemplo, 15 congelaram seus óvulos neste ano.
Nenhuma está doente. Na clínica de Reprodução Humana Roger Abdelmassih, das 65 mulheres que congelaram óvulos, uma só vai entrar em tratamento quimioterápico.
A veterinária Juliana Lameirão, de 28 anos, congelou seus óvulos em maio. "Tenho loucura para ser mãe. Mas, se fico grávida agora, sei que posso perder o emprego", explica. "Quando puder, vou tentar engravidar por vias naturais. Só o fato de saber que tenho essa poupança vai me deixar mais tranqüila na hora H. Sabe aquelas mulheres que estão tentando engravidar e se desesperam quando menstruam? Tenho certeza de que vou ser assim." Juliana está noiva. Quando congelou os óvulos, estava sozinha. "Isso nem vem ao caso, foi uma decisão minha e tive o apoio da minha família", conta.
O tratamento, que no caso dela foi pago pela avó, custa em média R$ 9 mil. Mais R$ 300 por ano para manter os óvulos congelados. A técnica é a seguinte: a paciente toma injeção de hormônio. Quando os óvulos estão maduros - o que significa atingir o diâmetro de 18 milímetros, são coletados.
A coleta é feita com uma agulha acoplada a um ultra-som. "Os óvulos, então, recebem um choque térmico, ficam numa textura parecida com a da lente de contato e são mergulhados numa substância com temperatura de 196 graus negativos", explica o especialista em reprodução humana Arnaldo Schizzi Cambiaghi, do Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia.