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O Jornal Hoje faz um alerta: a criança brasileira brinca menos do que deveria. E isso pode dificultar o desenvolvimento emocional e intelectual das futuras gerações.

Para chegar a essas conclusões foi realizada uma pesquisa inédita no país sobre a importância de brincar.

Deslizar, escorregar, balançar. Está na cara - sorridente - o prazer de brincar com amigos ao ar livre; uma diversão cada vez mais rara, mostra a pesquisa feita com mais de mil pais e filhos de todas as classes sociais, de todas as regiões do país.

97% dos entrevistados apontam TV, vídeo e DVD como principais formas de brincadeira. O quarto é o espaço do lazer para 49% das crianças. "Na rua hoje em dia é mais delicado. No meu tempo havia essa possibilidade", diz um pai.

O trânsito e a violência limitaram os espaços de diversão da garotada. E o corre-corre da vida moderna afastou os pais das brincadeiras. Pouco mais da metade dos entrevistados (53%) diz que brinca diariamente com os filhos. "De noite, quando chego em casa, eu brinco um pouquinho, mas logo ela [a filha] dorme porque ela fica o dia inteiro no colégio", conta uma mãe.

E a preocupação com o mundo do trabalho faz com que 84% dos pais digam que os filhos devem estudar mais do que brincar. "Uma criança sem estudo não gira, não. Tem de estudar mais do que brincar", avalia outra mãe.

Durante muito tempo brincar foi considerada apenas uma atividade de lazer, mas hoje, com o conhecimento melhor do cérebro humano, já se sabe que brincar é, sim, uma forma de aprender. A gangorra, por exemplo, ajuda a entender noções espaciais e a compreender conceitos simples, como subir e descer.

"Embora seja por uma parte sensorial, uma parte motora, isso vai ser transformado no cérebro em mensagens que ele vai processar", afirma a pesquisadora da PUC de São Paulo, Maria Ângela Barbato Carneiro.

A especialista explica que falta de tempo para brincadeiras tem um preço. "Hoje existe um problema de menos coordenação das crianças, elas são mais obesas e, além disso, são menos criativas e têm menos autonomia".

No estúdio do Jornal Hoje, a educadora Marilena Flores Martins concedeu entrevista. Ela foi consultora da pesquisa divulgada.

JH: Marilena, a reportagem mostra que os pais estão sacrificando a rotina dos filhos e ocupando os horários dedicados às brincadeiras com cursos para prepará-los para o mercado de trabalho. Isso é uma radiografia dos tempos modernos. Isso pode prejudicar também o desenvolvimento emocional das crianças?

Marilena: Prejudica porque a neurociência mostra que os estímulos externos ajudam no desenvolvimento do cérebro e ajudam as áreas, inclusive, que influenciam na aprendizagem. Aprender não significa só ir à escola; brincar ajuda a criança a captar o mundo, perceber o mundo à sua volta e, principalmente, a desenvolver atitudes de comportamento que serão adequadas na vida futura, tais como trabalhar em grupo, respeitar o outro.

JH: As crianças hoje brincam muito com esses joguinhos de computador. É a mesma coisa brincar sozinho em frente ao computador ou brincar com a turma?

Marilena: Qualquer excesso é prejudicial. Então ficar muito tempo na frente do computador, principalmente na atividade isolada, pode ser muito prejudicial. Ela pode ser atenuada se essa atividade for compartilhada com outras crianças e na presença do adulto, estimulando e orientando as crianças nessas brincadeiras.

JH: Qual é o conselho que a senhora dá para que os pais consigam equilibrar horário de brincadeiras, com os compromissos dos filhos?

Marilena: Eu acho que vale a pena investir na criança, ouvir a criança e compartilhar com ela o tempo que ela tem, inclusive criando uma situação, um ambiente de alegria, de afetividade, que é extremamente benéfico, que vai render dividendos no futuro. É um investimento que vale a pena tentar descobrir o prazer de estar junto, de compartilhar com a criança.

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