Quatro pessoas morreram carbonizadas — três delas crianças —, em acidente na Rodovia Marcelino de Almeida (SP-373), que liga as cidades de Severínia e Colina, na região de Barretos, no norte paulista. Um Fiat Marea, dirigido por uma professora de 33 anos, colidiu contra um barranco após ter a traseira atingida por um veículo não identificado. O Marea rodopiou, capotou e explodiu.

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Este seria mais um caso insolúvel nas estatísticas de mortes em rodovias se uma interceptação telefônica casual não captasse um diálogo revelador.

— O serviço encomendado contra a família do juiz Cury já foi executado.

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— Tem certeza?

— Sim. Colina está de luto.

— Quem sabe, assim, o juiz aprende. Se foi mesmo feito, passe na usina para receber.

O juiz de quem falavam é Salem Jorge Cury, da Justiça Federal, ameaçado pelo crime organizado por causa de suas sentenças. As vítimas, a mulher dele, Josy Jorge Cury, os filhos Salem Jorge Cury Júnior, de 8 anos, e Salomão Jorge Cury, de 4, e Mateus Augusto Batistela Paro, de 8, amigo das crianças.

O acidente ocorreu em 20 de abril de 2002 e, apesar dos indícios de atentado, o caso foi arquivado sem nem ter sido investigado. No início de março, ele deverá ser reaberto a pedido da Associação dos Juízes Federais do Brasil. (Ajufe).

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O mistério em torno do caso está relatado no livro "O Amanhã Será Eterno", escrito pelo juiz Cury, que acaba de ser lançado pela editora Ediouro.

Um dos capítulos é dedicado ao laudo da perícia, que não aponta causa. Ele revela que havia vestígios de pneus na pista, produzidos por desvio brusco de direção. Pelas marcas, ainda segundo o documento, o carro saiu da pista, atravessou a contramão e retornou à sua mão de ré, em alta velocidade.

Em entrevista ao jornal 'Diário de S.Paulo', o juiz afirma que a denúncia criminal sequer foi iniciada. Cury conta que numa das cidades em que morou, por uma semana, alguém passava diante da casa com um controle remoto clonado e abria o portão automático. Depois, saia com o carro em alta velocidade. Mesmo assim, disse, jamais imaginou que algo pudesse acontecer com sua família. Também não se considera um juiz 'linha dura'.

- Apenas apliquei a lei aos casos concretos. Muitas vezes até com benevolência - disse.

O acidente ocorreu em trecho de aclive, após uma curva, onde seria impossível correr, principalmente uma mãe transportando três crianças.

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Segundo o presidente da Ajufe, Walter Nunes, após o carnaval, ele e Cury vão analisar os documentos que o juiz reuniu ao longo desses anos todos de espera por justiça.

A outros juizes, Cury aconselha que jamais subestimem o poderio do crime organizado, mas não tenham medo, que é típico dos covardes.