A crise aérea que começou logo após o acidente da Gol, no dia 29 de setembro de 2006, fez uma vítima silenciosa na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Desde o início da crise - agravada por demissões no governo, greves dos controladores, atrasos de vôos e por um segundo acidente, o da TAM, em julho - várias peças publicitárias da agência, criticada pelo caos aéreo, foram para a gaveta. A principal delas foi uma campanha completa de comemoração do 1º aniversário de criação da Anac, completado em 20 de março.

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Elaborado pela equipe de publicidade da própria agência, as festividades incluíam apresentações musicais, cartazes, selos dos Correios, adesivos, cartões postais, um concurso fotográfico e até uma exposição de balonismo em Jundiaí (SP). Tudo isso sob o slogan "Anac 1 Ano. Olhos para cima. Sempre".

"Depois de um ano, permanecemos firmes e reafirmamos nossa constante disposição de defender o interesse público, sempre colocando em primeiro lugar a segurança das pessoas. Por isso, conte conosco. Nossos olhos estão voltados para o céu", diz um folder de divulgação.

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Os atrasos nos aeroportos, agravados pela greve dos controladores de 30 de março, que parou o país, acabaram por fazer com que a diretoria da agência julgasse incoveniente celebrar o primeiro aniversário. A tensão constante dentro do órgão impediu até que materiais simples fossem a público. É o caso de um folder com informações sobre como entrar em contato com a Anac. A peça, com o slogan "Anac de mãos dadas com os usuários", entrou no limbo após o acidente da TAM e até hoje não foi divulgado.

O assessor Kaká Guilhermino, chefe da assessoria de comunicação da Anac, área responsável pelo material publicitário, alegou desconhecer as peças promocionais. Disse que só chegou à Anac em meados de julho e que não teve tempo de "olhar para o passado". O presidente da agência, Milton Zuanazzi, e o diretor Josef Barat, únicos remanescentes da série de demissões no órgão, não estavam disponíveis para comentar o assunto.

Apesar do engavetamento da propaganda, a sensibilidade para evitar manifestações inoportunas não parece uma regra geral na Anac. Menos de 72 horas após o acidente da TAM que matou 199 pessoas, Zuanazzi e a então diretora Denise Abreu compareceram a uma cerimônia na Aeronáutica, onde ganharam medalhas por "serviços prestados à aviação". Em outra ocasião, no início de setembro, Zuanazzi decretou, ao comemorar indicadores do setor, que "o apagão aéreo acabara no dia 23 de junho".

A diretoria da Anac conseguiu se manter durante todo o auge da crise aérea, enquanto o Ministério da Defesa esteve sob o comando de Waldir Pires. Quando Nelson Jobim assumiu a pasta, adotou uma postura crítica com a agência, até mesmo questionando seu modelo de gestão. Com a pressão, a primeira baixa foi de Denise Abreu, alvo de denúncias de fazer lobby em favor de um empresário. Dias depois, foi a vez de Jorge Velozo sair, seguido de Leur Lomanto. Apenas Zuanazzi e Josef Barat ainda se mantêm nos cargos.

Na última quarta-feira , o ministro da Defesa chegou a anunciar o nome da economista Solange Vieira para a presidência da Anac, causando irritação em Zuanazzi. O dirigente disse que não deixaria a função, mas nos bastidores ele já teria concordado em sair e deixar o caminho livre para Jobim, o que deve ocorrer nos próximos dias.

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Até agora, Jobim já indicou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva três nomes para as cinco diretorias da Anac: Solange Vieira, o economista Marcelo Pacheco e o brigadeiro Allemander Pereira Filho. O militar já foi aprovado pela Comissão de Infra-Estrutura do Senado.