Brasília (AE) - Na 16.ª semana de crise política, uma dúvida crucial pairava sobre Brasília: Diana Buani vai posar para a revista masculina Playboy? Até sexta-feira, quando decidiu descansar um pouco em São Paulo, ela dizia que não aceitaria um eventual convite mas tinha na voz uma negativa pouco convicta.
Morena, 30 anos, 1,65 metro e 53 quilos, a maranhense Claudiana Buani é casada com Sebastião Augusto Buani, o dono de restaurantes que acusou Severino Cavalcanti de cobrar propinas. Apareceu para o grande público no dia 8 de setembro, enquanto o marido contava o que sabia. E defendeu bravamente as mulheres da crise, uma turma que começou com uma secretária e aos poucos arregimentou representantes das donas de casa, ex-mulheres, tesoureiras, publicitárias e até das supostas cafetinas. Quase todas com estranhos nomes compostos, elas denunciaram, defenderam e, sobretudo, mandaram recados.
Com compreensíveis exceções, as mulheres que viraram personagens do maremoto político foram transformadas em candidatas a musas, em uma animada tentativa de dar prosseguimento à linhagem de Tereza Collor. Entre elas, a linda Diana é a mais recente. Já saiu do depoimento do marido com a fixa moral de "musa do mensalinho". "Adorei!", conta ela, com seu jeito meio tímido, definido pelo marido como "maneiras de uma indiazinha".
Opinião decisiva
Diana brilha na categoria das musas mas afirma que sua participação no episódio que enroscou o presidente da Câmara vai além. "Fui eu quem convenci meu marido a denunciar tudo. Ele chegou em casa abatido. Eu disse: você tem que falar. A minha opinião foi muito importante." A nova musa conta que sabia do suposto pagamento de propina. Ficava incomodada, mas achava que não havia solução. "Coisas do Brasil...", diz.
Até transformá-la em musa nacional, a beleza de Diana trouxe mais problemas do que vantagens. Aos 16 anos, ela saiu de Grajaú, no Maranhão, para procurar trabalho em Brasília. Mas foi demitida de um dos empregos porque o filho da chefe se apaixonou por ela. Depois deixou de ser modelo porque um namorado ciumento não deixava. "Agora, ser musa está ótimo", brinca ela.
Lágrimas
Também cotada na preferência nacional, a loira Renilda Maria Santiago, mulher de Marcos Valério de Souza, apareceu em Brasília no dia 26 de julho. Em seu depoimento, chorou cinco vezes, lembrou apenas de puxar o ex-ministro José Dirceu para o turbilhão e informou que o país conta com uma multidão de donas de casa como ela, que levam suas vidas, fazem compras, transmitem valores aos filhos mas nunca se metem nos negócios do marido, mesmo que suspeitos.
Contrariada com a exposição, Renilda afasta conversas sobre musas. "Não gosto dessas coisas. O que me importa é preservar meus filhos", disse numa entrevista em agosto. Hoje ainda evita ser vista em público. Só sai de casa com óculos escuros e cabelos presos. Acha que, em seu depoimento cumpriu a função de conferir ao marido a imagem de pai de família.
Do ponto de vista da psicanálise, faz todo o sentido. "No imaginário social, há a fantasia de que um homem que casa e forma uma família é digno", explica Maria Luiza Bustamante de Sá, chefe do Serviço de Psicologia Aplicada da UERJ. Do ponto de vista do marketing, faz mais sentido ainda. "Historicamente, o marketing político usa a família para melhorar a imagem de pessoas envolvidas em denúncias", ensina o publicitário Chico Santa Rita.
Família
Não à toa os políticos choram tanto e falam de mulheres e filhos nos depoimentos em Brasília. O estratagema tem até clássicos. Em 1952, o americano Richard Nixon foi designado vice-presidente pelo Partido Republicano e enfrentou acusações de que teria recebido dinheiro e presentes por meio de um fundo pessoal bancado por milionários. Virou o jogo em um discurso lacrimoso na tevê. Mostrou a família e disse que o único presente que de fato ganhou era seu cachorro "checkers".
Pode-se dizer que a presença da exuberante vereadora Cristiane Brasil (PTB) cumpriu a função "checkers" para o pai, o deputado cassado Roberto Jefferson. Linda, loira, articulada, ela deu entrevistas em sua defesa, apareceu no Congresso no dia da cassação e mostrou que o homem que denunciou o mensalão também tem família. "Não fiz deliberadamente. Mas é ótimo. Ele tem uma família, que o ama muito", derrete-se.
Advogada, a vereadora assume todas as funções possíveis para uma mulher na crise. Inclusive a de musa. "Adoro ser bonita! Meu cabelo é natural e é meu patrimônio. Mas quero mesmo é virar exemplo de beleza associada à inteligência." Quando surgiu no Congresso Nacional, notou que os parlamentares desviavam o olhar dos depoimentos para acompanhá-la. Aos 30 anos mãe de dois filhos, separada - mas agora namorando -, ela seguiu adiante. "Gosto se falam sobre a minha aparência. Mas tudo depende do tom do comentário", avisa.
Em alguns casos, as mulheres envolvidas na crise tentam tirar vantagens dela. Ex-assessora da senadora Ideli Salvati (PT-SC), a jornalista Camilla Amaral chamou a atenção enquanto lidava com as informações da CPI dos Correios. Acabou convidada para posar nua na Playboy. Aceitou e disse em entrevista à revista Istoé Gente que quer apenas cuidar de seu futuro.
Carreira política
Fernanda Karina Somaggio, a precursora, abriu sua agenda e revelou os contatos do ex-patrão Marcos Valério. Depois até lançou sua candidatura à capa da Playboy, mas não foi convidada. Agora quer a carreira política. Na semana passada, saiu de Belo Horizonte e embarcou para São Paulo para tentar fechar acordo com um partido.
No final das contas, é inegável que as damas estão botando para quebrar em meio à crise. "E não é só entre as que denunciam, não! Há várias parlamentares com papel brilhante", defende Maria Christina Mendes Caldeira, que foi à Comissão de Ética acusar o ex-marido, Valdemar Costa Neto, de andar com malas de dinheiro e negociar doações ilegais para o PT. Ele renunciou. Ela, saiu do episódio conclamando a mulherada a contar o que sabe. "As pesquisas mostram que somos menos corruptas. Então não podemos deixar que isso aconteça em casa. E, se acontecer, vamos denunciar." Maria Christina não foi chamada. Mas, se fosse, diz que não posaria nua.
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”