A presidente Dilma Rousseff ficou bastante incomodada com as críticas abertas do ex-presidente Lula à sua gestão no encontro que ele teve com religiosos na semana passada. As declarações de que Dilma está no “volume morto”, por causa da baixa popularidade, e, principalmente, de que ela mentiu na campanha à reeleição ao dizer que não mexeria em direitos trabalhistas e não faria ajuste fiscal foi o que causou mais mal-estar no governo.
A presidente confidenciou a ministros próximos não ter gostado do que Lula disse, mas que entende o discurso. Na avaliação do Planalto, Lula falou para agradar à plateia, sem se dar conta de que a Igreja Católica tem mantido uma visão crítica do governo. Ele também teria tentado agradar os lulistas, as correntes do PT que têm se posicionado contra o ajuste fiscal. Mas, para os mais próximos a Dilma, ao bater no governo, Lula acaba atingindo também a construção de sua candidatura para 2018 — o que só agradaria a oposição. Ainda sim ministros petistas defenderam Lula. Para um deles, Lula foi traído pelo vazamento da conversa. “Teremos uma semana de ruídos”.
A principal preocupação é com o trecho em que o ex-presidente afirma que Dilma errou ao dizer, durante a campanha, que não mexeria em direitos trabalhistas “nem que a vaca tussa”. E mexeu, disse Lula, contrariando a versão do governo de que houve apenas ajustes em benefícios como seguro-desemprego, abono salarial e pensões. Na conversa revelada pelo GLOBO no sábado, Lula também lembrou que Dilma afirmou na campanha que não faria ajuste, que era “coisa de tucano”. Lula disse que Dilma não só fez, como mereceu ser alvo de propaganda do PSDB na TV que a acusou de mentir. Sobraram queixas até para o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante.
Diante das críticas abertas de Lula, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), fez questão de “colar” o ex-presidente ao governo de Dilma. O tucano argumentou que Lula não pode fugir à responsabilidade pela situação atual ao usar como estratégia os ataques à sua sucessora. Para ele, o governo está “sitiado”.
“Acho que o presidente Lula, mais do que ataques à atual presidente, sua criatura, tem que reassumir sua parcela de responsabilidade pelo que vem acontecendo no Brasil. E não há como descolar uma coisa da outra: o governo é o PT, o governo é Dilma, o governo é Lula. Foi assim nos momentos positivos e será assim nesse momento de grandes dificuldades. Lamentavelmente, essa obra é uma obra conjunta do ex-presidente Lula, da presidente Dilma, e, obviamente, do PT”, disse Aécio, derrotado por Dilma na eleição presidencial de 2014.
Aécio atribuiu à “crise moral sem precedentes” a aprovação de apenas 10% de Dilma na última pesquisa Datafolha. Na sondagem, o tucano aparece na liderança das intenções de voto para a Presidência em 2018 com 35%, contra 25% de Lula. “Essa não é a agenda do momento. O PSDB tem outras responsabilidades que antecedem a disputa de 2018, que é fiscalizar as ações do governo, denunciar as irregularidades e apresentar alternativas”, desconversou.
No Planalto, a expectativa é que Dilma só recupere sua popularidade quando a economia começar a reagir, o que é projetado para o ano que vem, talvez com uma pequena retomada no final deste ano.
Enquanto isso, o governo pretende apostar na agenda positiva, como o lançamento da terceira fase do Minha Casa Minha Vida, o programa Banda Larga para Todos, investimentos no setor energético e o já lançado plano de concessões em infraestrutura.
Nesta segunda-feira, Dilma lançou o Plano Safra para a agricultura familiar. Cobrada por Lula por não oferecer “boas notícias”, Dilma fez um esforço ontem ao anunciar aumento de 20% nos recursos em relação a 2014, mesmo percentual aplicado ao Plano Safra para médios e grandes produtores. No total, serão liberados R$ 28,9 bilhões para os pequenos. Ao lado de Dilma, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, anunciou a ampliação do Minha Casa Minha Vida em áreas rurais e um novo plano de reforma agrária, um aceno para movimentos sociais. Dilma é criticada por ter assentado, em média, menos da metade de famílias do que Lula e Fernando Henrique.
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