Apesar dos problemas constantes com nevoeiro, que vêm transformando num inferno a vida dos passageiros no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Cumbica, o terminal não terá até o final de 2008 um equipamento capaz de ajudar os pilotos a operarem com visibilidade zero. O superintendente regional da Infraero, Edgar Brandão Júnior, diz que o ILS (Instrument Landing System) de categoria 3, que orienta as operações quando há falta total de visibilidade, custa muito caro para ser pouco utilizado no terminal de Guarulhos. No orçamento da estatal, não há recursos destinados a essa aquisição este ano e no próximo.

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- Não existe no planejamento de investimentos para 2007 e 2008 a previsão de compra do ILS de categoria 3. O equipamento custa caro e não há demanda para isso no Brasil, um país tropical que passa uma vez ou outra por um problema como esse - afirma o superintendente da Infraero, por meio da assessoria de imprensa.

A meteorologia está contradizendo esse argumento. Só nesta semana, na madrugada de segunda para terça-feira, Cumbica ficou fechado pelo maior período do ano. Foram 6h40m interrompidas para pousos e decolagens. Contando apenas os pousos, a interrupção passou de 8 horas. No dia 25 de março, o aeroporto também teve um fechamento prolongado - das 5h às 8h30m em razão do nevoeiro. No ano passado, de acordo com a Infraero, houve um fechamento de apenas uma hora em 365 dias, o que na avaliação da Infraero justificaria não investir num equipamento mais moderno de orientação aos pilotos, como existem em grandes aeroportos de Nova York ou Londres.

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Atualmente, Cumbica tem dois equipamentos que ajudam nas operações quando há neblina. O ILS-1 é utilizado para visibilidade até 800 metros. O ILS-2 é colocado em funcionamento para visibilidade entre 799 metros e 400 metros. Abaixo de 400 metros, o aeroporto é fechado para pousos e abaixo de 100 metros para pousos e decolagens. Segundo a Infraero, entre abril e junho de 2006, as operações por instrumento chegaram a 67 horas (18 dias de nevoeiro). No mesmo período deste ano, foram 62 horas de operação por instrumento (em 16 dias de situação de nevoeiro).

Em março, o ILS-2 não estava funcionando. O equipamento queimou depois de ser atingido por um raio. Sem poder funcionar, as aeronaves não conseguiam decolar enquanto o aeroporto estivesse com neblina. Mais de 500 vôos atrasaram e a confusão foi grande no embarque.

Para trabalhar com o ILS-3 as aeronaves também precisam de um aparelho para ler as orientações do aeroporto, o que não é o caso de boa parte das aeronaves que fazem vôos domésticos. Além disso, os pilotos também precisam ser treinados para decolar com a visibilidade reduzida.

Segundo representantes do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (SNEA), os pilotos internacionais estão habilitados para operar com o ILS-3. Já os que voam em território brasileiro precisam de um treinamento, "mas isso pode ser feito rapidamente, em apenas um mês". As companhias aéreas dizem que já fizeram a sua parte, popularizando o serviço aéreo, e agora é a vez do governo de investir.

- Os problemas com o nevoeiro vão continuar existindo até que haja uma decisão de investimento na compra de um aparelho mais moderno para orientar os pousos - diz a assessoria de imprensa da SNEA.

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Segundo matéria da CBN, parlamentares da CPI do Apagão Aéreo informaram que a ANAC já tem medidas em estudo para conter o caos nos aeroportos. Uma delas passa para as empresas aéreas a responsabilidade de transmitir informações para os painéis eletrônicos nos terminais. Além disso, a Aeronáutica informou à CPI que está em análise a instalação de novos equipamentos de ILS, que viabilizam os pousos e decolagens em situação de neblina. mas ninguém falou em datas ou prazos. O presidente da Comissão, Marcelo Castro, se diz esperançoso com as prováveis medidas, mas acha que a solução não virá de imediato.

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