Faz cerca de um ano que sempre que o cearense Eduardo Cunha, 24, tenta fazer um cadastro, a história se repete. “As pessoas começam a rir, como quem diz ‘não acredito’, conta ele. A culpa é de seu xará famoso, o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Cunha (o cearense) conta que desde que Cunha (o carioca) começou a ganhar notoriedade, ao ser eleito para a Presidência da Casa, no começo de 2015, passou a receber ofensas de desconhecidos pela internet. Já recebeu mensagens “perguntando se eu sou ladrão, se tenho conta na Suíça [referência às contas secretas mantidas pelo deputado no exterior]”. “Algumas pessoas me marcam em postagens, gente que eu nem conheço, me xingando.”
Cineasta, ele passou a precisar de uma introdução para apresentar seus curtas-metragens. “Eu sempre começo assim: ‘Meu nome é Eduardo Cunha, mas não saiam correndo...’ Digo que sou o ‘Cunha do bem’“, ri.
Se um é deputado, o outro cineasta, um é carioca, o outro cearense e estão separados por 33 anos de vida, os dois Eduardos Cunhas, no entanto, tem algo em comum: um amigo chamado André Moura.
No caso do cearense, é André Moura Lopes, conterrâneo e colega de profissão. No do deputado afastado, André Moura (PSC-SE), seu braço direito e atual líder do governo na Câmara. “Parece piada”, diz o Cunha anônimo.
O amigo diz não se incomodar. “O André Moura ainda não é tão conhecido. Eu conheci ele quando o Cunha veio à tona, no ano passado, como um aliado [do presidente da Câmara]”.
Segundo ele, só alguns amigos vieram ‘tirar piada’ quando o deputado, que é alvo de três acusações penais no STF e é investigado sob suspeita de tentativa de homicídio, foi escolhido como líder do governo de Michel Temer na Câmara, em 17 de maio. “Sou mais eu que faço mesmo, marco o Eduardo em posts no Facebook, mas fica mais restrito a isso”, diz.
Ao contrário de Moura, a atriz e estudante Branca Temer, 29, afirma estar incomodada com o o assédio que vem enfrentando desde que Michel Temer (PMDB) assumiu o governo federal interinamente, após o afastamento de Dilma Rousseff, no dia 12 de maio.
“As pessoas têm falado comigo já com um pé atrás, principalmente na classe artística, que é muito anti-Temer.”
Ela, que é aluna do curso de comunicação social da PUC-Rio, teve uma supresa ao checar a lista com os nomes dos formandos no dia 31 de maio. No lugar de “Branca Temer”, alguém havia rabiscado, à caneta, “Fora Temer”. “Fiquei me sentindo super mal”, diz ela, que não tem parentesco com o peemedebista.
Gravações
Outro homônimo de um político conhecido teve um dia difícil na segunda (23), quando a reportagem revelou o áudio da conversa entre o senador Romero Jucá (PMDB-RR) e o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, a respeito da operação Lava a Jato.
A conversa trazia menções ao senador Aécio Neves (PSDB-MG), e logo a internet se encheu de piadas. Em São Paulo, o publicitário Aécio Vieira, 23, já esperava a sua vez. “Tinha certeza que a piada viria”, diz. Não tardou para um amigo postar em seu Facebook uma montagem com uma das frases sobre o senador e a foto do jovem.
O nome dele, que ao contrário do senador é paulistano, foi escolhido pelo pai, que o leu em uma revista e gostou. Apesar de não ser nomeado em homenagem ao político, o publicitário diz que a associação é inevitável.
“Isso acontece quase diariamente, tudo é motivo para brincadeira”, conta.
Brincadeira que se estendeu até os próximos – durante as eleições de 2014, em que Aécio (o Neves) concorreu contra Dilma a namorada de Aécio (o Vieira) foi apelidada de “primeira-dama”.
“Eu levo tudo na brincadeira, tento achar um lado positivo”, diz o jovem, 32 anos mais novo que o senador. “É um nome diferente, então eu falo ‘Aécio’ e a pessoa entende ‘Edson’. Aí eu digo ‘não, que nem o Neves’ e sabem na hora."
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