Ex-deputado e preso nesta quarta-feira (19) na Operação Lava Jato, Eduardo Cunha (PMDB) deixou rastros suspeitos pelo Paraná. Acusado de corrupção e lavagem de dinheiro, o parlamentar também teve seu nome envolvido no caso Banestado (que investigou remessas ilegais de dinheiro ao exterior nos anos 1990 por meio do extinto banco do governo estadual) e é acusado de suposto favorecimento à construtora paranaense Grande Piso em licitações de projetos habitacionais no Rio de Janeiro.
As relações com o Paraná se estendem também ao processo por improbidade administrativa que ele responde na Justiça Federal do estado. Além disso, Cunha está ligado à refinaria privada de Manguinhos, que mudou parte da sede para o Paraná para supostamente escapar da cobrança de impostos no estado fluminense – veja mais.
Início
As pegadas de Cunha no estado iniciaram no fim da década de 90, quando foi deflagrada a Operação Banestado, que se referia a um escândalo de evasão de dezenas de bilhões de reais do banco paranaense e também teve Sérgio Moro como juiz do caso.
Um dos anexos de denúncia por improbidade contra o Cunha traz um documento de oito páginas com pedido de análise de transferência bancárias em nome dele. São apontados registros de três movimentações suspeitas ligadas ao caso Banestado. Duas delas – em setembro de 2000 e de um ano depois – no valor de US$ 11,5 mil cada uma, segundo o processo, referem-se a pagamentos realizados “em benefício” dele.
Também há o registro de movimentação financeira que teve como ordenante a empresa Netherton Limited, que transferiu, em agosto de 1998, US$ 60 mil dólares de sua conta no Citibank para o MTB Bank de Nova York. Segundo a denúncia, Cunha é o proprietário das contas do truste Netherton.
Do céu ao inferno: a trajetória de Eduardo Cunha
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Outra situação com indício de irregularidade seria uma ponte corruptiva entre os estados do Paraná e Rio de Janeiro envolvendo a empresa Grande Piso, que tinha sede na Região Metropolitana de Curitiba. O caso foi remetido no ano passado para o Supremo Tribunal Federal (STF). O Ministério Público do Rio de Janeiro acusou Cunha, que era presidente da Companhia Estadual de Habitação (Cehab) do governo fluminense de 1999 a 2000, de direcionar uma licitação na Cehab para favorecer a Grande Piso, uma microempresa que se transformou em construtora e ganhou quatro contratos durante os seis meses em que Cunha esteve à frente da companhia. O valor dos contratos era de R$ 34 milhões.
A Grande Piso pertencia ao empresário Roberto Sass, que foi do extinto PRN do ex-presidente Fernando Collor na mesma época de Cunha. O deputado afastado chegou a ser secretário da Executiva do PRN e presidente da Telerj no governo Collor. O registro da empresa foi cancelado no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea). A reportagem não conseguiu entrar em contato com a defesa de Sass.
Sem se manifestar
A assessoria de imprensa do deputado federal afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) informou que não irá se posicionar sobre nenhum assunto abordado na reportagem.
Deputado seria o “protetor” de dono de refinaria enrolada com o Fisco
A Refinaria de Manguinhos, de propriedade de Ricardo Magro, empresário que contaria com a proteção de Eduardo Cunha, mudou parte do escritório administrativo para o Paraná em meados de 2011. A tática foi supostamente para a empresa escapar do Fisco do estado do Rio de Janeiro, onde acumulava uma dívida superior a R$ 800 milhões em impostos. O grupo empresarial da refinaria instalou em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba, uma distribuidora, a Gasdiesel.
Em 2010, a relação de Cunha com a empresa chegou ao conhecimento público. Em reportagem publicada em 2010 pelo jornal O Globo, Cunha confirmou ter conversado diversas vezes, “por telefone e pessoalmente”, com Magro. Recentemente em delação premiada, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró chegou a afirmar que o parlamentar afastado teria pressionado em 2013 executivos da estatal BR Distribuidora para comprar a refinaria de Manguinhos com o intuito de receber propinas.
Em 2013, a refinaria chegou a entrar com um processo de recuperação judicial na Justiça do Paraná. Mas, no início do ano seguinte, o processo foi transferido para o Rio de Janeiro. A decisão abrangeu não apenas o processo de recuperação da refinaria, como também das demais empresas do grupo – incluindo a Gasdiesel.
Outro lado
Por nota, a refinaria informa que não fez qualquer alteração de sua sede administrativa, que permanece no Rio de Janeiro e que a empresa está em processo de recuperação judicial. Segundo a refinaria, não há “nenhum tipo de envolvimento” de Eduardo Cunha com a empresa.
“Nem a refinaria e muito menos seus acionistas tiveram qualquer tipo de interesse de venda para qualquer empresa e muito menos para BR Distribuidora. A delação é baseada em uma suposição de um terceiro sem qualquer tipo de prova”, diz a empresa.
Cunha mantém estreita ligação política com o Paraná
Eduardo Cunha sempre pareceu apreciar o Paraná. Foi em Curitiba, por exemplo, que – no cargo de presidente da Câmara – optou por lançar um projeto chamado Câmara Itinerante, por meio do qual ele pretendia visitar os 26 estados em 2016.
O programa foi lançado no dia 20 de março de 2015 na Assembleia Legislativa do Paraná, e depois Cunha reuniu-se com o governador Beto Richa (PSDB). Em abril de 2015, o governador viajou até Brasília para se encontrar com o então presidente da Câmara.
Antes, em janeiro daquele ano, foi Richa quem recebeu uma visita de Cunha. Além disso, coube ao parlamentar dar respaldo para que Fernando Francischini (SD) deixasse o posto de secretário estadual de Segurança após o chamado “Massacre do dia 29 de Abril” e voltasse ao cargo de deputado.
Cunha também escolheu Curitiba como uma das primeiras cidades para iniciar em dezembro de 2014 a campanha para a presidência da Câmara dos Deputados. Após passar algumas horas em Campo Grande (MS), ele desembarcou na capital paranaense para tentar arregimentar votos. Cunha participou de reuniões com o governador Richa, o prefeito Gustavo Fruet (PDT), o então presidente da Assembleia Legislativa, Valdir Rossoni (PSDB), além de deputados e secretários de governo.
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