Tido como “malvado favorito” para muitos dos que apoiaram o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), passará de pedra a vidraça a partir desta segunda-feira (18). Com o afastamento da petista dado como certo no Senado, o novo centro das atenções em Brasília deverá ser o processo de cassação do mandato dele no Conselho de Ética da Casa.
Rei da manobra, porém, o peemedebista já articulou a troca de um integrante do grupo que votou pela admissibilidade do caso, o que lhe garantiria maioria a partir de agora. Entre os deputados, a cassação de Cunha é tratada como improvável. No máximo, ele deixaria a Presidência da Câmara, mas manteria o mandato – e o foro privilegiado −, a exemplo do que fez Renan Calheiros (PMDB-AL) quando presidia o Senado, em 2007.
No Congresso, é ponto pacífico que o processo do impeachment só vingou pela atuação de Cunha. Nas palavras de um parlamentar do Paraná, o peemedebista bancou o caso “no peito e na raça, aguentando todo tipo de pancada” devido às delações e provas colhidas contra ele no âmbito da Operação Lava Jato.
Com esse cacife adquirido entre a esmagadora maioria de colegas pró-impeachment e, evidentemente, junto ao vice Michel Temer (PMDB), a única salvação para Cunha seguir no comando da Câmara seria tentar votar uma “agenda positiva” para o país. “Se o problema era a Dilma, agora ele vai fazer as coisas andarem com o Temer. Vai votar projetos, medidas provisórias, tudo o que for possível”, projeta outro deputado paranaense.
A tentativa, no entanto, dificilmente dará certo. Parlamentares ouvidos pela reportagem apostam que o poder de Cunha minguará sem o coringa do processo de impeachment nas mãos dele; e que, na Presidência da Câmara, ele vai representar mais ônus do que bônus para Temer. “O governo Temer será um governo de muita crise. Muita gente do PMDB está envolvida na Lava Jato, e coisas novas não pararão de surgir – inclusive em relação ao Cunha”, afirma um deputado do Paraná.
Segundo ele, antes mesmo de domingo (17), havia uma pressão muito grande dos líderes partidários para que Cunha se afaste do comando da Casa depois de ter “cumprido o seu papel” no processo do impeachment. “Foi um período de muito desgaste para os líderes, que sempre eram cobrados pela imprensa em relação à situação do Cunha, de como o Conselho de Ética está capenga.”
Já haveria, inclusive, um acordo de cavalheiros entre Cunha e partidos da oposição para que ele saia da Presidência e, em troca, seja absolvido no conselho. Além disso, ele próprio articulou na última semana a mudança de Fausto Pinato (PP-SP) no grupo pela deputada Tia Eron (PRB-BA). A alteração inverteria a favor do peemedebista o placar de 11 a 10.
“Ele mexeu estrategicamente no tabuleiro e já tem maioria no conselho. E isso é um filtro: não passou lá não vai para lugar nenhum. Seguramente, cassado ele não vai ser”, resume um parlamentar paranaense.
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