Irritado com a movimentação -apoiada pelo Planalto- de Leonardo Picciani (PMDB-RJ) para substituí-lo no comando da Câmara dos Deputados, o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), iniciou articulação para enfraquecer o correligionário e, também, criar novos problemas para projetos do governo.
Cunha quer inviabilizar a recondução de Picciani em fevereiro à liderança da bancada do PMDB, o que sepultaria as chances do correligionário vir a sucedê-lo. E ameaça vingar-se do Planalto, postergando a votação de projetos como a DRU (mecanismo que desvincula verbas do Orçamento e facilita o ajuste fiscal na boca do caixa do Tesouro).
Em encontro com o vice-presidente Michel Temer, na quarta-feira (4), Cunha manifestou irritação com a tentativa de Picciani de costurar apoios ao seu nome em partidos da base aliada, como PP e PR, no momento em que se discute a cassação do mandato do presidente da Câmara dos Deputados no Conselho de Ética.
Em retaliação ao movimento, Cunha começou a trabalhar para desidratar o apoio ao nome de Picciani na bancada do PMDB na Câmara e fortalecer a candidatura do deputado federal Leonardo Quintão (PMDB-MG), que conta com o apoio da bancada de Minas Gerais.
Para Cunha, a movimentação em torno de sua sucessão tem a digital da presidente Dilma Rousseff, que se reuniu na quarta-feira (4) com Leonardo Picciani e Jorge Picciani, pai do peemedebista e presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, no Palácio do Planalto.
No encontro, marcado para discutir a eleição municipal no Rio de Janeiro em 2016, foi abordada a sucessão da Câmara dos Deputados caso Cunha perca o mandato. Segundo o Ministério Público Federal, o peemedebista manteve quatro contas secretas na Suíça: duas fechadas no ano passado e duas bloqueadas em abril, com saldo de US$ 2,4 milhões.
O Palácio do Planalto tem simpatia com a candidatura de Picciani e deu sinal verde para que o atual líder do PMDB articule sua candidatura, mas não quer se envolver diretamente no processo.
A preocupação é que um debate sobre a sucessão de Cunha neste momento possa piorar a relação do governo com o peemedebista, que ameaça dar prosseguimento a processo de impeachment contra a presidente, e prejudicar as votações das medidas fiscais no Congresso.
O adiamento da votação na quarta-feira (4) na Câmara dos Deputados do projeto de repatriação de recursos do exterior, por exemplo, surpreendeu o núcleo duro da presidente, que havia elencado sua aprovação como uma das prioridades desta semana no Legislativo.
A avaliação é que a reforma ministerial e a distribuição de cargos de segundo e terceiro escalão não conseguiram reestruturar a base aliada na Câmara dos Deputados, o que torna o governo ainda dependente de Cunha.
Apesar de contar com a simpatia da presidente, assessores e auxiliares da petista consideram improvável que Picciani consiga apoio suficiente para viabilizar seu nome depois de ter batido de frente com os deputados para indicar dois ministros na reforma ministerial.
O diagnóstico é o mesmo da cúpula nacional do PMDB, que avalia que apenas um nome do partido sem o rótulo de governista conseguirá apoio suficiente para assumir o comando da Câmara dos Deputados.
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