| Foto: Antônio Cruz /Agência Brasil

Em rota de colisão com o Planalto desde que assumiu a presidência da Câmara dos Deputados, no início do ano, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) rompeu definitivamente com governo nesta sexta-feira (17), migrando para a oposição. “Teremos a seriedade que o cargo ocupa. Porém, o presidente da Câmara é oposição ao governo”, disse.

CARREGANDO :)

Na TV, deputado prega independência entre os Poderes

No seu pronunciamento nesta sexta-feira (17) em cadeia nacional de tevê, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), pregou a independência entre os Poderes e disse que nunca o Legislativo trabalhou tanto. “Hoje as principais demandas da sociedade é que estão pautando nosso trabalho”, disse. “A população não aguenta mais esperar.”

Cunha destacou a aprovação da redução da maioridade penal e a transformação de crimes contra policiais em hediondos. Durante o pronunciamento houve “panelaço” contra o deputado em algumas cidades do país, como Rio, São Paulo e Brasília.

Redes sociais

Depois do rompimento de Cunha com o governo, a hashtag #CunhaNaCadeia foi uma das mais comentadas das redes sociais nesta sexta, e se manteve entre os assuntos mais falados no Twitter durante o pronunciamento do parlamentar. A maioria dos comentários eram críticas ao político, lembrando da denúncia de que ele teria recebido propina de US$ 5 milhões.

Publicidade

Cunha responsabiliza o Planalto pelo seu envolvimento nas investigações da Operação Lava Jato. Para ele, há uma articulação do governo para jogá-lo no centro da investigação. Na quinta-feira (16), ele foi acusado pelo lobista Júlio Camargo de receber US$ 5 milhões de propina. Ele nega as acusações. “Tem um bando de aloprados no Planalto que vive desse tipo de circunstância, de criar constrangimentos. O governo não me engole, tem um ódio pessoal contra mim, faz tudo para me derrotar”, disse.

Janot

Cunha disse ser vítima também de perseguição do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Para o peemedebista, Janot “está a serviço do governo”. “É um constrangimento a um chefe de Poder”, ressaltou ele.

A estratégia, extremamente arriscada, já começa a produzir efeitos colaterais. Dos dois lados. De imediato, o PMDB, sigla de Cunha, se apressou em dizer que não compunha com o presidente da Câmara. Posicionamento que logo foi seguido pela oposição.

No PMDB, a ordem é deixar Cunha isolado para evitar que os ataques do presidente da Câmara tenham efeitos sobre a aliança da sigla com o Planalto. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), também investigado na Lava Jato, cancelou entrevista para fazer um balanço do semestre e manteve-se em silêncio sobre os ataques de Cunha.

Publicidade

“É uma posição dele, não é partidária. É um ato pessoal. O PMDB entrou [no governo] pela porta da frente. Queremos candidato próprio [à Presidência] em 2018, mas no momento adequado vamos acabar a aliança pela porta da frente. Não por uma porta lateral”, afirmou o senador Eunício Oliveira (CE), líder do PMDB no Senado.

O senador Romero Jucá (PMDB-RR) disse que Cunha reagiu por ser vítima de um “excesso” das investigações, mas tomou uma posição individual. Crítico do governo Dilma, Jucá disse que adota postura “independente”, mas não está rompido com o Planalto, ao contrário do presidente da Câmara. O peemedebista se diz “bombeiro” do atual momento de crise.

A oposição, por sua vez, classificou como “muito grave” o anúncio feito pelo peemedebista. O grupo teme que sua decisão crie uma crise institucional, levando a um agravamento da crise política e econômica pela qual passa o país. Eles veem o movimento com cautela e defendem as investigações contra o presidente, sem que Cunha seja poupado por declarar guerra à presidente Dilma Rousseff, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário. Até o momento, apenas o Solidariedade declarou apoio a Cunha publicamente. “Vislumbro um quadro muito difícil nesse segundo semestre. Há uma instabilidade institucional agravada. Ele declarou publicamente guerra ao governo”, disse o líder do Democratas na Câmara, Mendonça Filho (PE).

CPI

Cunha, porém, não perdeu tempo. Poucas horas após ter oficializado o rompimento com o governo, promoveu a primeira ação contra o Planalto. Ele autorizou a criação de uma CPI que investigará irregularidades de empréstimo pelo BNDES – e que deixa o governo bem preocupado.

As CPI será instalada em agosto, quando o Congresso retornará do recesso.

Publicidade

Planalto cobra “imparcialidade”

  • são paulo

Após o anúncio oficial da ruptura com o governo Dilma Rousseff por parte de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a Secretaria de Comunicação da Presidência da República afirmou em nota que o Palácio do Planalto espera que a postura “não se reflita nas decisões e nas ações” da presidência da Casa, que “devem ser pautadas pela imparcialidade e pela impessoalidade”. “O Presidente da Câmara anunciou uma posição de cunho estritamente pessoal. O governo espera que esta posição não se reflita nas decisões e nas ações da Presidência da Câmara, que devem ser pautados pela imparcialidade e pela impessoalidade”, diz o texto.

O governo diz ainda que o país vive um momento de “importantes desafios” e que, por isso, os Poderes “devem agir com comedimento, razoabilidade e equilíbrio na formulação das leis e das políticas públicas”. Nos bastidores, a avaliação é a de que o governo deve “afastar” a crise do Legislativo e “não entrar no jogo” de Cunha.

Afastamento

A bancada do PSol na Câmara emitiu nota nesta sexta em que pede que Cunha se afaste da presidência da Casa.“Inaceitável que se confundam denúncias feitas contra Eduardo Cunha e Renan Calheiros [presidente do Senado] como um ‘ataque ao Congresso Nacional’”. Vice-líder do governo na Câmara, Sílvio Costa (PSC-PE) também o cobrou a saída de Cunha.