Pressa dos novatos causou turbulência
O conflito entre PMDB e PT poderia ter sido evitado se os ministros tivessem mais paciência na formação de suas pastas. A opinião é compartilhada por dois deputados federais do Paraná com trânsito no comando nacional de suas legendas: André Vargas, secretário de Comunicação do PT, e Rodrigo Rocha Loures, que faz parte da executiva nacional do PMDB.
As lideranças nacionais do PMDB iniciaram ontem uma movimentação para pôr panos quentes na disputa por cargos no Planalto embate que pode refletir na eleição para a presidência da Câmara e na votação do salário mínimo. De um lado, o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), garantiu que seu partido votará um reajuste do benefício superior a R$ 540 somente se for compatível com as contas públicas. Do outro, o líder da legenda na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), ressaltou que o candidato do PMDB para presidir a Casa é o petista Marco Maia (RS). Entretanto, as bases peemedebistas continuam a dar sinais de que podem se rebelar contra as orientações da presidente Dilma Rousseff (PT) como protesto contra a falta de cargos no Planalto.
Menos de 24 horas depois de o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ter dito que a presidente vetará qualquer proposta de salário mínimo "diferente" dos R$ 540,00 propostos pela equipe econômica, o PMDB desafiou o governo e deixou claro que não aceitará imposições do Palácio do Planalto. De imediato, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) anunciou ontem a sua decisão de apresentar uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) alterando as regras para derrubar vetos presidenciais. Conforme o artigo 66 da Constituição, se o Congresso quiser derrubar um veto presidencial, os parlamentares têm de fazê-lo por maioria absoluta das duas Casas reunidas em sessão conjunta, no prazo de 30 dias a contar do recebimento da mensagem do Planalto. Cunha vai propor uma regra que facilite a derrubada desses vetos presidenciais, estabelecendo uma tramitação semelhante à das Medidas Provisórias.
Diante disso, o líder Henrique Alves divulgou nota oficial destacando que "chegou a hora de o plenário debater e votar" o valor do mínimo, fixado pelo presidente Lula por meio de Medida Provisória. Disse que quer antecipar a discussão e fazê-la em torno de números e razões, e não baseado em emoção e demagogia.
Em seguida, mencionou as "graves repercussões" do reajuste nas finanças dos estados e municípios para tentar negar que o PMDB esteja usando o mínimo para retaliar o governo. "Misturar esse tema com a definição de cargos na composição natural do governo é uma absurda e imperdoável irresponsabilidade."
Cargos
Mesmo tentando abafar o descontentamento do partido, a cúpula do PMDB deixou claro que vai cobrar da presidente Dilma Rousseff o que, afirmam, lhes é devido na condição de "sócios da vitória". Em uma reunião na noite de terça-feira na casa da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, dirigentes do PMDB decidiram exigir a montagem de um protocolo de divisão mais igualitária do poder com o PT e o respeito aos espaços do partido e assento nos conselhos que definem os rumos políticos e as medidas do governo.
A cúpula peemedebista não aceita ficar de fora das reuniões do núcleo do poder no Palácio do Planalto, o que já estava avisado desde a campanha presidencial. Avalia que é hora de demonstrar unidade, não só para garantir presença em todos os conselhos políticos de Dilma, como para evitar que petistas ocupem ministérios do PMDB, avançando sobre posições da legenda no segundo escalão federal.
Orientado em boa parte pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, que abriu o debate durante o jantar, sobre o tamanho da representação do partido, o PMDB decidiu que não deve se desgastar tratando de cargos no varejo. A opção, sugeriu o ministro, é definir com a presidente o real status do partido no poder. "E logo", aconselhou Jobim.
Estavam no jantar, além do ministro da Defesa e do vice-presidente da República, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), todos os ministros peemedebistas e parlamentares da sigla. O partido o encarregou Temer de levar os problemas e as demandas a conhecimento da presidente.
A ordem é não lamentar postos já perdidos. "O que passou, passou", disse Roseana, quando um dos convidados citou as presidências da Eletrobrás e da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Entre as posições que o PMDB não quer perder de forma alguma para o PT foram mencionadas a presidência da Transpetro e diretorias na Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil.
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