Curitiba e Brasília são as cidades que controlam melhor o diabetes tipo 2, desordem provocada por maus hábitos alimentares e de vida. Essa é uma das conclusões do "Estudo Epidemiológico do Diabetes no Brasil: Grau de Controle Glicêmico e Complicações", o maior já realizado no Brasil sobre a doença, que envolveu 6.702 portadores de diabetes. Belo Horizonte é a capital que tem o diabetes tipo 1, de origem genética, mais controlado. Enquanto a capital do Paraná ficou à frente com tratamento com insulina, Brasília lidera o controle de diabetes com medicamentos orais, os primeiros recursos para controle das taxas de glicose.

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Para se chegar aos resultados, os médicos submeteram os voluntários ao teste de hemoglobina glicada, um indicador que mostra o comportamento das taxas de glicose durante três meses. Segundo as associações de diabetes americana e brasileira, o melhor índice é manter a taxa em até 7%.

-- Ao contrário da medição da glicose em jejum, que varia diariamente, a hemoglobina glicada não varia a curto prazo. É o melhor indicador do controle do diabetes -- explica Moreira, destacando que, na Europa, já se trabalha com um percentual menor: 6,5%. -- Eles estão buscando um controle ainda mais rigoroso.

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Segundo o pesquisador Edson Duarte Moreira Jr., da Fiocruz da Bahia, que conduziu o estudo, o ranking não coloca as capitais numa posição de tranqüilidade. Ele explica que o levantamento mostrou que apenas 25% dos brasileiros diabéticos têm a doença controlada. O diabetes atinge entre 5% e 7% da população adulta, e entre esse grupo 90% desenvolvem o tipo 2. A previsão é de que entre o ano 2000 e 2030 a incidência dobre tanto em países ricos quanto nos em desenvolvimento.

-- Essas capitais estão um pouco à frente da média nacional, mas isso não significa que não precisem melhorar o controle ainda mais - explica o médico, que é chefe do Centro de Pesquisas Clínicas da Fundação Irmã Dulce, em Salvador.

Moreira Jr. destaca que não controlar as taxas de glicose no sangue levará os portadores da doença a complicações graves:

-- O diabetes é a principal causa de cegueira adquirida e de doença renal terminal, que leva os pacientes para a hemodiálise. Ela ainda corresponde a 60% das amputações por causas não-traumáticas.

O pesquisador explica que o estudo, patrocinado pelo laboratório Pfizer, mostra que os pacientes que melhor controlam o diabetes sãos os que se tratam em centros multidisciplinares especializados, os que seguem o tratamento à risca e os que estão mais satisfeito com o tratamento proposto.Inércia clínica compromete

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Mas o médico diz que nem sempre o mau controle é culpa exclusiva dos pacientes. Moreira explica que existe no Brasil uma grande resistência na prescrição da insulina, quando os medicamentos orais não dão resultados. Enquanto na Europa, entre 30% a 40% dos diabéticos tipos 2 são tratados com insulina, no Brasil, eles não passam de 10%. Ele chama esse fenômeno de inércia clínica.

-- O tratamento com insulina é difícil. Em geral, o paciente precisa se auto-aplicar o hormônio diariamente, às vezes, cinco vezes ao dia. Ninguém quer isso. E o médico às vezes fica penalizado e posterga o tratamento. É como se a insulina fosse um castigo. Mas esse atraso tem enorme prejuízo. Os pacientes e os médicos precisam compreender que a meta do tratamento é o controle ideal, seja com medicamentos, seja com insulina. Os benefícios são enormes.