Interesse local
Caso Derosso chamou mais a atenção do que crise no ministério
As denúncias de irregularidades nos gastos com publicidade da Câmara de Vereadores envolvendo o presidente da Casa, João Cláudio Derosso (PSDB), chamaram mais atenção dos curitibanos do que os escândalos no governo federal. De acordo com a pesquisa do Intituto Paraná Pesquisas, 70,53% disseram ter tomado conhecimento da crise no Legislativo municipal.
Dos casos ocorridos em Brasília, o que mais atraiu a atenção foi a "faxina" promovida pela presidente Dilma Rousseff no Ministério dos Transportes 62,2% declararam ter ouvido falar do episódio que provocou a demissão do ministro Alfredo Nascimento. Em segundo lugar, com 51,42% de conhecimento, ficou o escândalo no Ministério do Turismo, que levou à prisão de 36 pessoas suspeitas há duas semanas.
Em penúltimo, ficaram as denúncias no Ministério da Agricultura, que também provocaram a saída do ministro Wagner Rossi (46,14% sabiam do caso). Em último, as suspeitas de corrupção no Ministério das Cidades, com apenas 29,88% de conhecimento. (AG)
Eleitor prefere outros critérios para escolher candidatos
O presidente do Instituto Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, explica que o posicionamento dos candidatos em uma campanha política costuma se amparar em pelo menos um de três valores fundamentais honestidade, honradez (capacidade de cumprir a palavra) e experiência. Segundo ele, a sucessão de escândalos de corrupção no Brasil fez com que os políticos se dedicassem cada vez menos à primeira opção. "Como a população acha que todos os políticos são mais ou menos iguais em relação à corrupção, esse discurso foi sendo esvaziado", opina.
Especialista em pesquisas quantitativas, o cientista político Emerson Cervi, da Universidade Federal do Paraná, diz que os principais critérios de escolha do eleitor ainda passam longe da corrupção. "Não podemos cair em exageros. O cidadão comum está sim preocupado com a corrupção, mas coloca isso depois de outras preocupações. E a principal sempre acaba sendo a economia", diz Cervi.
Ingênuo
Ele também destaca que o eleitor que vota nos envolvidos em corrupção não pode ser visto simplesmente como alguém ingênuo ou desinformado. "Muitas vezes ele aprova as irregularidades porque é um beneficiário delas. Os envolvidos em desvios como os da Assembleia se apropriam do que é público, mas também dão uma parte disso a uma parcela da população." (AG)
Punição nas urnas não é regra no Paraná
Embora o estudo do Instituto Paraná Pesquisas aponte a aversão da maioria dos curitibanos à corrupção, não é regra que os citados em escândalos tenham dificuldades nas urnas. No ano passado, no auge das denúncias sobre os diários secretos na Assembleia Legislativa do Paraná, o presidente da Casa, Nelson Justus (DEM), e o primeiro-secretário, Alexandre Curi (PMDB), foram denunciados pelo Ministério Público por improbidade administrativa. Justus reduziu a votação em relação a 2006, mas acabou reeleito, e Curi foi o recordista de votos no estado.
Pelo menos no discurso, três a cada quatro eleitores curitibanos afirmam que não votam de "jeito nenhum" em um político envolvido em escândalos. A mesma proporção acha importante se informar sobre casos de corrupção e considera que as denúncias feitas pela imprensa servem de estímulo para a fiscalização do poder público.
Apenas 6% topam o estilo "rouba, mas faz", ou seja, admitem o apoio a candidatos envolvidos em irregularidades, mas que trouxeram benefícios à sua comunidade. Outros 20% podem até votar em um suspeito de desvios, desde que ele apresente explicações convincentes.
Os números fazem parte de um estudo do Instituto Paraná Pesquisas sobre a percepção dos eleitores da capital em relação à corrupção e às crises que atingem a Câmara de Vereadores e quatro ministérios do governo federal. A sondagem foi feita com exclusividade para a Gazeta do Povo e ouviu 492 moradores do município maiores de 16 anos, entre os dias 12 a 15 de agosto.
"Os dados mostram que a maioria das pessoas está sim buscando mais informação sobre os políticos e que, a princípio, se propõe a ser mais intolerante à corrupção. Os 25% que ficaram do outro lado são ainda fruto do antigo conceito do voto de gratidão", analisa o diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Augusto de Queiroz. Segundo ele, essa proporção já se refletiu no resultado das eleições de 2010.
"Estudos preliminares indicam que só um a cada quatro fichas-sujas notórios se elegeu. Ainda é um número significativo", complementa. O Diap é o principal órgão de avaliação da atividade e do processo eleitoral no Congresso Nacional.
Recortes
Os resultados da pesquisa sofrem poucas alterações em recortes de gênero e grau de instrução dos entrevistados. A principal diferença ocorre em relação à faixa etária. Jovens de 16 a 24 anos são mais tolerantes aos desvios do que pessoas com 60 anos ou mais no primeiro grupo, 59,79% disseram não votar de jeito nenhum em políticos envolvidos em escândalos, contra 83,33% do segundo.
Por outro lado, 82,47% dessa mesma faixa de jovens dizem achar muito importante se informar sobre casos de corrupção contra 70% dos mais velhos. Na média geral, 22,36% afirmam que preferem se informar sobre outros temas porque "acham política um assunto chato". Nesse aspecto, pesa a instrução 40,28% dos entrevistados com Ensino Fundamental também não gostam de se informar sobre corrupção, contra somente 9,6% dos que cursaram o Ensino Superior.
A pesquisa também apontou que 56% acreditam que a corrupção é o principal problema do poder público no Brasil atualmente. Outros 27,44% consideram a má gestão pública ou a ineficiência na aplicação do dinheiro público.
Na mesma linha, 40,45% dizem que a impunidade é a principal causa da corrupção no país, seguida por 29,47% que apontam o fato de haver "muito dinheiro" nas mãos dos políticos. Outros 11,49% dizem que o motivo é a falta de fiscalização.
Evolução
O presidente da Associação Brasileira dos Magistrados, Procuradores e Promotores Eleitorais, Marlon Reis, afirma que os resultados da pesquisa mostram uma evolução no interesse das pessoas em debater a corrupção. "Quando defendíamos a aprovação da Lei da Ficha Limpa, no fundo era isso que queríamos, que as pessoas refletissem mais. Há muito o que evoluir, mas esse é um bom sinal", opina Reis, que também é integrante do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral.
Interatividade
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