Era começo da manhã desta quarta-feira (27) quando uma fila imensa começou a se formar e a romper com o fluxo comum de pedestres entre as ruas Conselheiro Araújo e Dr. Faivre, no Centro de Curitiba. Centenas de pessoas se aglomeravam uma após a outra, esperando para entrar no ginásio do Círculo Militar do Paraná, onde, pouco depois das 9h30, o ex-presidente e senador uruguaio José “Pepe” Mujica, junto de sua companheira Lucía Topolanski, chegou sob luzes de flash e atendendo a pedidos de selfie.
Críticas à desigualdade e futuro da democracia marcam discurso de Mujica em Curitiba
Leia a matéria completaUm dos políticos mais populares da América Latina, Mujica participou nesta quarta do seminário Democracia na América Latina, organizado pelo Laboratório de Cultura Digital da Universidade Federal do Paraná, com apoio da APP-Sindicato.
As inscrições para participar do seminário foram como descoberta de água em deserto e atingiram a marca de 7 mil em menos de 48 horas. Inicialmente, os produtores do evento esperavam um interesse mais discreto, com 500 participantes, no máximo.
Ao fim, dos inscritos, apenas 3,5 mil foram selecionados. Entre eles, o professor Cláudio Camargo, que sintetizou o que o ex-presidente do Uruguai significa para os latino-americanos: “Ele, sem sombra de dúvida, é uma referência”, disse. Para o professor, o alcance de Mujica não poderia ser menor. E, com igual impacto, segundo ele, apenas mais um: “só Lula atrairia tanta gente”, ponderou.
Do outro lado da rua onde a fila se formava, o representante comercial Gerson Sartori olhava impressionado. Ele conta que nunca tinha visto um aglomerado tão grande por causa de um político, mas arriscou atribuir a popularidade do senador ao que falta no Brasil.
“A falta de seriedade do político brasileiro acaba atraindo todo esse povo para ver o que esse homem fez e que deu certo no Uruguai”.
Resposta
Uma resposta para entender a turbulência política pela qual o Brasil passa parece ser o que muita gente buscava no seminário desta quarta em Curitiba. O pedreiro Nilson Batista de Oliveira, de 53 anos, falou que deixou de lado um dia de trabalho para “dar uma força para a democracia”. Ele disse que, apesar da fila que dobrava quarteirões, a quantidade de participantes não impressionou, já que muita gente estava ali para mostrar uma insatisfação em comum a muitos mais brasileiros.
Foi isso também que levou a aposentada Maria Meira, de 52, a aparecer no seminário. Segundo ela, ouvir o que o ex-presidente uruguaio tinha a dizer era como uma “injeção de ânimo”. “Essa juventude aqui presente busca essa perspectiva de melhoria. De certa forma, todos nós buscamos isso”.
Além de discursar durante a conferência pela manhã, Mujica também vai participar de uma coletiva de imprensa em Curitiba, agendada para as 15 horas.
“Padrão de ética”
Presente do seminário, o senador paranaense Roberto Requião (PMDB) definiu Mujica como um exemplo de ética para todo o mundo. Admirado com o público que o ex-presidente do Uruguai conseguiu atrair, Requião disse que tudo é reflexo da “precarização imensa do processo democrático brasileiro”.
“Eu não falo só do impeachment”, justifica. “Eu falo de que o governo interino está tomando atitudes que não foram autorizadas pela população. É um governo de banqueiros e de interesses geopolíticos de outros países.O povo brasileiro precisa recuperar o seu protagonismo nesse processo”, finalizou.
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