No Sul, Santa Catarina perdeu estudantes jovens| Foto: Hedeson Alves/Gazeta do Povo

Um levantamento feito pela reportagem com base na Pesquisa Na­­cional por Amostra de Domi­­cílios (Pnad) do IBGE mostra resultados aparentemente contraditórios para o Bolsa Família em 2008, na comparação com 2007. Na faixa de 15 a 17 anos, incluída no benefício a partir do ano passado, a taxa de escolarização cresceu de 1 a 7,4 pontos em 20 estados e só recuou em 3. No grupo de 7 a 14 anos, po­­rém, 8 das 27 unidades da Federação viram cair seu porcentual de matriculados em até 1,1 ponto.

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No agrupamento mais velho, cresceram mais de quatro pontos Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Piauí, Sergipe e Minas. No grupo mais jovem, perderam estudantes o Distrito Federal, Santa Catarina, Goiás, Ceará, Rio Grande do Norte, Alagoas, Piauí e Pernambuco. Uma das condições para integrar o programa, que oficialmente completou seis anos no dia 20, é a frequência escolar.

"A mudança das condicionalidades do Bolsa Família é um foco que a gente precisa abordar", de­­fen­­de a coordenadora de Avaliação Educacional do Distrito Federal, Gláucia Guerra. A capital federal tem problemas de estado pobre, perdendo alunos nos dois grupos etários no período – só Rio Grande do Norte também está nessa situação. Segundo a Pnad, o DF registrou menos 0,2 ponto porcentual de matrícula na faixa de 7 a 14 anos, passando de 98,2% para 98%. Na faixa seguinte, a queda foi de 87,6% para 87,4%.

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A defesa de Gláucia de modificações nas condições para ingresso e permanência no Bolsa Família se assemelha à do diretor do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (CPS-FGV), Marcelo Néri. "As condicionalidades do programa ficaram mais obsoletas."

Ele sugere incluir indicadores de desempenho e prêmios, como cadernetas de poupança, para os estudantes. O procedimento foi adotado em Nova York, onde um pro­­grama semelhante ao brasileiro foi atrelado ao avanço escolar dos beneficiários. Néri esclarece, porém, que não defende o estabelecimento de uma nota de corte para todos os alunos. "Se fizer a ava­­liação só pela nota, vai penalizar os pobres, porque 80% do de­­sem­­penho é dado pelo background familiar, e esses jovens vêm de famílias com baixa escolaridade."

As diferenças de resultados dos dois grupos etários do programa, no ano passado, são acentuadas, embora especialistas recomendem cautela na comparação. A escolarização de 7 a 14 anos já se situa em patamar muito alto – o estado com menor taxa, Alagoas, tem 95,9%, segundo a Pnad.

Em contraste, entre os jovens de 15 a 17 há mais espaço para crescer: neles, nenhum estado bateu os 90%, e o que tem menor taxa, Rondônia, mesmo crescendo 1,7 ponto porcentual, foi a 76%, ou seja, ainda tem um em cada quatro jovens desse grupo fora da escola.

No agrupamento mais jovem, apenas nove estados cresceram de 0,5 a 1,1 ponto: Tocantins, Pará, Amapá, Rondônia, Rio Grande do Sul, Amazonas, Acre, Bahia e Mato Grosso do Sul. Nacionalmente, as duas faixas cresceram de 97,6% a 97,9% e de 82,1% a 84,1.

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A secretária nacional de Renda de Cidadania do Ministério do Desenvolvimento Social, Lúcia Modesto, atribui o aumento na escolarização dos jovens de 15 a 17 anos à chegada do Bolsa Família a essa faixa. Ela afirma que o recuo na faixa de 7 a 14, pode ser devido a variações nas amostras da Pnad, ou seja, uma questão de medição.