O banqueiro Daniel Dantas afirmou em depoimento na CPI dos Grampos nesta quinta-feira (16) ter sido vítima de "gravações ilegais" e adulteradas e que seus advogados tinham a preocupação de que juízes de primeira instância que analisavam processos contra ele seriam suscetíveis a corrupção.
Segundo ele, os grampos ilegais que teria sofrido e as adulterações das gravações foram praticados "pela Polícia Federal, pelo delegado Protógenes Queiroz e sua estrutura, não sei se Polícia Federal ou Abin, mas dentro da Operação Satiagraha".
O G1 entrou em contato com um assessor de Protógenes, mas o celular está na caixa postal. O celular do advogado dele não atende. Nos dois casos, a reportagem deixou recado e aguarda resposta.
Sem citar nomes, Dantas afirmou ainda que a informação de que haveria corrupção na primeira instância da Justiça teria chegado a seus advogados por "algumas fontes". "Havia uma preocupação de alguns advogados nossos com a primeira instância, porque havia uma suspeita de que tivesse corrupção [entre os juízes]."
Gravações da Operação Satiagraha mostram assessores de Dantas afirmando estarem preocupados com ações na primeira instância da Justiça porque nos tribunais superiores o banqueiro não deveria ter problemas para se livrar das acusações.
Filho de Lula e Mangabeira
O banqueiro afirmou em depoimento à CPI não ter qualquer relação com o filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Fábio Luís. Afirmou também não ter tido mais contato com Mangabeira Unger, seu ex-consultor, desde que ele assumiu o posto de ministro de Assuntos Estratégicos.
Ele reafirmou que considera ser a disputa pelo controle da Brasil Telecom o objetivo real da Operação Satiagraha. Afirmou que o delegado Protógenes Queiroz escolhe alvos e disse não acreditar que o presidente Lula tinha informações da Operação.
"Essa idéia de que o presidente coordenou e participou da operação, não acho que faça sentido. Sobre o delegado Protógenes, percebi que ali tem uma metralhadora giratória de 270 graus, que poupa alguns. A administração da Brasil Telecom, por exemplo, nunca é atacada pela metralhadora de Protógenes. Se olharmos as omissões vamos entender mais do que olhando as afirmações dele", afirmou o banqueiro.
Suborno
Daniel Dantas apresentou na CPI dos Grampos um laudo para tentar mostrar que a gravação de uma tentativa de suborno a um delegado da Polícia Federal seria falsa. Dantas foi condenado em primeira instância por esta tentativa de suborno, mas destaca que o laudo não ficou pronto a tempo do julgamento feito pelo juiz Fausto De Sanctis. O perito particular Ricardo Molina é o autor do laudo.
A gravação em vídeo mostra um encontro entre o ex-presidente da Brasil Telecom e assessor de Dantas, Humberto Braz, o professor Hugo Chicaroni, e o delegado Victor Hugo Rodrigues Alves. No encontro, estaria sendo negociada a tentativa de suborno, que seria de US$ 1 milhão. Gravações de áudio mostrariam a negociação entre eles.
Satiagraha
Dantas acusou o delegado Protógenes Queiroz e sua equipe de terem feito grampos ilegais durante a Operação Satiagraha. Afirmou ainda que algumas das gravações legais foram adulteradas.
Dantas diz ter sido vítima de grampo ilegal PF recebeu da Telecom Itália, diz banqueiro Empresário afirma não ter lucrado com fusão de empresas
"Tem 300 mil horas de gravação telefônica, parte legal e parte ilegal. Não tive 300 mil horas para sentar e ver todas. Essas gravações estão mutiladas, tem enxertos, subtrações, nao correspondem ao que aconteceu e dizem até que os originais desapareceram, tudo é baseado em cópia", disse o banqueiro.
O banqueiro afirmou que foi o delegado Protógenes Queiroz e sua equipe, onde poderia ter funcionários da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que realizaram as gravações ilegais e fizeram as adulterações nas gravações. "Foram praticadas pela Polícia Federal, pelo delegado Protógenes Queiroz e sua estrutura, não sei se Polícia Federal ou Abin, mas dentro da Operação Satiagraha."
Operação encomendada
O banqueiro ressaltou ainda que agentes da Polícia Federal teriam recebido dinheiro da Telecom Itália dentro da Operação Chacal, na qual o banqueiro foi denunciado por ter contratado a empresa Kroll para realizar supostos grampos ilegais.
Dantas disse que a informação sobre os pagamentos foi divulgada por jornais italianos. "Li nos jornais que houve pagamento de agentes da Polícia Federal pela Telecom Itália no âmbito da operação Chacal". Questionado pelo relator da CPI se o pagamento foi pela realização da operação, Dantas se esquivou. "O que sei é que seria no âmbito da operação."
Kroll
O relator da CPI dos Grampos, Nelson Pellegrino (PT-BA), afirmou nesta quinta-feira (16) após as seis horas de depoimento do banqueiro Daniel Dantas que pretende pedir em seu trabalho final o fechamento da empresa de investigação Kroll no Brasil. O relatório deve ser apresentado na próxima semana.
A Kroll foi contratada pela Brasil Telecom durante a gestão de aliados do banqueiro supostamente para investigar concorrentes. A Polícia Federal acusa a empresa de ter utilizado de meios ilegais neste trabalho, como a realização de grampos telefônicos, o que a empresa nega. Dantas foi denunciado pela contratação da empresa.
Em agosto do ano passado, a Kroll divulgou nota negando que tenha participado de atividades de espionagem, incluindo escutas telefônicas e "invasão de e-mails" .
Dados sigilosos
No início da sessão, Dantas se negou a compartilhar informações sigilosas sobre os processos a que responde com a CPI dos Grampos, onde presta depoimento. Ele negou ter feito diretamente a contratação da empresa Kroll, disse ter sido espionado pela Telecom Itália e confirmou ter sido denunciado à Justiça por violação de sigilo e formação de quadrilha.
Barroso vota por manter exigência de decisão judicial para responsabilizar redes por ofensas
Dias de pânico: o que explica a disparada do dólar e dos juros
Congresso fecha lista do “imposto do pecado”; veja o que terá sobretaxa e o que escapou
Como funciona a “previdência militar” que o Congresso vai rever