O leque de motivos que embasaram os votos dos deputados federais na sessão deste domingo (17) – na qual foi aprovada a abertura de processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) – foi o mais amplo possível. Um Brasil melhor, o fim da corrupção e em nome das famílias foram, no entanto, o que mais constaram nos curtos discursos dos parlamentares antes da palavra sim [à implantação do processo]. Do lado oposto, parlamentares que votaram não ao impeachment clamaram pela Constituição, pela democracia e pelos direitos sociais.
Houve deputado votando em honra de filhos mortos, outros em nome de familiares que completavam aniversário. Hiran Gonçalves (PP-RR) votou “pelos maçons do Brasil”. A deputada federal do Paraná Christiane Yared (PR) votou para que as leis fossem cumpridas e aproveitou para deixar um recado ao governador Beto Richa (PSDB-PR). “Cabe a nós a tarefa de unir esse país. E se as leis são para todos, devem valer para os políticos do meu estado. Senhor Beto Richa, a sua hora está chegando”, disse.
Entre tropeços, o também deputado paranaense Osmar Serraglio (PMDB) justificou que seu voto a favor era pelo fim do mensalão e dos petroleiros. Depois, corrigiu: pelo fim do mensalão e do petrolão.
Outros foram muito mais longe. Foi o caso do polêmico Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que depois de parabenizar o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ofereceu o voto pela família, pela inocência das crianças em sala de aula e pela memória do coronel Carlos Brilhante Ustra, que, como ele mesmo disse, “foi o pavor de Dilma Rousseff”.
Éder Mauro (PSD-PA) também tocou na questão de gênero e votou sim pelo impeachment. Ele disse que seu voto representava um ato contra as cartilhas sobre sexo distribuídas nas escolas e contra políticas que auxiliam a troca de sexo.
Eduardo Cunha, sob os gritos de ‘Fora Cunha’, disse: “Deus tenha misericórdia dessa nação. Voto sim”. Deus e religião também foram muito lembrados durante a sessão, principalmente pela bancada evangélica.
Golpe
Pelos dois lados, Cunha foi alvo de discursos. Boa parte dos deputados contra o impeachment justificaram em seu voto a “falta de caráter” do presidente para conduzir o processo. Cunha responde a processo no Conselho de Ética da Casa por ter mentido à CPI da Petrobras no ano passado. Ele afirmou que não tinha contas em paraísos fiscais.
Outro ponto muito recorrente nos discursos pró-Dilma foi de que o impeachment é golpe. “Se não tem crime, é golpe”, disse o deputado Leonardo Monteiro (PT-MG).
A ditadura militar também esteve presente nas vozes dos deputados que defendem Dilma. Do Paraná, Zeca Dirceu (PT) dedicou seu voto “aos jovens que na década de 60 lutaram contra a ditadura”.
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