Eliseu Padilha, Michel Temer e o PMDB nunca andaram separados. “Sempre soube que Eliseu Padilha representava a figura política de Michel Temer”, disse lá atrás o ex-executivo da Odebrecht Cláudio Filho, ao explicar para os investigadores da Lava Jato porque mantinha relação com o “primo”, apelido de Padilha na lista de políticos da empreiteira.
Quando Michel Temer assumiu a presidência da República interinamente, em maio do ano passado, não havia outro nome para a Casa Civil: o fiel escudeiro Eliseu Lemos Padilha foi imediatamente designado para a função. Agora, menos de um ano depois, o destino do “homem forte” do governo federal é completamente incerto.
Afastado na semana passada para uma cirurgia na próstata, Padilha pode nem voltar ao Planalto: o peso do seu nome nos depoimentos prestados aos investigadores da Lava Jato pode custar agora sua cadeira no comando da Casa Civil. Quem tenta encontrar outra solução para o caso é o próprio presidente Temer, que resiste a tirar o foro privilegiado de seu principal correligionário no Planalto.
Aos 71 anos de idade, o peemedebista do Rio Grande do Sul que volta e meia cita frases do “doutor Ulysses” tem uma trajetória política parecida com a de Temer. Ambos se notabilizaram no parlamento da Câmara dos Deputados, e pelo PMDB, partido político que “sempre foi fator de estabilização no país”, na definição de Padilha.
Não à toa, Padilha é conhecido pelas projeções precisas de votações no Legislativo. Ganhou o apelido de “mago das planilhas” ao chegar perto do número de votos favoráveis ao impeachment de Dilma Rousseff: teria apostado no apoio de 368 parlamentares, ante os 367 efetivamente registrados no painel eletrônico.
Depois, já sentado na cadeira de ministro-chefe da Casa Civil, Padilha continuou com o termômetro do Legislativo a tiracolo, embora não seja da sua alçada a negociação direta com os parlamentares – tarefa da Secretaria de Governo, hoje ocupada pelo tucano Antonio Imbassahy.
Em outubro do ano passado, no segundo e último turno de votação da “PEC do teto dos gastos públicos” na Câmara dos Deputados, o peemedebista gaúcho comemorava com entusiasmo: “Não tem registro de uma base parlamentar como temos”.
Recentemente também discorreu sobre isso a uma plateia de funcionários da Caixa Econômica Federal, ao justificar a opção do Governo Temer por ministros de Estado oriundos do Legislativo, em detrimento de “notáveis”. “Não há na história do Brasil um governo que tenha conseguido 88% do Congresso Nacional. Isso Vargas não teve, JK não teve, FHC não teve, Lula não teve, só nós que conseguimos”, gabou-se.
“Vazado” para a imprensa, o relato detalhado de Padilha sobre a prática nada republicana para atrair votos de parlamentares trouxe constrangimento ao Planalto.
Nas palestras que faz País afora, em especial a empresários, Padilha tenta vender a ideia de um governo federal amparado por uma sólida base no Legislativo, fato que o tornaria capaz de aprovar as reformas anunciadas, como a da Previdência Social.
O mote “gestão reformista” vem sendo repetido por ele desde agosto do ano passado, quando Temer assumiu definitivamente a principal cadeira do Executivo.
Como antigo braço-direito de Temer, Padilha teve participação ativa no processo que resultou na saída de Dilma Rousseff.
Nomeado no início de 2015 para a Aviação Civil, dentro da “cota” de Michel Temer, então vice-presidente da República, Padilha pediu demissão da Esplanada dos Ministérios no final daquele ano, logo após a deflagração do impeachment pelas mãos de outro peemedebista, Eduardo Cunha, então presidente da Câmara dos Deputados e hoje preso no âmbito da Lava Jato.
Já no início de 2016, o peemedebista gaúcho atuou fortemente para que o PMDB desembarcasse do governo federal. Há um ano, logo após o rompimento oficial da legenda de Temer com o PT de Dilma Rousseff, Padilha fazia um discurso entusiasmado na Câmara dos Deputados, no espaço reservado para a solenidade dos 50 anos do PMDB.
“De dez peemedebistas, onze queriam e querem um projeto próprio para o Brasil, uma postura própria e independente, correspondente ao tamanho do nosso partido”, enfatizou.
Agora, alvejado pela Lava Jato, Padilha teme ser excluído da gestão peemedebista que tanto ajudou a forjar.
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