Às vésperas da eleição que definirá o novo comando da Câmara dos Deputados, o Partido dos Trabalhadores (PT) segue dividido sobre quem vai apoiar na disputa.
A decisão do Diretório Nacional do PT a favor do voto em parlamentares da base aliada de Michel Temer, divulgada há dez dias, agora vem sendo contestada fortemente pela ala derrotada, que ainda defende o aval à candidatura de André Figueiredo (PDT-CE) ou mesmo o lançamento de um nome próprio, via Paulo Teixeira (SP).
No último dia 20, diante de uma dividida bancada no Legislativo, a cúpula do PT resolveu colocar o assunto em votação: uma maioria apertada autorizou o apoio dos deputados federais da legenda a candidatos com “chance de vitória” – Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Jovair Arantes (PTB-GO).
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Leia a matéria completaO primeiro, filiado ao DEM, atuou na linha de frente do impeachment, junto com PSDB e PPS; o segundo foi o relator do processo na comissão especial do impeachment, indicado para a função pelo algoz de Dilma Rousseff, Eduardo Cunha (PMDB), ex-presidente da Casa e hoje preso na Lava Jato.
A ideia da ala petista vencedora seria ao menos assegurar participação na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados. Embora o PT tenha a segunda maior bancada do Legislativo, com direito natural a uma representação no comando da Casa, filiados temem perder espaço.
Na prática, alegam petistas, a palavra final sobre a distribuição das 11 cadeiras da Mesa Diretora cabe ao grupo majoritário no plenário e suas lideranças.
Mas a visão pragmática do PT desagradou não só uma parte da própria bancada, que alega dificuldade para “se explicar” junto ao próprio eleitorado. Irritado, André Figueiredo também afirma que há “incoerência” na postura do PT e tem criticado abertamente a legenda do ex-presidente Lula. O PCdoB, que costurou apoio a Maia, também é alvo do candidato.
Agora, em função da repercussão, a bancada do PT estaria disposta a rever a posição que tomou lá atrás. Em artigo divulgado no domingo (29), o presidente do PT, Rui Falcão, admitiu “divergências” a respeito da decisão do Diretório Nacional da sigla.
Relação com a esquerda
Para parte dos petistas, apoiar agora os detratores de Dilma Rousseff enfraquece o discurso da sigla para 2018, quando a tese do golpe novamente será reforçada durante a campanha eleitoral. Além disso, o PT se distanciaria novamente das siglas de esquerda, o que também gera desdobramentos para o pleito do ano que vem.
Ao longo do processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT), com o grande desembarque de legendas até então integrantes da base petista, os partidos políticos de esquerda, ou mais alinhados com tal espectro ideológico, se reaproximaram do PT, na batalha contra o afastamento da então presidente da República.
Vozes do PDT, Psol, PCdoB e Rede Sustentabilidade engrossaram o discurso anti-impeachment na época e hoje pertencem à bancada de oposição a Michel Temer, minoritária na Casa.
No segundo semestre do ano passado, levantaram juntos a bandeira contra a emenda que estabelecia um teto para os gastos públicos [e que acabou promulgada em dezembro] e já ensaiavam os discursos contra a Reforma da Previdência levada pela gestão peemedebista para o Congresso Nacional.
A atuação conjunta no último semestre, mas especialmente durante o processo de impeachment, fez com que o PT até cogitasse integrar a “grande aliança de esquerda” para 2018, em um cenário no qual nem indicariam a cabeça da chapa, dando apoio a nomes aliados, como o presidenciável Ciro Gomes (PDT). A tese ganhou força principalmente ao final das eleições de outubro, quando o PT sofreu uma grande derrota nas urnas, perdendo fôlego para a disputa do ano que vem.
Mas, em pleno janeiro, mês de recesso parlamentar, o PT voltou a reforçar a possibilidade de candidatura do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva para o Planalto – o próprio petista, antes da internação da ex-primeira-dama Marisa Letícia, anunciava disposição para viajar o país e “limpar o seu nome”.
Além disso, a bancada da legenda na Câmara dos Deputados abriu negociações com os dois candidatos da base de Temer à presidência da Casa, Maia e Jovair, em detrimento do único candidato da oposição na corrida, André Figueiredo (PDT-CE), aliado de Ciro Gomes.
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