Dias tensos
O carnaval não apaziguou ânimos entre peemedebistas e petistas, briga que fomenta o "Volta Lula"
Terça-feira
O líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), diz que é preciso repensar a aliança com o PT porque os peemedebistas não são "respeitados".
Quarta-feira
Dilma se reúne com Lula e conselheiros próximos, como o marqueteiro João Santana e o presidente do PT, Rui Falcão, no Palácio da Alvorada. Petistas divulgam foto com os dois presidentes dando as mãos, sorridentes.
Quinta-feira
Falcão contra-ataca declarações de Eduardo Cunha. Segundo o petista, o partido "não pode aceitar ultimatos" e o PMDB tem de "esclarecer" se é de "oposição ou situação".
Sexta-feira
O ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, se encontra com o presidente do PMDB, Valdir Raupp. Na saída, Raupp fala em lançar candidatura própria e cita o senador paranaense Roberto Requião como um nome possível. Rui Falcão diz que o PT tem de "reeleger Dilma para Lula voltar em 2018".
Domingo
Dilma tem agendada reunião de emergência com o vice-presidente Michel Temer e os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Dois temas andaram lado a lado durante toda a gestão Dilma Rousseff crises de relacionamento com aliados no Congresso e a possibilidade de Lula voltar a ser o candidato do PT em 2014. A sete meses da eleição, os assuntos viraram um só. A cada dia que o racha da base se aprofunda entre os parlamentares, mais intensa fica a movimentação de bastidores pelo retorno do ex-presidente.
No burburinho dos corredores da Câmara dos Deputados, o "Volta Lula" é usado como "trunfo de dois gumes". Petistas descontentes citam que, com ele na cabeça de chapa, não seria necessário o apoio de outros tantos partidos para vencer. Aliados do PT, capitaneados pelos peemedebistas, revelam que com o ex-presidente seria muito mais fácil negociar espaços no governo do que com a "durona" Dilma.
Ambiente dúbio
Em um panorama dúbio, poucos falam abertamente sobre o assunto. "Todas as pessoas com quem eu converso dentro do governo ou de um escalão mais alto do PT dizem abominar essa ideia [do volta Lula]. Mas é inegável que há uma insatisfação da base. E que o mais importante é como isso vai se desenrolar, junto com as próximas pesquisas eleitorais", diz o vice-líder do governo na Câmara, Alex Canziani (PTB-PR).
O partido do deputado é um dos oito que compõem o recém-criado "blocão" os demais são PMDB, PDT, PP, PSC, Pros, PR e Solidariedade (este, da oposição). Há três semanas, o grupo se descolou do governo por descontentamento com a distribuição de ministérios, o bloqueio de R$ 13,3 bilhões em emendas parlamentares e, particularmente, a falta de diálogo com o Planalto. "O preocupante é que o PT não consegue desarmar essa situação", diz Canziani.
A expectativa era de que o carnaval esfriasse os ânimos. Não foi o que aconteceu. Na terça-feira passada, o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), retomou o ataque contra o presidente do PT, Rui Falcão. "A cada dia que passa me convenço mais que temos de repensar esta aliança, porque não somos respeitados pelo PT", escreveu Cunha no Twitter.
Na Quarta-Feira de Cinzas, Dilma se reuniu com Falcão e Lula no Palácio da Alvorada. Um dos principais temas foi a crise com aliados. Do encontro, saiu uma foto com Dilma e Lula sorridentes, se cumprimentando num sinal de que estão juntos, aconteça o que acontecer. Um dia depois, Falcão disse que o partido "não pode aceitar ultimatos" e que o PMDB tem de "esclarecer" se é de "oposição ou situação".
A temperatura seguiu subindo. Na sexta-feira, Falcão afirmou que era preciso "reeleger Dilma para Lula voltar em 2018". No mesmo dia, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, reuniu-se com o presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RR). Do encontro saiu a agenda mais importante a reunião emergencial marcada para este domingo entre Dilma, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) e os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Sem chance
Membro do núcleo petista há mais tempo dentro do governo, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, afirma que o "Volta Lula" é um "instrumento de pressão" usado por setores tanto do PMDB como do PT, mas que não há dilemas internos provocados pelo movimento. "Não há a menor condição disso [de Lula ser o candidato neste ano]", diz o ministro.
Outro vice-líder do governo na Câmara e presidente do PMDB no Paraná, Osmar Serraglio descreve que esses "setores" são puxados por parlamentares ligados ao movimento sindical como Devanir Ribeiro (PT-SP), que no fim do segundo mandato de Lula articulou a votação de uma emenda à Constituição para permitir que o ex-presidente pudesse concorrer a um terceiro mandato em 2010. Segundo Serraglio, o argumento usado por eles faz sentido e sucesso entre os colegas. "O que mais se fala é o óbvio: com Lula, o PT teria mais oito anos garantidos no poder, enquanto que a Dilma teria dificuldades até para conseguir mais quatro", diz Serraglio.
Aprovação de Dilma supera a de antecessores em ano eleitoral
Mesmo com a queda de popularidade após os protestos de junho do ano passado, o governo Dilma Rousseff entrou em 2014 com um índice de aprovação superior ao dos antecessores, Fernando Henrique Cardoso e Lula, nos anos em que concorreram à reeleição. De acordo com pesquisa Datafolha divulgada no mês passado, 41% dos brasileiros avaliam o governo Dilma como ótimo ou bom. Em março de 1998, o índice de FHC era de 38%, e, em fevereiro de 2006, o de Lula era de 37%.
Estudos do cientista político Alberto Carlos Almeida, autor do livro A Cabeça do Eleitor, mostram que pelo menos 80% dos eleitores que avaliam uma gestão como ótima ou boa votam no candidato à reeleição. Por essa estimativa, Dilma teria 33% dos votos "garantidos" precisaria conquistar mais 18% para chegar à vitória. Ou seja, atrair pouco menos da metade dos 37% que consideram o atual governo regular.
"Dilma tem hoje uma situação razoável, mas acho que vai crescer com a proximidade da campanha, quando as pessoas vão ser lembradas dos feitos do governo na propaganda eleitoral", diz o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Às vésperas da eleição de 2006, a porcentagem dos eleitores que consideravam o governo Lula ótimo ou bom subiu para 47%. Em setembro de 1998, a aprovação de FHC também subiu para 43%. Ambos os dados são do Datafolha.
Professor de Comunicação Política do Instituto Ortega y Gasset, da Espanha, Carlos Manhanelli diz que Dilma é favorita, mas que a estratégia do PT de manter Lula como uma opção é eficiente. "O fato de um partido ou grupo político ter mais de uma pessoa com chances de vitória repercute positivamente na cabeça do eleitor", opina. Diretor-presidente do Instituto Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo concorda que o clima de suspense ajuda o PT. "Não parece que o partido está assim tão interessado em desmentir [a candidatura do ex-presidente]. O fato é que o clima do Volta Lula só depende do Lula. Se ele fosse a um grande jornal, amanhã, e dissesse com todas as letras que não é candidato, isso acabaria", afirma.
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