A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de processar os 40 acusados de participação no esquema de compra de votos de parlamentares, o chamado mensalão, causou repercussão na imprensa internacional nesta terça (28) e quarta-feira (29). Alguns dos principais jornais e sites de notícias do mundo ressaltam a proximidade de muitos dos processados com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Reportagem publicada pelo jornal "The New York Times" afirma que o escândalo de corrupção "paira como uma nuvem negra" sobre o presidente, apesar de sua popularidade se manter inabalada. A acusação contra o ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, chamado de "arquiteto por trás da ascensão de Lula" e suspeito de ser o "chefe de uma organização criminosa", aproxima a crise do Planalto, apesar do esforço do presidente para se manter distante do caso.
No entanto, o jornal dos EUA afirmou ainda que "poucas autoridades acusadas de corrupção vão para a cadeia" no Brasil, citando que o STF não aceitou as acusações criminais contra o ex-presidente Fernando Collor de Mello, que segundo a publicação operava um "fundo secreto multimilionário".
O "NYT" citou ainda o acidente envolvendo o Boeing da TAM, que causou as mortes de 199 pessoas em julho, como agravante para a crise do governo, lembrando que o episódio, que "mostra os problemas no sistema de aviação no país" renderam críticas a Lula por não ter agido para evitar a tragédia apenas dez meses depois de outro acidente aéreo de grandes proporções.
Financial Times
"O primeiro desafio sério à impunidade tradicionalmente usufruída por figuras públicas brasileiras". Assim o jornal inglês "Financial Times" define a abertura do processo criminal do mensalão. O consultor político José Luciano Dias, citado pelo jornal, afirma que "mais do que qualquer outro caso no passado, este ajudará a definir se as autoridades brasileiras estão ou não acima da lei".
O texto cita a importância de José Dirceu para o primeiro Governo Lula, mas comenta que a popularidade do presidente somente foi afetada no momento inicial do escândalo, sendo restaurada a ponto de ele conseguir um segundo mandato.
Clarín
O jornal argentino "Clarín" destaca em sua edição desta quarta o processo por corrupção que será movido contra o publicitário Duda Mendonça, que teria estilizado a figura "Lulinha paz e amor" nas eleições de 2002. O "Clarín" também liga o publicitário a vários políticos argentinos, como o ex-presidente Eduardo Duhalde, a quem o empresário brasileiro teria assessorado durante a campanha ao senado em 2001.
No ano seguinte, Duhalde assumiu interinamente a presidência do país, após a renúncia de Fernando de La Rúa. Na reportagem, o jornal ressalta a "grande ausência" do ex-senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) entre os denunciados, que "também teria recebido dinheiro com o mesmo esquema de corrupção, só que em 1998".
El Pais
O jornal espanhol "El Pais" também se voltou para o caso afirmando que Dirceu era o "braço direito de Lula". Segundo a reportagem, "o homem mais poderoso nos primeiros dois anos de governo", será processado por "escândalos de corrupção".
A publicação afirma que a "luz verde" que o STF deu para a abertura do processo deu fundamento às denúncias de compra de votos e contrariou o governo, que pretendia classificar o caso como uma "manobra política para derrubar Lula".
Correio da Manhã
O site do jornal português "Correio da Manhã" deu grande destaque à ligação do ex-ministro José Dirceu com o presidente Lula. Em sua página principal, o diário português afirma que Dirceu é "considerado o principal responsável pela eleição de Lula da Silva a presidente e que tinha tanto poder nos primeiros 30 meses do seu governo que era chamado de czar".
O jornal também enfatizou a declaração do ex-deputado Roberto Jefferson, que teria dito que os "40 ladrões já foram indiciados, agora só falta o Ali Babá", em alusão a Lula.
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