Indicado para comandar a pasta com o maior orçamento da Esplanada – R$ 118,5 bilhões em 2016 − numa barganha do governo com o PMDB, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, tem dado munição para quem deseja vê-lo fora do cargo. Enquanto o país enfrenta uma das piores crises de saúde pública da história recente com a epidemia de zika e o surto de microcefalia, ele enfrenta forte pressão de setores do próprio PMDB e também do PT para ser retirado cargo.
O pretexto para derrubá-lo são as declarações cada vez mais polêmicas que tem dado nas últimas semanas. O argumento de pessoas de dentro do próprio governo é que Castro não seria preparado para a função. Como pano de fundo, porém, fica evidente que o contexto é muito mais político do que em nome da saúde pública.
Na última segunda-feira (25), Marcelo Castro disse que o Brasil está perdendo “feio” a batalha para o mosquito. A declaração não teria agradado ao Planalto e foi contesta pela Organização Mundial da Saúde, que a considerou fatalista.
Semanas antes, o ministro declarou torcer para que, antes de entrar no período fértil, as mulheres peguem zika “para ficarem imunizadas pelo próprio mosquito”. Logo que a crise da microcefalia explodiu, outra declaração gerou críticas: “Sexo é para amadores, gravidez é para profissionais”, um recado para que os casais planejem a gestação.
A cada fala considerada desastrada, aumenta a pressão, inclusive interna, para a saída de Castro. Para peemedebistas ouvidos pela reportagem, isso tem sido usado como pretexto do PT para conseguir retomar a pasta. Historicamente ocupado por petistas, o Ministério da Saúde entrou na reforma ministerial promovida pela presidente Dilma Rousseff no ano passado na tentativa de apaziguar o PMDB e retomar o apoio do partido na Câmara.
“As declarações podem até ser infelizes, mas não dá para exonerar um ministro por esse critério. O que tem de ser avaliada é a gestão. Mesmo porque, a presidente Dilma também não tem os melhores discursos”, diz o deputado federal João Arruda (PMDB-PR). Outro paranaense na Câmara, o peemedebista Sérgio Souza também sai em defesa do colega de partido. “Não vejo que ele tenha causado um prejuízo político que se justifique tirá-lo do cargo”, afirma.
Mas o que pesa mesmo a favor de Castro é a ligação com a ala do PMDB pró-governo. Em tempos de eleição para a liderança do partido na Câmara e decisões sobre o processo de impeachment, é pouco provável que a presidente Dilma Rousseff o tire do cargo. “Se ela [a presidente Dilma] começa a minar a ala do PMDB que defende o governo e é contra o impeachment, irá se fragilizar e dará mais força aos grupos que defendem a sua saída ou uma postura mais independente. Então, acho que ele não sai”, avalia Arruda.
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