Credibilidade
Setor privado já busca outras fontes de dados para fazer planejamento
Uma das consequências da falta de pessoal que atinge os institutos de planejamento é a perda de confiança por parte da sociedade. A Sondagem Industrial, pesquisa realizada pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), faz um levantamento de onde as empresas buscam informações para definir suas estratégias. Na última Sondagem, realizada em 2013, 21,49% das empresas disseram que buscam informações em instituições públicas, 32,23% em instituições privadas e 41,32% em consultores independentes.
Maurílio Schmitt, coordenador do Departamento Econômico da Fiep, acredita que a menor procura pelas pesquisas de instituições públicas está relacionada à credibilidade. "Se você não tem regularidade, não tem como confiar. E o governo faz muito isso; descontinua pesquisas sistematicamente", diz.
No caso do Ippuc, por exemplo, o presidente da Federação Panamericana de Associações de Arquitetos (FPAA), João Virmond Suplicy Neto, acredita que por muito tempo o instituto cumpriu seu objetivo de reformular e pensar a estrutura de Curitiba, mas nas últimas décadas perdeu seu dinamismo. "Além de compor novos quadros de funcionários, pois parte das cabeças pensantes do instituto se aposentou, acho que é hora de repensar o Ippuc e mudar o seu funcionamento", diz.
O presidente do Sindicato Rural de Guarapuava, Rodolpho Luiz Werneck Botelho, diz que a falta de profissionais no Iapar provoca consequências na agropecuária do estado. "Nas décadas passadas, o Iapar apresentava para o mercado tecnologias de ponta e novidades. Mas, sem técnicos e recursos para pesquisa, eles ficaram devendo muito", afirma. Botelho acredita que a falta de pesquisadores no interior, como em Guarapuava, é outro problema. "As comunidades de pesquisa são subutilizadas. Precisamos trazer pesquisadores de fora para atuar aqui."
Bruna Covacci, especial para a Gazeta do Povo
Poucos funcionários, estrutura precária, falta de recursos e submissão aos interesses de um determinado governo não afetam apenas a imagem dos institutos públicos de pesquisa. Para especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, a situação prejudica o planejamento do país, que segue sem projetos de longo prazo em praticamente todas as áreas.
Para José Matias-Pereira, especialista em administração pública e professor Universidade de Brasília, os governos têm deixado as pesquisas econômicas em segundo plano. "Essas instituições são relevantes para a economia e o mercado. Na medida em que vão perdendo fôlego, chega a um ponto em que perdem suas finalidades", diz ele. Matias-Pereira aponta outro problema: a falta de rigor. "No passado, uma pesquisa era submetida ao corpo técnico da instituição, era criticada. Agora, estão divulgado imediatamente, o que é um enorme risco."
O aparelhamento das instituições, com a nomeação de políticos, é outro problema. "Há um processo generalizado, principalmente em estados governados pelo PT e seus aliados. O critério para a entrega dos cargos tem sido político", critica Matias-Pereira. "Isso tem um efeito danoso, pois há o risco pessoas despreparadas gerirem essas instituições e de as pesquisas serem direcionadas para atender os interesses dos governantes. Por outro lado, há o problema do descrédito. O dano que o erro causou à imagem do Ipea, por exemplo, é muito forte", diz ele, se referindo à divulgação equivocada de que 65% dos brasileiros concordam que mulheres que se vestem de forma ousada merecem ser estupradas (o dado correto era 26%).
Sistema híbrido
Para Christian Luiz da Silva, coordenador do Mestrado em Planejamento e Governança Pública da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), os institutos devem ter independência em relação aos governos. "O Ipardes já teve uma participação efetiva no processo de planejamento do estado, mas teve períodos de ostracismo. Os institutos acabam sendo atropelados por decisões de governo", comenta. "Deixar só nas mãos de um governo pode aniquilar o processo de produção científica. O Brasil devia pensar em um modelo híbrido [de gestão]."
O professor avalia que a falta de dados atualizados prejudica o planejamento e a formulação de políticas públicas. "Isso acontece não só por falta de pessoal, mas também devido à falta de continuidade nos levantamentos, o que dificulta qualquer tipo de planejamento", diz. "Uma dificuldade no Brasil é nossa visão de curto prazo, estamos sempre preocupados com o que vai acontecer no ano seguinte ou no máximo em quatro anos. É preciso uma mudança de paradigma de gestão. Sem informações consistentes, o país vai continuar trabalhando sempre em cima da mesma lógica."
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