A delação premiada do executivo Marcelo Odebrecht, que promete ser o “acordo dos acordos” da Operação Lava Jato, pode contaminar grande parte do Congresso Nacional e das administrações dos estados, além da alta cúpula do Planalto, como ministros do interino Michel Temer (PMDB) e a própria presidente afastada Dilma Rousseff (PT). Conforme reportagem da Revista Veja, o delator deve citar ao menos 13 governadores e 36 senadores.
INFOGRÁFICO: A extensão da delação de Marcelo Odebrecht
Somados a esses números – que representam metade dos estados do país e 1/3 do Senado –, a “contaminação” pode ser ainda maior, já que alguns nomes dos 300 encontrados em planilhas de doações eleitorais da empresa podem vir a ser citados. Não é possível prever, no entanto, quais políticos da lista estão envolvidos em irregularidades, mas a cifra é alta: R$ 100 milhões via caixa dois nas campanhas de 2010 e 2014, conforme cita a reportagem a Veja.
Segundo a publicação, o principal alvo de Odebrecht é Dilma, que teria recebido recursos ilícitos de campanha em 2014 via pagamentos ao publicitário João Santana. Também devem surgir nomes de confiança da petista, como Giles Azevedo e Anderson Dorneles, com quem os repasses seriam combinados. Ministros de Temer, como Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves, também são elencados pela revista como nomes citados pelo executivo.
“A delação do Marcelo Odebrecht pode abalar, e muito, o mundo político”, avalia o coordenador do curso de relações institucionais do Ibmec, Marcio Coimbra.
Ele aponta, porém, para a necessária agilidade da Procuradoria-Geral da República (PGR) em apurar o envolvimento dos citados. “Há uma pressão para que o trabalho de Curitiba tenha eco em Brasília, já que, enquanto a gente observa o processamento rápido na primeira instância, na segunda instância, há uma demora significativa na condução d as investigações”, diz.
O professor da FGV-Direito Rio Ivar Hartmann acrescenta que, justamente por envolver especulação e expectativa grandiosas, a delação de Odebrecht deve ser observada com cautela. “Até então, já houve vários boatos em torno da Lava Jato, além de previsões que não se confirmaram. Dessa vez, aparentemente, só deve haver uma reação do meio político quando houver algum fato concreto”, avalia.
Consequências
Ambos os especialistas apontam que, confirmado o recorde de contaminação proporcionado pelos depoimentos do executivo, obrigatoriamente deve ocorrer uma mudança de cenário no quadro de lideranças políticas. Essas modificações, no entanto, ainda são imprevisíveis.
“Digamos que a delação cite ‘todo mundo’. Primeiro, quem é esse ‘todo mundo’?”, questiona Hartmann, que acredita em um poder de reestruturação dos partidos políticos, com uma alteração na forma personalíssima de poder da legenda baseada em poucos nomes.
Coimbra também aposta em uma mudança no quadro de líderes. “Cada vez mais a gente vai ver o enfraquecimento dos políticos tradicionais”, avalia. Para ele, esse efeito pode gerar consequências boas e ruins. “Podemos ver gente que não saiba mexer com política sendo eleita, o que gera a entrada de aventureiros e um possível engessamento da máquina pública, mas também poderemos ver um processo de ‘limpeza’”, observa.