O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, primeiro delator da Operação Lava Jato, disse que o doleiro Alberto Youssef, personagem central da trama de corrupção e propinas na estatal petrolífera, o procurou em 2010 e disse que o ex-ministro Antonio Palocci, da Fazenda, pediu uma contribuição de R$ 2 milhões para a campanha de Dilma Rousseff (PT) à Presidência. Os relatos de Costa na delação premiada foram todos gravados em vídeo pela força tarefa do Ministério Público Federal e da Polícia Federal.
Ao ser questionado sobre repasse de valores para a campanha de 2010 da Presidência da República, o ex-diretor da Petrobras declarou: “Alguns fatos como esse específico, as pessoas falavam diretamente com o Youssef. Outros fatos, as pessoas falaram comigo. Ministro Lobão falou comigo. Pessoal aqui do governo do Rio falou comigo, não tem nada a ver com o Youssef. Senador Sergio Guerra, falecido, falou comigo.”
No início do mês, o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), mandou para a Justiça Federal no Paraná, base da Operação Lava Jato, representação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para investigação sobre o ex-ministro chefe da Casa Civil, Antonio Palocci. Como não detém foro privilegiado, Palocci fica sujeito à investigação da Polícia Federal.
A ordem de investigação é amparada no depoimento de Costa. Ele disse que conheceu Palocci em 2004. Na ocasião, Palocci era membro do Conselho de Administração da Petrobras. Dilma presidia o Conselho de Administração da estatal e ocupava o cargo de ministra das Minas e Energia.
Sobre o episódio em que cita Palocci, Costa declarou. “O Youssef me trouxe numa reunião que eu tive com ele. Ele falou: ‘ministro Palocci está pedindo aqui uma contribuição para a campanha da Dilma Rousseff em 2010 de R$ 2 milhões. Podemos dar? Pode, pode dar. Eu autorizei o Youssef a fazer. Mas quem me trouxe esse assunto foi o Youssef e quem operacionalizou foi o Youssef. Eu não tive nenhum contato nem com o Palocci e muito menos com a Dilma, sobre esse fato. Isso tudo veio pelo Youssef.”
“O Youssef falou comigo que o Palocci, não tenho certeza agora se foi o Palocci que falou com ele ou se foi um interlocutor, não posso te confirmar isso. Mas tinha esse pleito do ex-ministro Palocci para atender a campanha da dona Dilma Rousseff em 2010. ‘Paulo, pode fazer?’. ‘Faça’.”
Paulo Roberto Costa disse que não perguntou detalhes para Youssef sobre quem tinha mandado o Palocci fazer a solicitação. “Ele chegava com o pleito, fazia ou não fazia. Mas não entrava em detalhe, quem fez, como foi, tal.”
Os investigadores da Lava Jato perguntaram ao ex-diretor se as pessoas sabiam que Youssef trabalhava com ele. Ao responder essa pergunta, Costa fez menção a outros quatro personagens emblemáticos da grande investigação sobre malfeitos na Petrobras: João Vaccari Neto, tesoureiro do PT, Renato Duque, ex-diretor de Serviços da estatal petrolífera, Fernando Soares, o Fernando Baiano, suposto operador do PMDB na Petrobras, e Nestor Cerveró, ex-diretor de Internacional da Petrobras - os últimos três estão presos.
“Notório. Como sabiam que o Vaccari trabalhava com o Duque, como sabiam que o Fernando Baiano trabalhava com o Nestor. Isso aí todo mundo sabia.”
Como foi feito o pagamento?, perguntaram os investigadores. “Não sei. Não sei, porque isso o Youssef não me falava e nem eu perguntava para ele.” Sobre o local da reunião em que Youssef falou sobre o pedido, ele disse: “Possivelmente em São Paulo.”
Costa foi questionado se a presidente Dilma tinha conhecimento do esquema na Petrobras quando exercia a função de ministra de Minas e Energia e também se Lula sabia, enquanto presidente. “Não sei, não sei, não sei.”
Ele disse que nunca conversou sobre isso com Dilma e Lula. Também não conversou com Palocci sobre o assunto. Esse foi o único repasse para campanha presidencial que ele se recorda. Mas “não teve feedback” sobre o dinheiro, não soube se os R$ 2 milhões chegaram.
“Para mim, não. Era muito difícil alguém agradecer. O que normalmente acontecia era o cara não reclamar. O cara não voltar ao tema, mas agradecer, para ser sincero, não teve nenhum um caso.”
O criminalista José Roberto Batochio, constituído por Palocci, diz que “os depoimentos conflitantes comprovam a inocência” de Palocci. “Como vai ficar essa delação de Paulo Roberto Costa? Se ele mentiu, perderá os benefícios da colaboração.”
Questionado sobre essas declarações do ex-diretor, que lhe atribuiu participação no caso, o doleiro Youssef foi taxativo. “Esta afirmação não é verdadeira.”
Para Batochio, a contradição põe abaixo a suspeita levantada contra o ex-ministro. “Palocci não conhece, nunca viu, nunca soube da existência de Alberto Youssef. Para ele a existência (do doleiro) era desconhecida.” Segundo o criminalista, Palocci “nunca conversou’ com Paulo Roberto Costa.
Batochio destaca que Palocci, em 2004, como ministro da Fazenda, pertenceu ao Conselho de Administração da Petrobras “seguindo a tradição de que todo ministro da Fazenda é membro do colegiado”.
“(Palocci) pode ter visto Paulo Roberto Costa lá (no Conselho), mas nunca tratou com ele assunto sobre campanha eleitoral, jamais, em tempo algum.”
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