Aumenta a suspeita de que Petrobras criou empresa de fachada
Embora a Petrobras negue que tenha criado uma empresa privada de fachada para construir o gasoduto, documentos mostram que até as procurações que a Transportadora Gasene passava para a Petrobras eram rascunhadas, discutidas e escritas pela própria estatal. O material revela que pelo menos três rascunhos de procuração da empresa privada, criada para construir a rede de gasodutos Gasene, passaram pela estatal. A área jurídica da Petrobras se sentiu até na obrigação de lembrar aos dirigentes da transportadora que os documentos dela não poderiam ter qualquer tipo de logomarca da Petrobras: "Favor atentar para a necessidade de retirar a logomarca da Petrobras", registraram os responsáveis pelo parecer jurídico no cabeçalho de um parecer de setembro de 2006 sobre uma minuta de procuração.
O ex-gerente-executivo de Engenharia da Petrobras Pedro Barusco foi o responsável por propor diversos aditivos contratuais que encareceram as obras da rede de gasodutos Gasene, inclusive em parcerias que tinham como subcontratadas empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato. Barusco firmou com o Ministério Público Federal (MPF) acordo de delação premiada e acertou a devolução de cerca de US$ 100 milhões desviados da Petrobras.
Auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) mostrou um superfaturamento superior a 1.800% em obras do maior trecho do gasoduto, entre Cacimbas (ES) e Catu (BA). Para construir o gasoduto, a Petrobras constituiu, segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP), uma "empresa de papel", a Transportadora Gasene.
Documentos da Petrobras obtidos pelo jornal O Globo mostram que a atuação de Barusco não se restringiu aos aditivos. Ele encaminhou propostas sobre o gasoduto à diretoria executiva da Petrobras; firmou compromisso com a principal parceira do empreendimento, a empresa chinesa Sinopec; assinou contratos da Petrobras com a Transportadora Gasene; e autorizou o aproveitamento de licitações com empresas que integravam o "clube de empreiteiras" da Lava Jato.
No caso do Gasene, Barusco teve protagonismo no direcionamento das decisões relativas às obras. É ele quem assina os relatórios técnicos recomendando nove aditivos contratuais com a Sinopec, empresa chinesa contratada sem licitação para gerenciar e para executar as obras do trecho Cacimbas-Catu. Esses aditivos fizeram o contrato saltar de R$ 1,8 bilhão para R$ 2,4 bilhões (aumento de 33%), e foram aprovados pela diretoria executiva. Os aditivos beneficiaram, entre outras, a Galvão Engenharia e a Mendes Júnior, empreiteiras investigadas na Lava Jato.
A Petrobras informou que, como Barusco era o único gerente-executivo de Engenharia entre fevereiro de 2003 e março de 2011, era "responsável por encaminhar à diretoria executiva da Petrobras, para aprovação, todos os documentos relacionados à contratação e aditivos de empreendimentos para todas as áreas da companhia".
A advogada de Barusco, Beatriz Catta Preta, informou que, devido à delação premiada do cliente, não poderia fazer qualquer comentário sobre o caso.
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