O empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC Engenharia, afirmou em sua delação premiada que fez uma doação de R$ 100 mil, nas eleições de 2010, a pedido do ex-ministro José Dirceu, para a campanha de seu filho, o deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR). “Atendendo a pedido de José Dirceu em 2010, fez uma contribuição oficial para a campanha do filho dele para o cargo de deputado federal no valor de R$ 100 mil”, afirmou Pessoa, em seu termo de delação 21 feito na Procuradoria Geral da República, no dia 28 de maio.
Na terça-feira, 15, o ex-ministro virou réu em ação penal da Operação Lava Jato, pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Segundo o Ministério Público Federal, Dirceu – que está preso desde 3 de agosto – teria usado sua empresa, a JD Assessoria e Consultoria, para receber propinas do esquema de desvios e contratos superfaturados na Petrobras, entre 2004 e 2014.
Ao todo, Zeca Dirceu declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o recebimento de R$ 1,5 milhão em doações, nas disputas de 2010. A doação dos R$ 100 mil da UTC não aparece nos registros de contas do candidato. O valor foi repassado, segundo consta nos registros oficiais, no dia 17 de setembro, para o Comitê Financeiro Único do PT no Paraná. No dia 22 de setembro, o comitê repassou R$ 100 mil para a candidatura de Zeca.
Nas eleições de 2010, Zeca Dirceu foi eleito deputado federal pelo PT do Paraná com 109 mil votos, sendo o segundo deputado mais votado do partido no estado. “Este pedido foi muito antes dos contratos de consultoria com José Dirceu”, acrescentou o empreiteiro. “Não abateu esta contribuição de qualquer valor devido, seja ao PT ou a José Dirceu.”
O dono da empreiteira UTC – uma das acusadas de cartel e corrupção na Petrobras – confessou em sua delação premiada que pagou R$ 1,4 milhão para Dirceu por consultorias no Peru, em 2012, e depois outros R$ 1,7 milhão como ‘ajuda’, quando ele já estava condenado e depois preso pelo processo do mensalão.
“Como José Dirceu já estava envolvido com o processo do Mensalão, Luiz Eduardo [irmão do ex-ministro e sócio], em certa data, veio procurar o declarante pedindo um aditivo ao contrato”, registrou a Procuradoria-Geral da República. “Luiz Eduardo afirmou que a JD estava passando por dificuldades financeiras”, contou Ricardo Pessoa.
A UTC foi uma das empreiteiras acusadas de cartel e corrupção em contratos da Petrobras, que fatiavam obras e pagavam propinas de 1% a 3% para PT, PMDB e PP– partidos da base de sustentação do governo Dilma Rousseff. “Depois da prisão de José Dirceu, claramente não houve nenhuma prestação de serviços”, garantiu Pessoa, apontando que com certeza os pagamentos desse segundo aditivo foram feitos sem qualquer consultoria prestada.
Registrado
A Operação Lava Jato já havia recebido a confirmação de três outros delatores de que foram feitas doações para a campanha de Zeca Dirceu, a pedido do pai: os operadores de propina Milton Pascowitch e seu irmão José Adolfo e o Julio Gerin Camargo. Os três ligados diretamente aos recebimentos de valores por parte do ex-ministro no esquema de corrupção na Petrobras. Cada um declarou ter repassado R$ 10 mil para a campanha.
O filho do ex-ministro recebeu ainda mais R$ 10 mil de Raul Ramires, da Hope Recursos Humanos, uma das empresas alvo da 17ª fase da Lava Jato – Operação Pixuleco. Ela teria pago propina de R$ 500 mil por mês ao grupo ligado a José Dirceu dentro da Petrobrás, entre os anos de 2003 e 2014. A empresa presta serviços para a estatal na área de recursos humanos.
Em nota, a assessoria de comunicação do deputado Zeca Dirceu disse que todas as doações recebidas na campanha de 2010 foram legais e aprovadas pela Justiça Eleitoral. “Os nomes dos doadores são de conhecimento público desde 2010 e eles já foram, no início deste ano, divulgados novamente por vários órgãos de imprensa. Durante o debate sobre a Reforma Política, o deputado defendeu o fim das doações de empresas para candidatos, assim como obteve destaque na luta para impor rígidos limites às despesas de campanhas e duras penas a quem infringi-los.”