O ex-consultor da Toyo Júlio Gerin Camargo afirmou em novo depoimento, realizado em 8 de abril, que negociou com o ex-ministro Antonio Palocci pagamento por meio de consultoria caso conseguisse um contrato com a Petrobras. Camargo é um dos delatores na Operação Lava-Jato. O novo depoimento foi tomado no âmbito das investigações que correm no Supremo Tribunal Federal (STF) e envolvem políticos com foro privilegiado.
Camargo também diz ser amigo do senador Delcídio Amaral (PT-MS), que teve o caso arquivado, e relata encontros com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), os senadores Edison Lobão (PMDB-MA) e Lindbergh Farias (PT-RJ) e a ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney (PMDB), todos alvo de investigação. Relata ainda que o ex-ministro José Dirceu teria feito lobby dentro da Petrobras em favor da Toyo.
Em relação a Palocci, o ex-consultor afirmou ter tido “vários contatos” em 2011 na tentativa de criação de um fundo garantidor para a implementação das refinarias Premium I e II, no Ceará e no Maranhão. Afirmou que nas conversas foi sinalizado que o pagamento pela ajuda de Palocci seria feito por meio de repasses à consultoria do ex-ministro, a Projeto.
“Que foi sinalizado futuro contrato de consultoria com Palocci e a Toyo, acaso o fundo garantidor fosse criado, para garantia da implantação das refinarias Premium I e II”, registra extrato do depoimento.
O negócio, porém, não se concretizou e a contratação da consultoria, portanto, não se efetivou. Reportagem da revista Época mostrou que somente no ano de 2010 a Projeto recebeu R$ 12 milhões. Nesse ano, Palocci coordenou a campanha da presidente Dilma Rousseff. Entre as empresas que teriam feito o pagamento estavam a JBS, o grupo Caoa e o Pão de Açúcar, que teria feito o repasse por meio do escritório do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos. Palocci afirma que as consultorias são “legítimas”.
Camargo diz no novo depoimento ser “muito amigo” do senador Delcídio. Relata ter contribuído com as campanhas do petista em 2006 e 2010 em troca de informações que obtinha. O ex-consultor afirma que ter recebido Delcídio e sua família para almoços, nos quais o senador “apresentava cenários de mercado”.
“Que com relação ao senador Delcídio Amaral, o declarante contribuiu com as campanhas de 2006 e 2010, pelo relacionamento de troca de informações acerca da economia do Brasil, da Petrobras, os próximos projetos, de nível geral mais importantes, informações das áreas de Minas e Energia”, registra trecho do depoimento.
Camargo afirmou que com Eduardo Cunha as conversas trataram de investimentos na área portuária que acabaram não se concretizando. Foram duas reuniões, uma em São Paulo e outra no Rio. Cunha teria revelado a ele que os próximos investimentos na área ocorreriam em Santos, Paranaguá e Salvador. O parlamentar teria questionado Camargo se ele conseguiria financiamento para o negócio e disse que, nesse caso, poderia lhe “indicar os procedimentos a serem feitos no Ministério dos Transportes” e “fazer gestões” para a contratação da Toyo. Camargo, porém, não conseguiu o financiamento e os contatos cessaram.
No caso de Edison Lobão, o primeiro contato foi relativo a outra empresa, a Prysmian, antiga Pirelli Cabos. Disse ter buscado Lobão, então ministro em busca de ajuda para resolver um problema no porto de Vila Velha (ES). A empresa que representava precisava da cessão de uma área próxima ao porto. Na conversa, o ministro se ofereceu a procurar a diretoria de Exploração e Produção da Petrobras para que a estatal atestasse a prioridade da implantação da fábrica. A declaração foi emitida e deu base a um decreto declarando a utilidade pública da cessão da área.
Camargo contou que além desse encontro esteve outras duas vezes com Lobão, ainda quando este era ministro, para tratar da implantação das refinarias no Ceará e no Maranhão. Assim como nas reuniões com o Palocci a tentativa era da criação de um fundo garantidor. Afirmou ainda ter se encontrado com Roseana para tratar do mesmo assunto. Então governadora, ela teria manifestado apoio à ideia por interesses políticos. Disse não ter oferecido nem pago propina a Lobão ou Roseana.
Em relação ao senador Lindbergh Farias afirmou que o petista lhe procurou “insistentemente” em todas as campanhas em busca de doações. Camargo disse ter atendido o pedido uma única vez e “sem contrapartida”. Afirmou ainda ter conhecido o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), mas que não conseguiu marcar reunião com ele.
No caso de José Dirceu, o ex-consultor relatou terem acontecido mais de 20 encontros seus com o ex-ministro. Camargo contou que havia um modelo de negócios na Petrobras pelo qual conseguia financiamento para determinada obra e como contrapartida a Toyo era contratada para realizar o empreendimento. Afirmou que diante de uma sinalização de que haveria mudança desse modelo na Petrobras recorreu a Dirceu. O ex-ministro, então, teria feito lobby junto ao então presidente da companhia, José Sérgio Gabrielli. A gestão não teve sucesso e o modelo acabou alterado.
Camargo confirmou ainda ter cedido um avião de sua propriedade para viagens de Dirceu. Disse que o ex-ministro ofereceu ajuda para solucionar problemas na Venezuela, mas a Toyo não teria concordado.