Novo delator da Operação Lava Jato , o engenheiro Agosthilde Mônaco de Carvalho declarou à força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) que o ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró lhe disse que a compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, poderia “honrar compromissos políticos” do então presidente da estatal José Sérgio Gabrielli. “De acordo com as informações fornecidas por Nestor Cerveró, este negócio atenderia ao interesse de Gabrielli em realizar o Revamp [Renovação do Parque de Refino] e ao interesse da área internacional em adquirir a Refinaria”, declarou Mônaco.
Nesta segunda-feira (16) a Polícia Federal deflagrou a Operação Corrosão, 20.ª fase da Lava Jato. A nova etapa da investigação mira Pasadena, caso emblemático da corrupção instalada na Petrobras. Segundo o Tribunal de Contas da União, a compra da refinaria causou um prejuízo de US$ 792 milhões.
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Leia a matéria completaSegundo o delator, Cerveró afirmou que antes mesmo do fechamento do contrato de compra de Pasadena, “o presidente Gabrielli já havia indicado a Construtora Norberto Odebrecht para realizar o Revamp para 200.000 barris/dia”. “O diretor Nestor, em tom de desabafo, disse ao depoente que o presidente Gabrielli estava muito interessado em resolver o assunto e dar a obra do Revamp para a Odebrecht”, relatou.
Homem de confiança de Cerveró, o engenheiro Agosthilde Mônaco de Carvalho contou que no final de 2004 recebeu determinação do então diretor de Internacional para localizar refinarias de petróleo que estivessem à venda nos Estados Unidos para compra pela Petrobras. Segundo ele, na época era parte do plano estratégico da companhia o escoamento da produção excedente de petróleo para o exterior.
Agosthilde Mônaco de Carvalho afirmou que em janeiro de 2005, durante um telefonema com o presidente da Astra Oil, Alberto Failhaber, então proprietária de Pasadena, soube que a empresa tinha acabado de adquirir a refinaria e teria interesse em revendê-la.
“Nesta ligação o Sr. Alberto Failhaber, perguntado sobre as condições da refinaria, disse que a mesma precisava “tomar um banho de loja” para ficar nos padrões de qualidade técnica da Petrobras, uma vez que ela foi comprada na “bacia da almas”, posto que o antigo proprietário (Crown), por problemas financeiros, quase não mais investia em manutenção preventiva, os equipamentos estavam desgastados e mal conservados, tinham problemas de segurança operacional, a mão de obra desmotivada e, principalmente, sem crédito para aquisição de óleo, matéri- prima operacional”, declarou.
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Leia a matéria completaO delator contou à força-tarefa da Lava Jato que levou essas informações a Cerveró. Segundo ele, o então diretor da Petrobras disse, “abrindo um sorriso”: “Nós também podemos comprar esta refinaria na bacia das almas, pois a Astra, sendo uma empresa de trading, não tem estrutura técnica nem capital para fazer um adequado investimento, além do mais, se chegarmos a um acordo com ela (Astra), um Revamp da refinaria deixará bastante satisfeito o presidente da Petrobras, pois sei que ele tem alguns compromissos políticos a saldar, portanto com Pasadena mataremos dois coelhos com uma única cajadada: refinar o óleo de Marlim nos Estados Unidos e o presidente Gabrielli poder honrar seus compromissos políticos”.
O braço direito de Cerveró afirmou à força-tarefa da Lava Jato que uma comissão visitou a refinaria de Pasadena para avaliação. “Nesta visita, ocorrida entre os dias 29 a 31 de março de 2005, verificou que a mesma realmente encontrava-se em péssimas condições de conservação, se comparada às refinarias brasileiras, e que seriam necessárias várias reformas na refinaria para que ficasse em boas condições; que todos os membros da comissão observaram que a refinaria não estava em boas condições; que foi elogiada a localização física, mas não a condição operacional da refinaria; que ao retornar ao Brasil comunicou esses fatos ao diretor Nestor e recebeu a mesma informação, ‘não se meta, Mônaco, isso é coisa da Presidência’“.
Agosthilde Mônaco de Carvalho declarou ainda que Cerveró lhe mostrou um e-mail, datado de 25 de maio de 2006, encaminhado pelo então diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque - braço do PT na estatal - no qual “o responsável da Construtora Norberto Odebrecht relata o convite às outras construtoras para dividirem a obra de Revamp da refinaria de Pasadena”.
“As outras construtoras convocadas para a rodada eram Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e Ultratec; que o sr. Alberto Failhaber contou ao depoente, em uma das visitas que fez à sede da Petrobras, que tentaram ‘empurrar goela abaixo’ o Revamp de 200.000 barris/dia e a contratação da Construtora Norberto Odebrecht para fazer a obra”, relatou o delator.
Procurado na manhã desta segunda-feira (16), o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli não se manifestou.
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