Repar, em Araucária: suspeitas atingem reforma na refinaria| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Ministro do STF envia à Procuradoria indícios envolvendo Meurer

O ministro Teori Zavaski, relator das ações sobre a Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), remeteu ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o caso do deputado Nelson Meurer (PP-PR). Zavaski quer que Janot tome as providências que julgar cabíveis – como um eventual pedido de abertura de inquérito – para que as investigações prossigam.

Durante o recesso do Judiciário, em janeiro, chegou ao STF trecho de investigação em que Meurer é citado como beneficiário do esquema de corrupção e lavagem de dinheiro. O juiz Sérgio Moro, que conduz o caso no Paraná, afirmou em despacho que a Polícia Federal encontrou lançamentos efetuados a título de ‘Nelson’ e ‘Nelson Meurer’ nos anos de 2008 e 2009. O caso foi enviado ao STF em razão do foro privilegiado do deputado. Os lançamentos, segundo o juiz, podem ser referentes a pagamentos feitos pelo doleiro Carlos Habib Chater ao parlamentar, a pedido de Alberto Youssef. O deputado nega as acusações e diz desconhecer Chater.

Estadão Conteúdo

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O empresário Julio Camargo, um dos delatores da Operação Lava Jato, afirmou em depoimento à Justiça Federal, em Curitiba, que pagou R$ 12 milhões em propina ao ex-diretor da área de Engenharia e Serviços da Petrobras Renato Duque e ao ex-gerente Pedro Barusco por uma obra na refinaria Getúlio Vargas (Repar), em Araucária, na região metropolitana de Curitiba. Mas há indícios de que Duque, que foi indicado ao cargo pelo PT, pode ter recebido ainda mais pela reforma na Repar, segundo as investigações.

Documentos apreendidos com Camargo em novembro sinalizam que a verba repassada a Duque pelas obras na refinaria pode chegar a pelo menos R$ 18 milhões. Foram recolhidos contratos de prestação de serviço entre empresas de Camargo e empreiteiras que estão sendo investigados sob a suspeita de dissimularem propina.

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Além disso, o mesmo esquema foi relatado pelo executivo Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, outro delator, que firmou pelo menos seis contratos para esquentar parte da propina de até R$ 60 milhões que ele diz ter pago a Duque. Os contratos eram entre empresas de fachada ligadas ao escândalo da Construtora Delta, em 2012, com empreiteiras ou empresas dos delatores. Dois deles somam R$ 2,96 milhões e se referem à Repar.

O dinheiro, segundo delatores, seria lavado em depósitos no exterior, pagamentos em dinheiro vivo e em doações de campanha para partidos da base aliada do governo.

No depoimento, Camargo citou um contrato de R$ 2,4 bilhões firmado com o consórcio CCPR, formado pelas empresas Camargo Corrêa e Promon. Apesar de dizer que a praxe era pagar o "pedágio" de 1% do valor total do contrato, ele afirmou ter destinado R$ 12 milhões para propina, ou seja, 0,5% do valor da obra.

O empresário afirmou que atuava apenas com a diretoria de Duque. E que a intermediação com a diretoria de Abastecimento, de Paulo Roberto Costa, teria ficado a cargo de Eduardo Leite, vice-presidente da Camargo Corrêa que foi preso em 2014.

Entre os documentos de Camargo recolhidos pela Polícia Federal (PF), aparece um contrato de uma empresa do executivo, a Treviso Empreendimentos, com a construtora Camargo Corrêa, no valor de R$ 12 milhões, de 2009 – data em que o contrato na Repar foi fechado. A PF também apreendeu um termo aditivo, de 2010, sem valor específico. Em outro aditivo, de 2011, o valor é ampliado para R$ 18 milhões.

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Em mais um contrato apreendido, outra empresa de Camargo, a Auguri, fechou acordo com o consórcio Interpar (formado pelas empresas Setal Óleo e Gás, MPE e Mendes Júnior), também para obras na Repar. Não há valor especificado.

Os contratos do consórcio CCPR e da Interpar têm indícios de superfaturamento, de acordo com o Tribunal de Contas da União. O sobrepreço nesses dois acordos seria de pouco mais de R$ 1 bilhão.

Duque chegou a ser preso em 2014, mas foi solto em seguida. Na semana passada, o procurador geral da República, Rodrigo Janot, recomendou ao STF que mande prendê-lo por risco de fuga do país.

Outro lado

A defesa de Duque disse que ele "refuta o recebimento de propinas, bem como qualquer interferência em doações de campanha feitas por empresas a partidos políticos ou políticos". As empresas citadas não responderam à reportagem.

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