O deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) pagou US$ 300 mil em propina para o ex-ministro Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) a partir de desvios de contratos da Carioca Engenharia e outras empresas financiadas com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), segundo indicam as investigações do Ministério Público.
O dinheiro teria sido depositado numa conta do ex-ministro na Suíça no período em que ele era presidente da Câmara e Cunha ocupava o cargo de líder do PMDB.
Henrique Eduardo Alves deixou o Ministério do Turismo em 16 de junho depois de ter sido denunciado pelo procurador-geral Rodrigo Janot ao Supremo Tribunal Federal por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. As informações sobre o suposto pagamento de propina de Cunha a Henrique Eduardo Alves apareceram inicialmente nas delações dos empresários Ricardo Pernambuco e Ricardo Pernambuco Júnior, donos da Carioca Engenharia. Os dois confessaram terem feito pagamentos em várias contas na Suíça a pedido de Cunha.
As informações dos dois empresários foram reforçadas pela delação de Fábio Cleto, ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal ligado a Cunha, Henrique Eduardo Alves e ao corretor Lúcio Bolonha Funaro. Num dos depoimentos, Cleto disse que recebeu dinheiro de propina numa conta na Suíça depositado pela Carioca Engenharia a partir de uma negociação com Cunha. Com base nas três delações e informações repassadas pelo Ministério Público da Suíça, uma das outras contas indicadas por Cunha a Carioca era do ex-ministro do Turismo.
Nos documentos tornados públicos até o momento, a Procuradoria-Geral da República não informa quais seriam as razões do suposto pagamento de propina de Cunha a Henrique Eduardo Alves. Mas demonstram estreitas relações entre os dois e Fábio Cleto, réu confesso no desvios de dinheiro de obras financiadas com recursos do Fundo de Investimentos (FI) do FGTS. Pelas investigações, Cleto foi indicado em 2011 para uma das vice-presidências da Caixa a partir de um acerto entre Cunha, Henrique Alves e Lúcio Funaro.
A pedido de Henrique Alves, que queria indicar um dos vice-presidentes da Caixa, Cunha recorreu a Funaro. O corretor, então, indicou Cleto que, logo depois, foi nomeado para um cargo estratégico para o segundo maior banco público do país. A partir da vice-presidência, Cleto passou a reter ou acelerar projetos de financiamentos do FI de acordo com interesses de Cunha, com quem despachava regularmente. Segundo ele, o deputado cobrava ficava com 80% da propina paga por empresas interessadas nos recursos do FI.
Pelo menos 12 empresas teriam repassado propina a Cunha, Cleto e Funaro em troca de facilidades na liberação de recursos. Num primeiro momento, cabia a Funaro repassar parte do dinheiro para Cleto. Mas depois de uma briga entre os dois, Cunha teria assumido o papel de pagar as “dívidas” com Cleto. A partir daí, teria pedido a Carioca para fazer depósitos numa conta do ex-vice-presidente da Caixa na Suíça. Teria usado o mesmo expediente também para repassar dinheiro a Eduardo Alves.
As investigações sobre o ex-ministro estão sendo abastecidas também por informações do Ministério Público da Suíça. Recentemente, procuradores suíços repassaram ao Ministério Público no Brasil dados sobre uma conta bancária do ex-ministro, onde estavam depositados 800 mil francos. Não está claro ainda se a conta é mesma que teria sido indicada por Cunha para receber dinheiro da Carioca Engenharia.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Deputados da base governista pressionam Lira a arquivar anistia após indiciamento de Bolsonaro
Enquete: como o Brasil deve responder ao boicote de empresas francesas à carne do Mercosul?
“Esmeralda Bahia” será extraditada dos EUA ao Brasil após 9 anos de disputa