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Delcídio do Amaral, ex-PT e PSDB | Beto Barata/Agência Senado/Arquivo
Delcídio do Amaral, ex-PT e PSDB| Foto: Beto Barata/Agência Senado/Arquivo

O ex-senador Delcídio do Amaral disse, em depoimento à Justiça Federal nesta segunda-feira (21), que acha “surreal” o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmar que não sabia que havia um esquema de pagamento de propina montado nas diretorias da Petrobras para sustentar partidos políticos. Ex-líder do governo Dilma e agora delator da Operação Lava Jato, Delcídio foi ouvido como testemunha de acusação no processo em que Lula foi denunciado pela suspeita de receber como propina um tríplex no Guarujá, no litoral de São Paulo, da construtora OAS. O ex-presidente alega que nunca teve a posse deste apartamento.

“Queria só registrar. Ele vai dizer assim: “Eu não sei”. A classe política e a torcida do Flamengo inteira sabiam disso aí (corrupção na Petrobras). Toda a classe política sabia. É uma coisa até surreal esse tipo de afirmação”, disse o ex-senador.

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Apesar disso, Delcídio disse que nunca conversou diretamente com Lula sobre o esquema de pagamento de propinas na estatal e que não teria como apresentar provas de suas afirmações. Primeira testemunha a depor no processo contra ao ex-presidente, o delator disse que, após o escândalo do mensalão, o governo buscou ampliar sua base de apoio no Congresso e aceitou a entrada de partidos como PP e PMDB. Esses partidos passaram, então, a indicar nomes para cargos importantes.

Para o ex-senador, Lula escapou de ser responsabilizado do mensalão por causa desse acordo político. “O presidente Lula, no mensalão, usou a tese do não sabia e só escapou por causa de um acordo político que votou o relatório da CPI. Mas agora é muito difícil que prevaleça a desculpa do não sei”.

Ao ser questionado se, em troca das indicações, os diretores da Petrobras tinham que arrecadar propina para os partidos que os sustentavam, Delcídio respondeu que sim. “Sem dúvida nenhuma. Existia uma estratégia montada para bancar as estruturas partidárias. Isso é inegável”.

Quando o procurador Diogo Castor de Mattos perguntou “qual era o grau de ingerência do ex-presidente nesse esquema de distribuição de propinas”, o ex-senador petista respondeu que Lula não conhecia detalhes. “O presidente não entrava nos detalhes, mas ele tinha um conhecimento absoluto de todos os interesses que rodeavam a gestão da Petrobras, as diretorias e os partidos que apoiavam os diretores”.

Questionado pelos advogados de Lula sobre se teria provas de suas afirmações sobre o conteúdo das reuniões de Lula no Palácio do Planalto, Delcídio afirmou que, quando prestou seu depoimento no acordo de colaboração, disse que aquele seria um “depoimento de político”.

“Eu não tenho planilha. Eu tenho os fatos de alguém que foi líder do governo, que participava ativamente do dia a dia do Congresso e que conversava não só com a maioria dos partidos mas com os diretores. Se não me contassem as conversas de Palácio do Planalto, eu sabia por outras vias sempre”, afirmou.

Delcídio do Amaral, que já foi diretor da Petrobras durante o governo Fernando Henrique, também respondeu perguntas sobre o seu período na estatal. A defesa de Lula perguntou a Delcídio sobre uma afirmação em um dos termos do seu acordo de colaboração e fazia comparações entre a corrupção na Petrobras durante os dois governos.

Em outro momento do seu depoimento, Delcídio respondeu a perguntas do juiz Sergio Moro sobre seu envolvimento em um estratagema para tentar evitar a delação do ex-diretor de Internacional Nestor Cerveró. Moro quis saber se Lula também esteve envolvido nesse caso.

“Na verdade, o ex-presidente, numa das conversas que tive com ele, manifestou preocupação muito grande com o José Carlos Bunlai. E eu disse a ele que, principalmente em relação à delação do Nestor Cerveró. Aí, conversei com o Maurício Bumlai, filho do José Carlos Bulai, que é uma pessoa que frequenta a minha casa, sobre essas questões. Aí, surgiu esse processo de obstrução de Justiça, que eu não tenho dúvida nenhuma, vai surgir comprovado até sob o ponto de vista financeiro”, disse o ex-parlamentar.

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