Uma conversa gravada pelo filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, Bernardo Cerveró, mostra que o senador Delcídio Amaral (PT-MS), preso nesta quarta-feira (25) em Brasília, pretendia interceder junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) para colocar o ex-diretor em liberdade. A estratégia de Amaral, de acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR), seria conseguir um habeas corpus para Cerveró e em seguida promover a fuga do ex-diretor do país.
Segundo a PGR, Amaral teria prometido “interceder junto ao Poder Judiciário – perante ministros do STF em favor de Nestor Cerveró”. Em uma reunião realizada no dia 4 de novembro em Brasília, o senador afirmou que já teria abordado os ministros Teori Zavascki e Dias Toffoli sobre o assunto. “Revela, ainda, a firme intenção de conversar com o ministro Edson Fachin, bem como de promover interlocução do senador Renan Calheiros (PMDB) e do vice-presidente Michel Temer (PMDB) com o ministro Gilmar Mendes”, diz a PGR no pedido de prisão. A reunião foi gravada por Bernando Cerveró, filho do ex-diretor. O chefe de gabinete do senador Delcídio Amaral, Diogo Ferreira, também participou da reunião.
Segundo a PGR, Amaral pretendia ainda interceder junto ao ministro Edson Fachin em relação a um habeas corpus que discute a anulação do acordo de colaboração premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. O recurso está com vista para o ministro paranaense. De acordo com o advogado de Cerveró, “concedida a ordem de impetração, a operação Lava Jato seria em boa medida anulada”.
Fuga
De acordo com a PGR, na mesma reunião gravada pelo filho de Cerveró, foi discutida uma rota de fuga para o ex-diretor, caso ele conseguisse um habeas corpus. “Eles contemplam, ostensivamente, a finalidade de evitar nova custódia cautelar e a violação de dispositivo pessoal de monitoramento eletrônico”, diz a PGR no pedido de prisão do senador.
Amaral teria sugerido que Cerveró fugisse pelo Paraguai e em seguida usasse a aeronave “Falcon 50” para se deslocar até a Espanha. O uso da aeronave foi sugerida pelo senador porque não seria necessário parar para reabastecer. Cerveró possui cidadania espanhola – um dos motivos que levou a Polícia Federal a pedir sua prisão preventiva, no início do ano.
Ajuda de custo
De acordo com a PGR, o senador também teria oferecido R$ 50 mil mensais para Bernardo Cerveró, como uma “ajuda de custo” para a família do ex-diretor para que ele não “entabulasse acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal”. O senador também prometeu R$ 4 milhões em honorários para o advogado Edson Ribeiro, para que ele auxiliasse Amaral.
Ex-diretor
O ex-diretor Nestor Cerveró foi preso em janeiro deste ano, no Rio de Janeiro, ao voltar com a família de uma viagem ao exterior. Ele é acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) de receber propina enquanto diretor da área internacional da Petrobras referente à aquisição de dois navios-sonda. Ele já foi condenado pelo juiz federal Sergio Moro a 12 anos de prisão. Em outro processo, acusado de lavagem de dinheiro, Cerveró foi condenado a mais 5 anos de prisão.