O senador Delcídio do Amaral (PT-MS), líder do governo preso por tentar obstruir as investigações da Operação Lava Jato, teve nove encontros com o delator Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC, após a deflagração da fase ostensiva das apurações, em março de 2014, com as primeiras prisões e revelações do esquema de cartel e corrupção na Petrobras. A informação faz parte de uma lista de reuniões agendadas com políticos, empresários e lobistas entregue pelo empresário em seu acordo de colaboração assinado com a Procuradoria-Geral da República (PGR).
São ao todo 30 encontros agendados com Pessoa entre os anos de 2011 e 2014. A maior parte deles em 2013 e 2014, quando seria tornada pública a maior investigações já realizada na Petrobras pelo Ministério Público Federal e Polícia Federal.
“Agenda Ricardo Pessoa ano 2014 - Encontrados os seguintes nomes, alguns que se repetem inúmeras vezes ao longo do ano, entre outros que podem eventualmente interessar”, registra o acordo de delação de Pessoa, homologado pelo Supremo Tribunal Federal. O documento foi tornado público pelo relator da Lava Jato no STF, ministro Teori Zavascki, na semana passada.
Em 2014, há o registro de 11 encontros com o senador preso na quarta-feira, 25, junto com o banqueiro André Esteves, dono do BTG Pactual, e o advogado do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, Edson Ribeiro. Eles são acusados de tentarem comprar o silêncio do ex-diretor, para que ele não fechasse acordo de delação com a PGR, e ainda oferecerem rotas de fuga do País.
Tanto em 2013 como em 2014 os supostos encontros registrados pelo dono da UTC com Delcídio cobrem quase todos os meses do ano, com algumas exceções. Pessoa ainda fez constar em sua delação o registro de reservas que fez para jantares no “Restaurante Charlô” para “realização de reuniões privadas”. Uma delas no dia 1 de março de 2012 como o senador Delcídio para um jantar marcado para as 8h30.
Pessoa não incriminou Delcídio em nenhum dos 29 termos de delação fechados com a PGR e homologados pelo STF. Os dois principais deles dando conta do pagamentos de doações para as campanhas presidenciais de Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006.
O nome do senador foi citado, no entanto, por outro delator. O lobista Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, afirmou em sua delação premiada que a manutenção do engenheiro Nestor Cerveró na Diretoria Internacional da Petrobras era sustentada pelo senador Delcídio Amaral (PT/MS). Baiano, supostamente ligado ao PMDB, é acusado de ser um dos operadores de propina no esquema de corrupção instalado na estatal petrolífera entre 2004 e 2014.
Em depoimento à PGR, em 9 de setembro deste ano, o lobista citou o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil/Governo Lula) como parte das negociações para a indicação de Cerveró ao cargo. Segundo Fernando Baiano, ele e o ex-diretor tinham uma “relação de amizade”.
“De acordo com informação repassada ao depoente pelo próprio Nestor Cerveró, ele foi nomeado para a Diretoria Internacional da Petrobras, em 2003, por indicação de Delcídio Amaral. Pelo que o depoente sabe, a indicação e nomeação de Cerveró foram tratadas com o então ministro da Casa Civil José Dirceu. Na época se dizia que todas as nomeações de diretores da Petrobras passavam pela Casa Civil da Presidência da República”, afirmou.
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