Delcídio do Amaral falou à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.| Foto: Beto Barata/Agência Senado

Em sua defesa na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, o senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS), que enfrenta um processo de cassação de mandato, disse que não roubou, não desviou dinheiro nem tem conta no exterior. A votação sobre a cassação foi adiada novamente.

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Ele assumiu seus erros, mas disse que as acusações de obstrução de Justiça ocorrem por atos que ele tomou como líder do governo a mando de outras pessoas.

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Delcídio foi preso em novembro do ano passado após tentar atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato, e foi solto em fevereiro, depois de firmar acordo de delação premiada. Na delação, Delcídio disse que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.

“Curioso. Vossas Excelências, se olharem o processo como um todo, eu não roubei, não desviei dinheiro, não tenho conta no exterior. Eu estou sendo acusado de quê? De obstrução de justiça. Obstrução de justiça, quando, como líder do governo, inadvertidamente, e volto a repetir aqui, peço desculpas, errei, mas agi a mando. E posso falar de maneira convicta. Sou testemunha disso. E os fatos estão comprovando, apesar das negativas, isso que eu falei. Tudo isso parece um filme que mais do que nunca autentica inapelavelmente aquilo em que fui ator principal. Naquilo que fui ator principal, eu afirmo e reafirmo o que fiz. E assumo a responsabilidade dos meus erros, mas quero registrar mais uma vez: eu não roubei, não desviei dinheiro”, disse Delcídio.

Ele reclamou que o processo de cassação contra ele no Senado é “inacreditavelmente célere”, diferentemente de outros no passado, como contra o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), e contra o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP). Delcídio disse que não teve acesso aos autos do processo contra ele no Supremo Tribunal Federal (STF), que trata da tentativa de comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, que viria a firmar acordo de delação premiada para colaborar com as investigações da Lava Jato.

“Se conduz o processo de cassação sem sequer ter acesso aos autos e, pior, ao aditamento que surgiu na semana passada. Queimando-se etapas assim, numa celeridade inacreditável. Estou aqui há 13 anos, e nunca vi tanta celeridade. Aqui, participei de reuniões do Conselho de Ética, quando iam cassar o presidente Sarney, quando iam cassar o presidente Renan. Eu me lembro bem como as coisas aconteceram. Ninguém precisa contar história para mim para saber como as coisas funcionam. Eu tenho absoluta noção, eu tenho 13 anos vivendo nesta Casa. Não é pouco não. É uma existência”, disse Delcídio.

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Ele começou sua fala pedindo desculpas por seus erros e agradeceu a família, que o apoiou e enfrentou problemas nos últimos meses. O senador quase chorou quando falou das filhas, que, segundo ele, sofreram bullying.

“Quero pedir desculpas pelo que causei, pelos constrangimentos que causei. Não só aos senadores, mas ao povo brasileiro, ao povo do meu estado, Mato Grosso do Sul”, disse Delcídio, acrescentando: “Aquilo que passei não desejaria a nenhum adversário meu.”

Ele também defendeu seu ex-chefe de gabinete, Diogo Ferreira, que foi preso com ele, e o ex-assessor de imprensa, Eduardo Marzagão. Ambos foram demitidos de seus cargos no Senado. Segundo ele, a mulher de Ferreira perdeu um filho poucos dias depois da prisão.

“Quando tudo aconteceu, eu imediatamente isentei Diogo de qualquer responsabilidade. Se ele agiu de uma forma inadequada, agiu porque eu determinei”, disse Delcídio, completando: “Num fato inusitado, meu chefe de gabinete foi demitido, quando a decisão judicial não dizia isso, não falava isso. A decisão me proibia de conversar com meu chefe de gabinete.”

Ele negou que tenha mandado Marzagão gravar uma conversa com o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Nela, Mercadante oferece ajuda ao senador Delcídio do Amaral, para supostamente barrar sua delação premiada.

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“Eu ouvi em algumas situações falar que mandei Marzagão gravar conversas do ministro. Não é verdade. Eu soube a posteriori. E não fui contra não, porque entendi as razões dele”, disse Delcídio.

O senador disse que sua defesa é forte. Ao chegar ao Senado afirmou que estava se sentindo bem: “Eu me sinto bem, é bom rever as pessoas.”