O inquérito policial instaurado pela Delegacia de Delitos de Trânsito (Dedetran) para investigar as causas do acidente de trânsito que deixou o deputado estadual Fernando Ribas Carli Filho (PSB) gravemente ferido e provocou a morte de dois jovens, deve ter novidades na próxima semana. O delegado titular, Armando Braga de Moraes, responsável pelo inquérito, afirmou ontem que vai solicitar à Urbs as imagens de um radar próximo do cruzamento no qual ocorreu o acidente para saber a velocidade do carro dirigido pelo deputado.
Membros da equipe do Batalhão da Polícia de Trânsito que atenderam o local do acidente afirmaram que o velocímetro do carro do deputado estava travado em 190 quilômetros por hora. Braga não confirma a informação e diz ter visto o velocímetro em zero no pátio no qual o veículo está recolhido.
A diretora de trânsito da Urbs, Rosangela Battistella, disse que só cede as imagens sob autorização judicial ou da polícia.
A primeira conclusão do delegado no inquérito é de que não há indícios de racha ou de outro carro envolvido no acidente.
Sangue
Os dois rapazes que morreram, Gilmar Rafael Souza Yared, de 26 anos, e Carlos Murilo de Almeida, de 20, tiveram amostras de sangue coletadas para a realização da análise de dosagem alcoólica. "É praxe do Instituto Médico Legal (IML) realizar a dosagem alcoólica sempre que há óbito no local", explicou o delegado Armando Braga de Moraes Neto, titular da Dedetran.
O deputado Carli, no entanto, não foi submetido a exames de dosagem alcoólica ou toxicológico. A delegacia informou que só solicitaria o exame se houvesse forte suspeição do uso de substâncias que alteram a consciência. "No caso do deputado, não foi feita a dosagem alcoólica porque ele foi hospitalizado e recebeu estabilização através de procedimentos de medicação. Sempre que qualquer pessoa recebe qualquer medicação quando dá entrada na casa hospitalar, o exame de dosagem alcoólica fica inviabilizado, prejudicado, mascarado", argumentou o delegado.
Segundo o diretor técnico do Hospital Evangélico, Luiz Felipe Mendes, não é de praxe realizar os exames quando a vítima chega após acidente de trânsito. "Geralmente a polícia solicita quando há inquérito policial, mas não recebemos nenhum pedido", afirmou.
O exame de dosagem alcoólica pode detectar indícios de 12 a 24 horas após a ingestão de bebidas. No caso do exame toxicológico, ainda poderia ser feito através da coleta de amostras de sangue.
Um outro procedimento realizado no hospital não teria constatado nada anormal. "Foi feita uma endoscopia digestiva no deputado e não havia indícios de álcool ou drogas, só restos alimentares", afirmou Felipe Mendes.
Leve melhora
A avaliação da equipe médica que cuida do deputado é de que houve uma leve melhora no quadro de Carli Filho, que continua em coma. Baseado na escala de Glasgow, que mede o nível de consciência do paciente após lesão cerebral, o deputado passou de seis pontos para oito. Nessa escala, a pontuação vai de 3 (morte iminente) a 15 (estado normal). "Dentro da gravidade, está com uma evolução satisfatória. Houve melhora, mas o risco é sério porque foi um trauma grave", disse o neurocirurgião José Antonio Maigué.
Embora tenha apresentado melhora, os médicos não afastam o risco de complicações, que podem ocorrer num prazo de 72 horas, o período mais crítico após traumatismos cranianos. "Estamos confiantes porque não há indício de morte cerebral, mas podem surgir edemas e eventuais surpresas. A primeira batalha está quase vencida, mas a guerra não", afirmou o neurocirurgião Affonso Antoniuk, médico da família que está acompanhando o caso.
Aparelhos
A cada quatro horas, o deputado está sendo reavaliado pela equipe médica. Carli Filho respira com a ajuda de aparelhos por meio de uma traqueostômia e se alimenta por meio de sonda conectada diretamente ao estômago.
O deputado foi submetido a uma cirurgia para correção "inicial" das fraturas na face, mas segundo os médicos, haverá necessidade de outras intervenções porque as lesões foram graves. "Mas não houve desfiguramento da face, apenas cortes e hematomas, na altura dos olhos e da testa", explicou Felipe Mendes.
A equipe médica afirmou ainda que é cedo para avaliar se o deputado ficará com sequelas. Nas tomografias feitas no resto do corpo não foi encontrada nenhuma lesão ou trauma, o que poderia complicar a recuperação.
Choque
Muito abalado com o acidente, o pai do deputado e prefeito de Guarapuava, Fernando Ribas Carli (PP), afirmou ontem que não tem ideia do que ocorreu na madrugada de quinta-feira e que só soube da tragédia na quinta-feira pela manhã.
Carli ligou várias vezes para o celular do filho, mas como não obteve resposta começou a procurar nos hospitais. "Alguma coisa deve ter acontecido para ele sair de casa naquela hora porque estava no caminho de volta. Não sabemos o que aconteceu e não temos como saber", disse Ribas Carli.
A mãe e avó de Carli Filho devem chegar hoje ao Brasil. Elas estavam fazendo um cruzeiro pela Europa.
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