O presidente da Costa Rica, Luis Guillermo Solís, e integrantes de outras delegações de países latino-americanos abandonaram nesta terça-feira (20) o plenário da Assembleia Geral da ONU, negando-se a ouvir o discurso do presidente Michel Temer (PMDB).
O gesto de Solís foi registrado em vídeo, onde é possível ver o presidente saindo do plenário junto de seu ministro das Relações Exteriores, Manuel González.
Por sua parte, o chanceler do Equador, Guillaume Long, informou em seu Twitter que várias delegações fizeram a mesma coisa.
“Equador, Costa Rica, Bolívia, Venezuela, Cuba, Nicarágua saem do debate geral da Assembleia Geral da ONU quando Michel Temer tomou a palavra”, postou Long.
A chancelaria da Costa Rica emitiu uma nota oficial onde confirmou a decisão de não ouvir a mensagem de Temer.
“Nossa decisão, soberana e individual, de não ouvir a mensagem do senhor Michel Temer na Assembleia Geral, obedece a nossa dúvida de que, ante certas atitudes e atuações, se queira dar lições sobre práticas democráticas”, expressou a chancelaria.
Até o momento, a reportagem ainda não conseguiu falar com as embaixadas destes países para confirmar o protesto.
Em seu discurso, Michel Temer fez uma defesa da situação política do país e da legalidade do impeachment.
“Não há democracia sem Estado de direito, sem normas que se apliquem a todos, inclusive aos mais poderosos. É o que o Brasil mostra ao mundo. E o faz em meio a um processo de depuração de seu sistema político”, disse o presidente, que recebeu aplausos apenas ao final de seu discurso de 20 minutos, cinco a mais do que o estabelecido.
Temer lembrou ainda que o país “acaba de atravessar processo longo e complexo, regrado e conduzido pelo Congresso Nacional e pela Suprema Corte brasileira, que culminou em um impedimento” (de Dilma Rousseff).
“Tudo transcorreu dentro do mais absoluto respeito à ordem constitucional”, disse Temer, que completou: “Temos um Judiciário independente, um Ministério Público atuante, e órgãos do Executivo e do Legislativo que cumprem seu dever. Não prevalecem vontades isoladas, mas a força das instituições, sob o olhar atento de uma sociedade plural e de uma imprensa inteiramente livre”.
O presidente brasileiro também não encontrou com o presidente americano, Barack Obama durante a Assembleia da ONU. Obama foi o segundo a discursar no evento, seguido do brasileiro, mas se atrasou. Como não há reunião bilateral marcada — pois nenhum dos dois lados pediu, segundo o governo brasileiro — Temer perdeu a oportunidade de um encontro casual com o americano na Assembleia Geral da ONU.