A polícia foi rigorosa com a espanhola Violeta Martinez Rodrigues, 70 anos, que acumulava 250 toneladas de lixo em seu sobrado de 600 metros quadrados na Rua João Cachoeira, no Itaim Bibi. A idosa, que foi à delegacia acompanhada pelo filho, Juan Rodrigues Martinez, foi indiciada nesta segunda-feira por colocar em risco a saúde pública, violação de medida sanitária e porte de material explosivo sem autorização, pois foram achados no meio dos entulhos 24 frascos de pólvora.
Para a delegada Maria Aparecida Corsato, do 15º Distrito Policial, não houve excesso por parte da polícia. Para ela, a situação exigia o arrombamento imediato da casa.
- O interesse público prevalece sobre o interesse particular. A casa era uma ameaça à saúde pública - disse a delegada.
Violeta é viúva e tem dois filhos adultos. A maioria do entulho foi coletado na rua nos últimos 20 anos e guardado por ela na casa. Tudo empilhado do chão ao teto.
Segundo Maria do Carmo Giordano Ribeiro, 55 anos, vizinha da idosa, Violeta começou a catar lixo na rua após a morte do marido. Maria do Carmo, que vive num sobrado geminado à casa da espanhola, contou que Violeta passou a morar sozinha quando seus filhos se casaram.
- Ela pega lixo até de carroceiros, que já saíram correndo atrás dela. Era muito cheiro ruim e muitos ratos na casa dela - disse.
Vizinhos disseram que a idosa costuma se alimentar dos restos das feiras semanais da rua e vaga pela região à noite catando lixo.
Na casa, a polícia encontrou 19 imóveis no nome dela, todos na capital e no interior, e até mesmo dinheiro antigo da Espanha. Vários imóveis da capital são na Vila Olímpia, um dos bairros mais valorizados de São Paulo, onde as antigas casas foram compradas e deram lugar a prédios de escritórios. Ela também já foi dona de confecção e loja na Rua 25 de Março.
Até mesmo o pagamento dos impostos dos imóveis foram verificados pela polícia, que informou que todos estão em dia.
Na delegacia, Violeta estava inconformada com sua autuação. Esmurrava com força a mesa na sala onde prestava depoimento toda vez que a delegada a deixava sozinha.
- Não é justo - dizia.
Para ela, não havia lixo em sua casa.
- São coisas minhas, meus documentos.
Violeta disse que a polícia não tinha o direito de invadir a residência. Seu filho Juan Rodrigues Martinez tentava acalmá-la, mas também estava surpreso com a situação. Ele admitiu que havia 'um pouco de lixo' na residência de sua mãe, mas também achou descabida e exacerbada a ação policial.
- Foi uma invasão. Temos muitas coisas importantes naquela casa e não sei como vamos recuperá-las, agora que tudo foi levado como lixo.
Segundo a delegada Maria Aparecida Corsato, do 15º Distrito Policial, os funcionários da Prefeitura que recolhiam o lixo receberam a orientação de separar documentos, material de aço e outros objetos que poderiam ser desinfetados.